Jornal Estado de Minas

Sujeira nas águas de BH reflete comportamento da população

Moradores reclamam da imundície em córregos de BH, mas assumem que a própria comunidade é responsável

Flávia Ayer

  Restos de TVs, colchões, prateleiras, papelão e muitas garrafas escondem a água do Córrego do Bicão - Foto: Cristina Horta/EM/D.A Press

 

Mesmo logo depois da temporada de chuvas intensas, que contribuíram para carregar muita sujeira, o curso d’água exala cheiro podre de esgoto a céu abertoDebaixo da cachoeira cinza, se acomodam duas televisões, uma cadeira, um armário, além de bacias, garrafas PET, latas, sacolas plásticas e pedaços de papelãoSem falar nas margens, lotadas de sucataNão por acaso o Córrego do Bicão, que corta o Aglomerado Santa Lúcia, é considerado o mais sujo da Região Centro-Sul de Belo Horizonte

Do filete de água que nasce nas proximidades da BR-356 e vai ao encontro da Barragem Santa Lúcia, foi retirado volume de lixo 40% maior em relação aos demais cursos d’água da regional que concentra os bairros mais nobres da cidadeA população se incomoda com a sujeira, mas admite que os próprios moradores contribuem para fazer o córrego de bota-fora“A lixeira não suporta e a gente acaba jogando dentro do córrego”, admite Mizael de Paulo, de 32 anos, morador da comunidade, acrescentando que seria necessária a retirada das casas do entorno do curso.

Outra moradora, que não quis se identificar, disse que já viu de tudo passando pelo Bicão“Quando chove, desce fogão, geladeira, sofá..É muita coisaE se a gente reclama com os vizinhos, recebe xingamentoTenho medo de essa área alagar por causa disso, mas temos até que fingir que não estamos vendo”, afirma

Para a mulher, nascida e criada na Barragem Santa Lúcia, falta também uma proteção em volta do curso d’água que impeça os materiais de chegar até o córrego e que garanta mais segurança para quem passa por perto.

Cercadinho

Mesmo quando o endereço muda, a paisagem tomada por sujeira se mantémÉ o caso do Córrego Cercadinho, um dos principais afluentes do Ribeirão ArrudasOntem, um sofá vermelho dentro do curso d’água chamava a atenção de quem passava pela ponte da Rua Úrsula Paulino, no Bairro Salgado Filho, Região Oeste da capitalO móvel de três lugares, vermelho e já coberto por lodo, flutuava nas águas podres, bem na direção de uma placa que avisa sobre o risco de enchentes no local “Falta fiscalização da prefeituraO que fazem aqui é uma sacanagem”, reclama o morador Marcílio Cândido da Silva Canarinho, de 42, cansado de ver a imundície descer pelo leito e transportar mais riscos de inundação pela cidade.