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Estado de Minas

Chuva promove corrida de obstáculos pelas estradas mineiras

Trajeto entre BH e o Vale do Rio Doce ilustra como viagens de ônibus pelo estado nesta época se tornaram perigosas. Buracos e deslizamentos assustam passageiros e até motorista experiente


postado em 12/01/2012 06:00 / atualizado em 12/01/2012 06:38

A rodovia, inaugurada há cerca de 60 anos, voltou a ser castigada pelas últimas chuvas, com a força de água abrindo vários buracos no precário asfalto entre Nova União e o trevo para Itabira(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
A rodovia, inaugurada há cerca de 60 anos, voltou a ser castigada pelas últimas chuvas, com a força de água abrindo vários buracos no precário asfalto entre Nova União e o trevo para Itabira (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

 

Motorista de ônibus rodoviário há quase uma década e meia, Aderaldo José Ribeiro, de 40 anos, não assume o volante do Mercedes-Benz que dirige diariamente, de Belo Horizonte a cidades do Vale do Rio Doce, sem antes orar para Deus. Ontem, no terminal rodoviário da capital, a reza foi “dobrada”, pois ele levaria 40 passageiros até Sabinópolis, distante a 300 quilômetros, numa viagem pela trágica BR-381, conhecida como a Rodovia da Morte, e também pela perigosa MG-120. Não bastasse ambas as estradas terem traçados sinuosos, pistas sem barreira física entre as pistas e má sinalização; os temporais dos últimos dias aumentaram as armadilhas nos dois corredores viários.

As tempestades abriram vários buracos na 381, principalmente entre Nova União e o trevo para Itabira, e causaram cinco deslizamentos de encostas na 120, interditando o trânsito em meia pista entre Santa Maria do Itabira e Guanhães. Ainda na MG, os temporais provocaram uma cratera próximo a Santa Maria do Itabira, atrapalhando o tráfego no local. O Estado de Minas acompanhou Aderaldo, sujeito de boa prosa, e seus passageiros, como o vendedor Alex Caetano Pereira, de 24, na arriscada viagem de Belo Horizonte ao Vale do Rio Doce, uma das regiões mineiras mais castigadas pelas chuvas recentes. Para se ter idéia, o tráfego de ônibus intermunicipais foi suspenso em algumas cidades de lá. “Ficamos mais cabreiro nesta época do ano. Todo cuidado é pouco com pista seca, imagine com chuva. A água atrasa a viagem e aumenta o risco de acidentes”, resumiu Aderaldo, ainda na rodoviária de BH, sem esconder a tensão diante do desafio de enfrentar a macabra 381.


A rodovia, inaugurada há cerca de 60 anos, voltou a ser castigada pelas últimas chuvas, com a força de água abrindo vários buracos no precário asfalto entre Nova União e o trevo para Itabira. A experiência do condutor ao volante não é garantia de uma viagem segura, pois, sem divisão física entre as pistas contrárias, a chance de colisões frontais na Rodovia da Morte é grande. E os buracos que pipocaram no asfalto nos últimos dias aumentam o risco, pois, como a estrada é cheia de curvas, é grande a hipótese de motoristas invadirem a contramão para desviar dos defeitos na pista. Porém, o risco de tragédias na MG-120, que liga Itabira a Guanhães, parece não ser menor. O “cartão de visita” da rodovia é uma imensa cratera próxima a Santa Maria do Itabira, que fechou o trânsito no sentido BH. O motorista que precisa chegar à capital precisa invadir a contramão. Mas outras cinco armadilhas chamaram mais atenção dos passageiros.


Trata-se dos deslizamentos de encostas entre essa cidade e Guanhães. “Como não ter medo daquele tanto de terra (descendo as montanhas)?”, questionou o passageiro Alex. Morador da capital, ele sempre vai a Sabinópolis nas férias de início de ano e, quando pode, nos feriados prolongados. Diante do primeiro deslizamento, ele e outros passageiros ficaram preocupados, pois acharam que o ônibus não teria espaço para ultrapassar o obstáculo. “Acho que a viagem acabou”, lamentou uma senhora sentada na poltrona atrás do motorista. “Ih! Não vai dar para o ônibus passar”, exclamou o senhor que viajava ao lado. Habilidoso, porém, Aderaldo verificou que não vinha veículo em direção oposta, invadiu a contramão com segurança, entrou no acostamento e foi-se embora. Pouco adiante, contudo, mais um deslizamento. O terceiro desmoronamento de encosta foi alguns quilômetros à frente.

Logo veio o quarto, perto de Senhora do Porto. Poucos quilômetros a frente, um caminhão que cruzou com Aderaldo piscou os faróis. Era o aviso de que novo desmoronamento aguardava o Mercedes-Benz que levava 40 passageiros. Dessa vez, porém, o obstáculo estava numa curva fechada, o que aumenta o risco de acidentes. Já as terras do quinto deslizamento, ocorrido no início da semana, começaram a ser retiradas pelo trator de uma empresa terceirizada pelo Departamento de Estradas de Rodagens (DER) na segunda-feira. “Deslizamento”, comentou um passageiro com a mulher sentada ao lado, “não joga só terra no asfalto: também imensas pedras”. Os desmoronamentos de encostas preocupavam todos os passageiros conduzidos por Aderaldo. Afinal, o trecho de dezenas de quilômetros entre Itabira e Guanhães é percorrido numa região montanhosa. Cinco horas e meia depois de uma viagem tensa por duas perigosas rodovias mineiras, onde as mãos habilidosas de Aderaldo reduziram o risco de acidente, o motorista estacionou o Mercedes-Benz na rodoviária de Sabinópolis. A viagem foi encerrada 30 minutos depois do horário previsto. “Chegamos bem, graças a Deus”, agradeceu Aderaldo. E, claro, os passageiros. “Espero que dê tudo certo na volta”, suplica Alex.

Empresas de ônibus cancelam rotas no interior

Materlândia e Divinolândia de Minas – O estrago que a chuva fez pelas estradas do Vale do Rio Doce causa grandes transtornos a moradores de pequenas cidades, onde as empresas de ônibus rodoviários foram obrigadas a suspender trechos por causa de erosões. Na pequena Materlândia, com cerca de 5 mil habitantes e a 30 quilômetros de Sabinópolis, uma cratera na LMG-752 levou a Saritur e a Serro a interromperem o trajeto entre os dois municípios. Apenas veículos pequenos conseguem passar pelo trecho. O buracão prejudica Rogério Rosa dos Santos, cobrador do ônibus conduzido por Aderaldo. Ele mora em Materlândia, mas é obrigado, como diz, “a se virar para chegar em casa” quando desce na rodoviária de Sabinópolis. “Vou ter de pegar carona em um carro pequeno”.

A erosão também causa prejuízos aos pecuaristas da cidade. “O escoamento de leite está parado. São cerca de 20 mil litros do alimento por dia. Até o fim de semana, acredito, vamos terminar um desvio para que veículos pesados consigam passar”, disse o prefeito do lugarejo, Marques Serafim (PMDB). Caminhoneiros desavisados que chegavam ao local precisam voltar para Sabinópolis ou fazer como Genecides Reis, entregador de gás: “Neste ponto, alugamos um veículo Strada e transferimos a carga para ele.” Em Divinolândia de Minas, com cerca de 7 mil moradores, a ponte sobre o Ribeirão Divino foi danificada pela chuva da última semana. A prefeitura construiu uma passarela de madeira, mas o trânsito de veículos foi prejudicado. Ônibus e caminhões precisam transitar por uma estrada de terra, na área rural, que vira um lamaçal quando chove. O desvio, de 2 quilômetros, acabou com o sossego de algumas famílias. Entre Sardoá e Governador Valadares, uma erosão engoliu o barranco numa das curvas da BR-259, tornando a estrada, que já não tem acostamento, mais perigosa.


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