No segundo dia de limpeza, depois do temporal que matou três pessoas e deixou uma mulher desaparecida, moradores de 10 bairros cortados pelo Rio Limoeiro, em Além Paraíba, na Zona da Mata, tiveram novamente de sair de casa às pressas nessa terça-feira. Um dique ameaça romper na localidade de Torrentes e inundar parte da cidade. Pelo menos 10 mil pessoas sofrem com os efeitos da chuva, sem ter água para beber e fazer a limpeza das casas, o que aumenta o risco de contaminação. O posto de saúde do Bairro Santa Rita foi fechado e moradores foram orientadas a procurar outras unidades tomar vacinas e receber remédios.
O motorista Edvaldo Bento Leite, de 51, anos, conta que durante o temporal um carro passou a alta velocidade pela rua onde mora, levado pela correnteza. "Acabou tudo. A água levou casas, móveis, moradores, tudo. Vocês não dão conta de quantas geladeiras, fogões e televisões desceram rio abaixo. Os dois carros do meu vizinho foram embora. Meu irmão perdeu tudo, até a carpintaria, o maquinário e o prédio, não ficou nada. Só sobrou a roupa do corpo ", disse a dona de casa Nenzinha Xavier, de 71, lamentando a morte de uma vizinha, da filha pequena dela e de outro morador do bairro.
Boa parte dos bairros banhados pelos Limoeiro está sem água. Moradores pegam água do rio para lavar as casas. A professora Maria de Fátima Oliveira, de 40, retornou nessa terça-feira e retirou parte da lama de casa, descalça. "Estou consciente de que posso pegar doença grave. Já tomei vacina, mas posso pegar leptospirose ", disse.
O vice-prefeito e secretário municipal de Obras, Oberdan Moreira Rocha, avalia que a chuva foi em proporções jamais registradas na cidade. "Ela varreu todo o vale do Rio Limoeiro, destruiu praticamente 10 bairros, onde 500 casas foram inundadas ",disse.
Bombardeio
Na Vila Laroca nessa terça-feira foi dia de muito trabalho. O cenário era desolador e parecia ter sido bombardeado, segundo comparação do secretário de Obras. Moradores retiravam a lama das casas com carrinhos de mão. Idosos, jovens e até crianças se uniram para tentar recuperar alguma coisa. Pilhas de móveis estão sendo deixadas nas ruas, que ficaram intransitáveis.
A dona de casa Maria Aparecida Guereime, de 70, voltou nessa terça-feira para casa e não conseguiu passar da garagem. "Corro o risco de ficar atolada. Quando fugi de casa na madrugada de segunda-feira, a água batia na Cintura" disse. Enquanto muitos se preocupavam em limpar as casas e salvar pertences na lama da Vila Laroca, moradores de outras regiões não atingidas garimpavam objetos nas ruas e nas margens do rio. "Achei um aparelho de DVD, discos e um carregador de celular. Espero que depois de secos voltem a funcionar", disse uma mulher, acompanhada da filha, que não quis se identificar.