Jornal Estado de Minas

População vive um drama nunca visto em Além Paraíba

Moradores da pequena cidade viveram madrugada de horror com enchente em vários bairros. Em meio à destruição sem procedente, eles buscaram força na solidariedade

Jefferson da Fonseca Coutinho

"Minha esposa acordou assustada, ouvindo muita gente gritando na rua. A água subia sem parar com força inacreditável. Foi uma madrugada de terror", Jorgean Lameira, soldador - Foto: MARCOS MICHELIN/em/D.A PRESS

 

 

O  soldador Jorgean Lameira, de 34 anos, nascido e criado em Além Paraíba, na Zona da Mata,  diz nunca ter visto nada parecidoAinda em estado de choque, espantado com o tsunami de lama e o drama de toda a vizinhança que perdeu tudo no Bairro Santa Rita, ele disse que a chuva começou a assustar por volta das 22h de domingo“Era 1h30 quando minha esposa acordou assustada, ouvindo muita gente gritando na ruaA água subia sem parar com uma força inacreditávelFoi uma madrugada de terror”, disseCom a família a salvo, ele passou a madrugada ajudando os vizinhos, sem água, comida, luz e telefone
 
Confira imagens da destruição em Além Paraíba

São imagens que voltaram a cortar o coração Depois de dias entre os destroços de Guidoval e Dona Euzébia, às margens dos rios Xopotó e Pomba, era difícil imaginar rever, em menos de uma semana, cenas de tamanho caos e tristezaAs fortes chuvas que surram Minas Gerais desde dezembro deixam marcas absurdas também na centena de quilômetros percorrida pelo Estado de MinasDe Cataguases, com diversos trechos embarreirados, na MG-116, até Sapucaia, no Rio de JaneiroÉ grande o número de carretas e caminhões parados, encostados na rodovia, à espera de liberação para seguir viagem

Chega a haver tumulto com fila de carros pequenos na contramãoJá nas proximidades de Além Paraíba, no distrito de Marinópolis, à beira da estrada, meia dúzia de casinhas submersas chamam a atenção, assim como muitos pontos de deslizamentos nas encostas entre enormes rachaduras no asfaltoMas o pior estava por minutosDrama já conhecido com novos personagens.

Fora a calamidade e o clima de tristeza e apreensão encontrados em Sapucaia, no Rio de Janeiro, em Além Paraíba, no Bairro Santa Rita, atrás das grades enferrujadas da janelinha, um homem e duas meninas observavam com muita tristeza o movimento dos vizinhos, dos policiais e dos voluntários na rua em pedaçosEvandro Muniz Barbosa, de 32, pedreiro, e as filhas Tainá, de 16, e Taíne, de 10, estão à espera de ajuda qualquerEm casa, nada de comida, móveis e roupasTudo absolutamente destruídoDe pé, as paredes“Um carro veio arrastado pela água e ficou batendo aqui nessa parede, se ela não fosse de tijolo virado, todo mundo aqui teria morrido”, dizDo outro lado da janela, em cômodo arrasado, desoladas a mulher, Neuza, de 36, com os outros de três filhos: as gêmeas Ana Beatriz e Ana Carolina, de 6, e Camila, de 4.

Na Rua Tenente Mário Stuart, o trânsito é complicado pela força-tarefa da Defesa Civil e de voluntários em operação de emergência para liberar o acesso ao Hospital São Salvador, principal centro de atendimento médico da região
A queda de uma barreira sobre a Alameda DrPaulo Fonseca deixou como caminho para o pronto-socorro apenas uma escadaria a cerca de 80 metros acima do nível da rua“A prioridade nossa é liberar o acesso porque essa situação agrava tudo ainda mais”, ressalta Ideraldo Gonçalves, de 54, ferroviário, que estava desde as 3h auxiliando o trabalho de duas retroescavadeiras e oito caminhões basculantesEstão em situação caótica os bairros Esplanada, Jardim Paraíso, Banqueta, Terreirão e as vilas Caxias e Larota.