A situação de risco de várias regiões de BH, inclusive áreas nobres, e a previsão de mais temporais até terça-feira deixam a capital em alerta contra desabamentos. Moradores dos bairros Buritis, Mangabeiras e Caiçara estão preocupados. No fim da tarde de ontem, a Defesa Civil notificou quatro famílias para deixarem o Condomínio Brisas do Vale neste fim de semana. O edifício na Rua Laura Soares Carneiro, 177, no Buritis, é vizinho do prédio Vale dos Buritis, que está condenado e ameaça cair.
Hedylamar disse ainda que iria conversar com os outros moradores para se decidir se acatarão a orientação da Defesa Civil. “É um absurdo a situação ter chegado a esse ponto. Houve tempo suficiente para que as autoridades fizessem o que era necessário”, desabafou. No momento da notificação apenas duas famílias estavam no local.
Os prédios em risco de desabamento no Buritis estão sob verdadeiro efeito dominó. Se antes apenas o Vale dos Buritis ameaçava cair, agora, o perigo se estende para construções vizinhas. Ontem, o movimento de moradores do entorno foi intenso na Rua Laura Soares Carneiro. Todos se espantaram com a evolução dos problemas entre a noite de quinta-feira e a manhã de ontem. O medo é de que haja desmoronamento que atinja quem vive na Avenida Protásio de Oliveira Penna, na parte de baixo da Laura Soares Carneiro.
O passeio e o asfalto em frente à edificação ao lado do Vale dos Buritis afundaram. Do lado de fora, é possível ver que o teto dos apartamentos está cedendo. Um blindex do hall de entrada estourou e o outro está quase caindo. O compartimento de concreto feito para abrigar botijões de gás está inclinado. Ontem pela manhã, o muro que ligava os dois prédios do Condomínio Art de Vivre desmoronou.
Na parte de trás, o barranco inspira medo. A tubulação da rede de água está totalmente visível e suspensa sobre o solo. Alguns canos estão tortos. Um buraco na parede do prédio mais atingido e um cano jorram água. Para quem mora na Laura Carneiro Soares, verificar o avanço das rachaduras no chão se tornou rotina. É o caso da administradora Lu Coch, moradora do número 177. “A população exige urgência na demolição dos prédios e quer que o juiz do caso venha aqui para ver a situação. Vendo o que está se passando, com certeza ele tomará uma atitude”, bradou, ao lado de vizinhos. Ela diz que entende a posição dos antigos moradores em querer se resguardar de todos os direitos antes da demolição: “Ninguém deu um parecer oficial, no processo não há um laudo comprovando nada. O único fato concreto são os prédios”. “Moro no bairro há 17 anos, pagamos IPTU caro e nem boca de lobo temos. Estamos revoltados e se não houver uma solução vamos fechar a Avenida Mário Werneck (a principal via do Buritis). Não pode ocorrer isso num bairro de 46 mil habitantes”, disse.
A associação de moradores entrou com ação civil pública cobrando apuração das responsabilidades. “A via foi danificada e gerou grande dano à comunidade. A situação dos prédios põe em risco quem mora na Protásio de Oliveira e, se o edifício cair, será uma catástrofe”, ressalta o vice-presidente da associação, Paulo Gomide.
A advogada dos moradores do Vale dos Buritis, Karen Teixeira, vai entrar segunda-feira com pedido de impugnação da liminar que negou a indisponibilidade dos bens da Estrutura Engenharia. Segundo ela, os antigos moradores autorizaram a demolição, mas querem saber quem arcará com os custos da intervenção, além de terem garantida a intimação referente à data e horário do serviço.
Liliane Corrêa
EDITORA DE ECONOMIA E MORADORA DO BURITIS
Morar no Buritis, hoje, é dar voltas e desviar de buracos para, finalmente, atingir o engarrafamento. O drama da interdição vai muito além dos prédios. Em uma porção do bairro caracterizada por quarteirões gigantes e pelas matas da Copasa e do Parque Aggeo Pinto Sobrinho, uma rua e meia avenida interditadas obrigam outros milhares de pessoas a alterar sua rotina. Dos quatro caminhos possíveis para a minha casa, por exemplo, dois estão interditados e o terceiro passou cerca de 12 horas fechado por força de um buraco colossal, entre quinta-feira e ontem. A partir de 1º de fevereiro, a rua dos prédios condenados volta a ser o caminho da escola para dezenas de estudantes que vão e voltam a pé do Colégio Magnum. Não passar pelo trecho em que a rua ameaça desabar significaria uma volta de cerca de 10 quarteirões regulares, entre descidas e subidas acentuadas. A rua, afinal, é segura para pedestres? E quando os acessos serão liberados para veículos? Devolver as ruas ao bairro também é questão urgente.