As imagens impressionantes das catástrofes das últimas semanas em Minas Gerais vão ficar para sempre e os números dos estragos causados pelas chuvas em todo o estado já entraram para a história
Segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), desde outubro 247 municípios já foram afetados por enxurradas, enchentes e deslizamentos e 174 decretaram estado de emergênciaAinda pior teria sido sem a dedicação de centenas de anônimos, que viraram dias e noites, sem descanso, na tentativa de conter a morteEm Guidoval, na Zona da Mata, por exemplo, na madrugada do dia 2 de janeiro, vários moradores, além de bater de porta em porta, tiveram a iniciativa de descarregar nos céus os fogos de artifício que sobraram das festas de réveillonCom isso, cerca de 2 mil moradores em áreas de risco às margens do Rio Xopotó foram despertadosEm várias regiões do estado, policiais, bombeiros, agentes da Defesa Civil e gente simples, voluntária, tiveram papel crucial no auxílio aos mais sofridosO Estado de Minas ouviu três destemidos mineiros que, na Zona da Mata, no Vale do Rio Doce e na Região Metropolitana de Belo Horizonte, fizeram diferençaUm oficial militar, uma funcionária pública e uma dona de casa se desdobraram para impedir o pior.
O milagre veio do CÉUDidier Ribeiro Sampaio, de 38, major da Polícia Militar - Foto: Marcos Michelin/EM/D.A PressO foguetório ajudou a afastar a maioria das pessoas das margens do Rio Xopotó, que subiu 15 metros e cobriu o teto de várias casas de dois andares em GuidovalAinda assim, foi grande o desespero de dezenas de pessoas que buscaram amparo em árvores e telhadosNo comando de equipe militar do Batalhão de Radiopatrulhamento Aéreo de Belo Horizonte, em operação especial na Zona da Mata, o major-piloto Didier Ribeiro Sampaio, de 38 anos, voou baixo com o helicóptero Guará 02 – cedido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) – para resgatar famílias em pânicoSó nas primeiras horas de trabalho, foram 17 salvamentos – muitos em áreas de difícil acesso
Entre os resgatados, Marlene Rita Martins, de 36, e as filhas, Kauny, de 15, e Renata, de 11, que passaram mais de 15 horas agarradas a uma mangueiraMarlene perdeu o marido, levado pela correntezaO major, há 20 anos na PM, não esquece a primeira imagem que viu quando se aproximou de Guidoval com a aeronave verde e amarela: “A cidade parecia um grande rio, com telhados flutuantes, as pessoas chorando, mães com crianças no colo, acenando, pedindo socorro”, lembra o oficialAntônio Pacheco, de 65, e os irmãos Aloísio, de 64, e Cláudio, de 53, também foram salvos pela equipe do majorMinutos depois do resgate, o imóvel, de dois pavimentos e quatro quartos, se dissolveu rio abaixo.
Corre-corre na madrugadaIlma Cândida Sobrinho, de 57, funcionária pública
- Foto: Rodrigo Clemente/Esp. EM/D.A Press Em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, a funcionária pública Ilma Cândida Sobrinho, de 57, lamenta os 1.268 desalojados, mas tem orgulho do trabalho que comandou ao lado do filho Vander, de 31, para que vidas não se perdessem com as cheias dos rios Paraopeba, Manso e Águas ClarasPrevendo o pior – pelo volume observado das águas nas primeiras horas de 2012 –, Ilma percorreu todos os locais de risco na manhã de segunda-feira, dia 2, para alertar a população sobre o perigo das enchentesAlerta que se repetiu nos dois dias seguintesAté que, quatro horas antes das águas cobrirem parte de Brumadinho, na quarta-feira, mãe e filho passaram a madrugada pedindo as pessoas para deixarem suas casas“Prefiro errar na ação do que na omissão”, diz em tom firmeConta que chegou a enfrentar discriminação por parte de morador: “Um senhor me disse que a Defesa Civil não sabia de nada, e eu ainda menos porque era mulher”
Ilma disse que ficou chateada, mas que nem parou para responder porque não podia perder tempoDepois, infelizmente, viu a casa do senhor engolida pela cheia na Rua Amianto, no Centro.
Coração de mãeNilza Maria de Oliveira Santos, de 66, dona de casa - Foto: Túlio Santos/EM/D.A Press No Leste de Minas, em Governador Valadares, a cheia do Rio Doce causou estragos que ainda vão dar trabalho a muita gente nos próximos mesesA solidariedade de uma dona de casa de poucos recursos, mãe de família, virou notícia e assunto entre os vizinhosNilza Maria de Oliveira Santos, de 66, mesmo com a casa atingida pela enchente e móveis perdidos, acolheu oito pessoas que precisavam de abrigoCom dois filhos em casa, desempregados, com as despesas mantidas pelo salário do marido – cerca de R$ 1 mil –, dona Maria não mediu cama nem despensa para compartilhar o pouco que tem com duas famílias, formadas por duas senhoras, três adolescentes e três crianças necessitadasEnquanto tentava salvar móveis e outros pertences de sua casa, ela viu as duas mães aflitas, com água na cintura, fugindo na companhia de três crianças e três adolescentes“Abriguei todos na minha casa desde aquele diaO dinheiro é curto, mas o coração é grandePor isso, acolhi as duas mães e as crianças em casaO que puder fazer para ajudá-los, farei”, diz Dona Maria mora na Rua Joaquim Costa, número 169, no Bairro Santa Rita, um dos mais atingidos pela cheia do rio(Com Paulo Henrique Lobato).
PONTE EM GUIDOVAL
O DER-MG abriu ontem as propostas de reconstrução da ponte sobre o Rio Xopotó, em Guidoval, que custará R$ 18 milhões, inclusive com variante de 1,8 quilômetroA nova ponte será feita em cinco meses e terá 130 metros de comprimentoFicará em outro local e terá cinco metros a mais de alturaMoradores da cidade começaram a receber ontem atendimento direto em caminhão-agência da Caixa Econômica FederalNo posto móvel, é possível ter acesso a serviços como pagamento do FGTS, Bolsa-Família, PIS e seguro-desemprego