Jornal Estado de Minas

Cidades históricas mineiras enfrentam o desafio de se reeguer e proteger o patrimônio

Encostas e monumentos foram castigados por temporais e deslizamentos. Equipe federal começa por Ouro Preto e Mariana levantamento de risco geológico

Junia Oliveira Valquiria Lopes

SABARÁ - Proteção de lonas não foi suficiente para evitar desmoronamento de muro na Capela de Santo Antônio. Verba do PAC está atrasada - Foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press


Algumas das principais cidades históricas mineiras enfrentam com a temporada de chuvas um desafio ainda maior que os demais núcleos urbanos castigados por enchentes e deslizamentosCom topografia acidentada, infraestrutura modesta, casario e monumentos frágeis, castigados pelos rigores do clima há séculos, cidades como Ouro Preto e Mariana, na Região Central, e Sabará, na Grande BH, tentam se reerguer com a missão de proteger o patrimônio e recuperar bens atingidos pelos temporais ou que já precisavam de reformas antes mesmo da estação das águas, além de resgatar uma de suas principais fontes de receita: o turismoA extensão da tarefa em Ouro Preto e Mariana começou a ser medida no fim de semana, em um trabalho do CPRM – Serviço Geológico do Brasil, ligado ao Ministério das Minas e Energia, que se estenderá por todas as regiões do estado afetadas.

As duas joias do barroco mineiro foram as primeiras cidades do estado, ao lado de Além Paraíba, na Zona da Mata, a receber uma força-tarefa formada por geógrafos, hidrólogos e geólogos que começaram o levantamento para que sejam conhecidos onde estão e qual é a extensão dos riscos geológicos nos municípiosAs avaliações foram determinadas no início da semana passada pela presidente Dilma Rousseff, e vão contemplar também Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Mas cidades que ficaram fora da rota do grupo, como Sabará, também esperam socorro do governo federalNesse caso, socorro traduzido sob a forma dos R$ 30 milhões prometidos para o município pelo chamado PAC das Cidades Históricas, dinheiro que a prefeitura aguarda desde o ano passadoUma verba indispensável para sanar problemas como goteiras e infiltrações em igrejas seculares, agravados durante as últimas chuvasO programa tem promessa de investir R$ 254 milhões na recuperação e valorização do patrimônio de 20 municípios mineiros, mas, passado mais de um ano e meio do anúncio, quase ninguém viu a cor do dinheiro.

Recursos para recuperar o patrimônio são aguardados também em Mariana, onde parte do cemitério ao lado da Igreja do Rosário, de meados do século 18, desmoronouPara evitar um dano ainda maior, foi preciso pôr uma lona para cobrir três túmulos e um parte da encostaNo Centro Histórico, tapumes são o paliativo para amenizar os problemas na Igreja de São Francisco de Assis, também do século 18, onde parte do muro de adobe caiu no mês passado.
Ouro Preto - Máquinas removem terra que desceu da encosta perto da rodoviária. Turismo foi o setor mais afetado na cidade - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press
Sob risco
Em Ouro Preto, as chuvas não comprometeram diretamente o Centro Histórico, mas casarões estão ameaçados por encostas que podem ruirA equipe do Serviço Geológico do Brasil já havia feito levantamentos na cidade em dezembro, quando identificou 28 setores de risco alto e muito alto, que ameaçam 2,5 mil pessoasDepois da tragédia que matou dois taxistas, quando a rodoviária na entrada da cidade histórica foi soterrada, uma equipe retornou para analisar a situação e saber se houve mudança no grau de risco.
Alguns integrantes, como o presidente e o diretor da CPRM, que vieram de Brasília, puderam verificar apenas a situação do terminal, porque ninguém da prefeitura apareceu para acompanhá-los às áreas castigadas pelas chuvas no sábado pela manhã.

A encosta que desmoronou estava em uma das regiões consideradas mais perigosas
O diretor-presidente do CPRM, Manoel Barretto, afirma que, por enquanto, não é possível definir uma solução para o problema“Desmoronamentos pequenos ao longo de todo o morro indicam desestabilizaçãoSerão necessários estudos geotécnicos para se saber que tipo de obra deve ser feita”, disse.

O diretor de Hidrologia e Gestão Territorial, Thales de Queiroz Sampaio, ressaltou que uma área de alto risco pode ter a ameaça de dano reduzida se houver obras“Fazemos um trabalho de análise e também a recomendação do que pode ser feito”, disseBarretto chamou a atenção para a ocupação do local: “Foi determinada a retirada de todos que moram no entorno, mas parou de chover e várias pessoas voltaram para as casas condenadas, e isso é muito perigoso”