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Estado de Minas SEM ELES TERIA SIDO AINDA PIOR

Dedicação de anônimos que trabalharam dia e noite sem descanso amenizou efeitos dos temporais

Ações rápidas retiraram vítimas de risco, deram socorro e abrigaram flagelados


postado em 18/01/2012 06:00 / atualizado em 18/01/2012 06:32

As imagens impressionantes das catástrofes das últimas semanas em Minas Gerais vão ficar para sempre e os números dos estragos causados pelas chuvas em todo o estado já entraram para a história. Segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), desde outubro 247 municípios já foram afetados por enxurradas, enchentes e deslizamentos e 174 decretaram estado de emergência. Ainda pior teria sido sem a dedicação de centenas de anônimos, que viraram dias e noites, sem descanso, na tentativa de conter a morte. Em Guidoval, na Zona da Mata, por exemplo, na madrugada do dia 2 de janeiro, vários moradores, além de bater de porta em porta, tiveram a iniciativa de descarregar nos céus os fogos de artifício que sobraram das festas de réveillon. Com isso, cerca de 2 mil moradores em áreas de risco às margens do Rio Xopotó foram despertados. Em várias regiões do estado, policiais, bombeiros, agentes da Defesa Civil e gente simples, voluntária, tiveram papel crucial no auxílio aos mais sofridos. O Estado de Minas ouviu três destemidos mineiros que, na Zona da Mata, no Vale do Rio Doce e na Região Metropolitana de Belo Horizonte, fizeram diferença. Um oficial militar, uma funcionária pública e uma dona de casa se desdobraram para impedir o pior.


O milagre veio do CÉU
Didier Ribeiro Sampaio, de 38, major da Polícia Militar

(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)


O foguetório ajudou a afastar a maioria das pessoas das margens do Rio Xopotó, que subiu 15 metros e cobriu o teto de várias casas de dois andares em Guidoval. Ainda assim, foi grande o desespero de dezenas de pessoas que buscaram amparo em árvores e telhados. No comando de equipe militar do Batalhão de Radiopatrulhamento Aéreo de Belo Horizonte, em operação especial na Zona da Mata, o major-piloto Didier Ribeiro Sampaio, de 38 anos, voou baixo com o helicóptero Guará 02 – cedido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) – para resgatar famílias em pânico. Só nas primeiras horas de trabalho, foram 17 salvamentos – muitos em áreas de difícil acesso. Entre os resgatados, Marlene Rita Martins, de 36, e as filhas, Kauny, de 15, e Renata, de 11, que passaram mais de 15 horas agarradas a uma mangueira. Marlene perdeu o marido, levado pela correnteza. O major, há 20 anos na PM, não esquece a primeira imagem que viu quando se aproximou de Guidoval com a aeronave verde e amarela: “A cidade parecia um grande rio, com telhados flutuantes, as pessoas chorando, mães com crianças no colo, acenando, pedindo socorro”, lembra o oficial. Antônio Pacheco, de 65, e os irmãos Aloísio, de 64, e Cláudio, de 53, também foram salvos pela equipe do major. Minutos depois do resgate, o imóvel, de dois pavimentos e quatro quartos, se dissolveu rio abaixo.

Corre-corre na madrugada
Ilma Cândida Sobrinho, de 57, funcionária pública

 

 

(foto: Rodrigo Clemente/Esp. EM/D.A Press)
(foto: Rodrigo Clemente/Esp. EM/D.A Press)
  Em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, a funcionária pública Ilma Cândida Sobrinho, de 57, lamenta os 1.268 desalojados, mas tem orgulho do trabalho que comandou ao lado do filho Vander, de 31, para que vidas não se perdessem com as cheias dos rios Paraopeba, Manso e Águas Claras. Prevendo o pior – pelo volume observado das águas nas primeiras horas de 2012 –, Ilma percorreu todos os locais de risco na manhã de segunda-feira, dia 2, para alertar a população sobre o perigo das enchentes. Alerta que se repetiu nos dois dias seguintes. Até que, quatro horas antes das águas cobrirem parte de Brumadinho, na quarta-feira, mãe e filho passaram a madrugada pedindo as pessoas para deixarem suas casas. “Prefiro errar na ação do que na omissão”, diz em tom firme. Conta que chegou a enfrentar discriminação por parte de morador: “Um senhor me disse que a Defesa Civil não sabia de nada, e eu ainda menos porque era mulher”. Ilma disse que ficou chateada, mas que nem parou para responder porque não podia perder tempo. Depois, infelizmente, viu a casa do senhor engolida pela cheia na Rua Amianto, no Centro.


Coração de mãe
Nilza Maria de Oliveira Santos, de 66, dona de casa
 

 

(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
No Leste de Minas, em Governador Valadares, a cheia do Rio Doce causou estragos que ainda vão dar trabalho a muita gente nos próximos meses. A solidariedade de uma dona de casa de poucos recursos, mãe de família, virou notícia e assunto entre os vizinhos. Nilza Maria de Oliveira Santos, de 66, mesmo com a casa atingida pela enchente e móveis perdidos, acolheu oito pessoas que precisavam de abrigo. Com dois filhos em casa, desempregados, com as despesas mantidas pelo salário do marido – cerca de R$ 1 mil –, dona Maria não mediu cama nem despensa para compartilhar o pouco que tem com duas famílias, formadas por duas senhoras, três adolescentes e três crianças necessitadas. Enquanto tentava salvar móveis e outros pertences de sua casa, ela viu as duas mães aflitas, com água na cintura, fugindo na companhia de três crianças e três adolescentes. “Abriguei todos na minha casa desde aquele dia. O dinheiro é curto, mas o coração é grande. Por isso, acolhi as duas mães e as crianças em casa. O que puder fazer para ajudá-los, farei”, diz. Dona Maria mora na Rua Joaquim Costa, número 169, no Bairro Santa Rita, um dos mais atingidos pela cheia do rio. (Com Paulo Henrique Lobato).

PONTE EM GUIDOVAL

O DER-MG abriu ontem as propostas de reconstrução da ponte sobre o Rio Xopotó, em Guidoval, que custará R$ 18 milhões, inclusive com variante de 1,8 quilômetro. A nova ponte será feita em cinco meses e terá 130 metros de comprimento. Ficará em outro local e terá cinco metros a mais de altura. Moradores da cidade começaram a receber ontem atendimento direto em caminhão-agência da Caixa Econômica Federal. No posto móvel, é possível ter acesso a serviços como pagamento do FGTS, Bolsa-Família, PIS e seguro-desemprego.


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