Jornal Estado de Minas

Voluntários oferecem esperança a atingidos pela chuva em Minas

Grupos solidários se organizam, arrecadam donativos e atendem famílias que perderam quase tudo nas enchentes. Jipeiros vencem trechos intransitáveis para levar comida a vítimas ilhadas

Valquiria Lopes

  Luciano Franco e Ângelo Simão recolheram colchões, alimentos, roupas, agasalhos e produtos de limpeza para vítimas das inundações em Belo Vale - Foto: Beto Magalhães/EM/DA. Press

 

Chegar a locais onde a água e a lama deixaram pessoas ilhadas, com fome e desesperadas, tem movido grupos de voluntários em municípios atingidas pelas chuvasEsse é o trabalho cotidiano de muita gente que parou suas atividades para recolher e levar donativos, materiais de limpeza e de higiene, além de uma dose de solidariedade, que arranca sorrisos em meio ao sofrimento e à dorMuitos voluntários têm enfrentado situações adversas de chuva e estradas interrompidas, na esperança da diminuir as dificuldades de famílias que sentem na pele os estragos dos temporais em Minas.

E para quem está com fome, sede, sem roupa e esperança, o que mais importa é quando a ajuda chegaEm Brumadinho, na Grande BH, onde 12 povoados estão ilhados devido à cheia do Rio Paraopeba, um grupo de 10 jipeiros tem vencido  trechos aonde os veículos da Defesa Civil não chegam para levar comida, roupas e apoio a quem precisa“São famílias inteiras em situação precáriaEstão ilhadas, sem alimentos e água potávelPelo menos metade perdeu tudo em casa”, conta o voluntário Raniare Júnior Morais, de 34 anos, que desde segunda-feira percorre povoados de Brumadinho com voluntários da organização não governamental Abrace a Serra da Moeda e do Jeep Clube Minas Gerais“A gente sai cedo e só volta de madrugada, porque as estradas estão muito ruinsO trabalho é muito gratificanteÉ bom sair e ver que pudemos ajudar alguém”, conta.

Outra movimentação de jipeiros é feita na capital para amenizar o fim de semana de quem sofre com alagamentosÀ frente do planejamento, o aposentado Oduvaldo Reis, de 60, busca roupas, cestas básicas e colegas com carros off road para levar socorro a vítimas

“O trabalho consiste em fazer sem esperar nada em troca”, diz Reis.

Tragédia

Belo Vale, na Região Central, também está na rota do voluntariado da chuvaDa capital, o empresário Ângelo Simão se mobiliza para levar colchões, alimentos, material de limpeza, roupas e agasalhos para as vítimas que perderam tudo com as enchentes“Já fiz esse trabalho em outros anos e me sinto gratificadoPara mim, chega a ser uma forma de agradecimento por estar bem e confortável mesmo diante de tantas tragédiasMe sinto na responsabilidade de fazer isso por alguém que está em dificuldade”, afirma o empresárioO recolhimento dos donativos teve início nessa quinta-feira e vai durar até a manhã de sábado, quando ele vai para Belo ValeQuem quiser fazer doações pode ligar para os telefones 3344-7955 ou 8767-2711

Para quem convive diariamente com situações de risco e de tragédias, o apoio dos voluntários é considerado fundamentalDe acordo com o coordenador municipal de Defesa Civil da capital, coronel Alexandre Lucas Alves, o trabalho dos voluntários é importante e pode ser feito durante todas as épocas do anoNa capital, ele destaca a atuação dos núcleos de Defesa Civil (Nudecs) e de Alerta de Chuvas (NACs)
O primeiro trabalha prevenção e risco geológico, enquanto os voluntários do NAC avisam comunidades inteiras e mobilizam a retiradas de pessoas de áreas de risco diante de uma alerta de chuva forte e inundação

O chefe da assessoria de comunicação do Corpo de Bombeiros, coronel Edgard Estevão da Silva, destaca a importância do trabalho de associações, escoteiros, jipeiros, profissionais de saúde e de todos que se dispõem a ajudar vítimas, mas faz um alerta: “Não recomendamos que as pessoas se envolvem em atividades que coloquem suas vidas em riscoDiante de qualquer situação de perigo, os bombeiros devem ser acionados”.