A temporada de chuvas fortes em Sabará durou cerca de um mês, o suficiente para ameaçar a história de bens seculares do município, datado do século 17 e que abriga rico patrimônio histórico e cultural. Entre os bens afetados estão igrejas tombadas por órgãos de proteção que já demandavam obras de revitalização antes mesmo da estação das águas e tiveram sua situação agravada. Em uma delas, a Capela de Santo Antônio, no distrito de Pompéu, o muro de pedra com mais de 200 anos não resistiu ao aguaceiro e caiu em dezembro. Outras em estado de conservação pouco melhor também sofreram com goteiras e infiltrações, comuns em todas as igrejas da cidade, segundo moradores. A chuva deixou rastros também em ruas e casas de bairros periféricos, como Roças Grandes, Paciência e Arraial Velho, onde o asfalto cedeu e moradores que vivem às margens do Rio das Velhas perderam móveis e pertences pessoais.
Apesar de ter sido menos castigada do que outras cidades históricas, como Ouro Preto, Congonhas, Tiradentes e São João del-Rei, Sabará também teve seu acervo afetado. De acordo com o padre Guilherme do Carmo Neto, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição enfrenta problemas com vazamentos no telhado. “Ela passou por uma reforma no ano passado, mas está precisando de reparos no teto, pois há várias goteiras.” Na pia batismal, a água está inflitrando na parede e apodrecendo uma estrutura de madeira. O pároco lista ainda problemas de infiltração no forro do teto da Capela do Santíssimo Sacramento e em duas sacristias, agravados com a chuva. “A água que desce das goteiras molha o forro e está estragando as pinturas”, alerta.
Também responsável pela Capela de Santo Antônio, no distrito de Pompéu, padre Guilherme afirma que a situação da igreja é a pior no município. “Ela está muito malconservada. Precisa de obras que são muito importantes para manutenção do patrimônio”, diz. O descaso com a conservação é velho conhecido das ministras da eucaristia Íris Piedade Carvalho, de 60 anos, e Terezinha Maria Malaques, de 63, ajudantes nas atividades da capela. “Falta muita atenção do poder público com esse patrimônio. O muro caiu há dias e nenhuma providência foi tomada. Em outras épocas, a própria comunidade já se mobilizou e arrecadou fundos para a reforma, mas os órgãos de patrimônio não autorizaram a obra”, afirmou Íris, lamentando a ação do tempo sobre a capela.
Os dias seguidos de chuva também deixaram as paredes da Igreja de Nossa Senhora do Carmo manchadas por causa da infiltração. De acordo com o funcionário José de Jesus Lamego, de 71 anos, mesmo tendo estrutura forte, o templo não resistiu aos dias consecutivos de chuva. “As paredes têm cerca de um metro e quarenta centímetros de largura. Ainda assim, a água subiu pela fundação”, contou Lamego, lembrando ainda que as goteiras são comuns em todos os cantos da igreja. “A água prejudica o assoalho, que é feito com madeira de cerca de 200 anos”, constatou.
VIAS PÚBLICAS
Além dos danos provocados pela chuva aos bens tombados de Sabará, a cidade sofreu ainda com deslizamento de encostas, alagamentos e prejuízos financeiros para moradores. Em uma das áreas mais afetadas, à margem do Rio das Velhas, moradores da Rua Beira Linha ainda contabilizam as perdas. Do lado oposto do rio, um dos prédios do Residencial Mangueiras, às margens da MG-05, ligação com a capital, está erguido sobre um barranco que teve parte levada pela chuva.
Segundo ela, a cidade foi contemplada para receber cerca de R$ 30 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, mas a previsão de que o dinheiro começasse a chegar no ano passado não se concretizou. “Já enviamos o projeto da Igreja de Santo Antônio de Pompéu para o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas a reforma ainda não foi autorizada. Outras igrejas estão dentro do PAC. Vamos cobrar esse recursos nos próximos dias”, afirmou. A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa do Iphan, mas ninguém foi localizado ontem.