Apesar do risco de contrair doenças, moradores não tiveram opção a não ser entrar nas enchentes para resgatar pertences e escapar de áreas críticas. Quando o Rio Paraopeba transbordou, o funcionário público Marco Antônio Trigueiro, de 50 anos, correu para fazer a mudança. Morador do Bairro Santo Antônio, em Brumadinho, ele tirou a mulher e as duas filhas pequenas de casa já com água pelas pernas. A água subiu pelo menos dois metros dentro de casa e derrubou o muro. Para tentar salvar o pouco que conseguiu, as galochas de plástico deixaram feridas nas pernas. Mas, antes de instalar a família em apartamento pago com aluguel social, todos passaram num posto de saúde para se vacinar.
“Essa água vem muito suja, com esgoto e lixo. Limpando a casa, sinto cheiro ruim, de podre mesmo”, contou o morador. “Precisamos andar na água para sair de casa porque ela já estava invadindo tudo”, disse.
Nesta semana, funcionários da Prefeitura de Brumadinho trabalharam para recuperar áreas inundadas. Em meio à lama e água barrenta, moradores circulam e tentam limpar suas casas. Perto dali, na localidade conhecida como Canto do Rio, o campo de futebol ficou submerso: há restos da enxurrada presos à rede do gol e às grades do entorno do gramado, que ficou destruído.
Prefeituras das cidades afetadas por enchentes onde a coleta de água foi feita afirmam trabalhar para evitar a contaminação. Em Betim, segundo a Secretaria de Saúde, não foram registrados casos de doenças e tem sido feita vigilância e monitoramento periódico, acompanhados por checagem dos cartões de vacinação. A Prefeitura de BH informou que não foram registrados surtos de diarreia nem leptospirose. Em 2010 e 2011, foram 32 casos da doença (16 por ano). Outra doença que pode ser contraída em águas de enchente, a hepatite A registrou 26 casos em 2010 e 23 em 2011. A administração municipal de Juatuba disse que montou campanha para alertar a população, e a de Brumadinho não retornou o contato da reportagem.
Emergência
Pelo menos 3,1 milhões de mineiros foram afetados pelas chuvas, o que representa cerca de 15% da população do estado. Segundo balanço da Defesa Civil foram atingidos 215 municípios, dos quais 153 já decretaram estado de emergência. São 15 mortos, 50.869 desalojados, 4.202 desabrigados, três desaparecidos, 142 feridos, 16.054 casas danificadas, 570 destruídas, 247 pontes destruídas e 360 danificadas.
Palavra de especialista
Léo Heller, professor da UFMG
Resultado preocupante
A análise das amostras revelou índices muito altos de coliformes fecais se comparados com valores de referência de órgãos de meio ambiente. Expõem a população a doenças infectocontagiosas. As águas desses córregos já são naturalmente contaminadas e, com as chuvas, há carga adicional de esgoto e fezes, que trazem micro-organismos, como bactérias, protozoários e, vírus. E quanto maior é a contaminação pela bactéria Escherichia coli, como foi mostrado na análise laboratorial, maior é a presença de fezes. A contaminação pode ser direta, via oral, e indireta, pela mão contaminada que se leva à boca, ou por vetores como moscas e baratas.