O trabalho de monitoramento de temporais em Minas ganhou, enfim, um aliado considerado fundamental. Depois de 40 dias de testes, finalmente entrou em operação, em caráter oficial, uma das ferramentas mais esperadas para este período chuvoso: o radar meteorológico. A promessa é de que com ele será possível acompanhar e identificar o tipo de chuva que se aproxima, a possibilidade de ocorrência de granizo, a intensidade dos ventos e a velocidade de deslocamento das tempestades. O equipamento está instalado em Mateus Leme, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e vai emitir informações precisas até um raio de 200 quilômetros, área que compreende 324 municípios. Brumadinho, na Grande BH, e Itaúna, no Centro-Oeste mineiro, são exemplos de cidades que receberam alerta vindo do radar nos primeiros dias do mês.
Serão beneficiados toda a Zona Metalúrgica e Campo das Vertentes, boa parte da Bacia do Rio Doce, Zona da Mata e Alto São Francisco. A cobertura no Noroeste, Norte, Sul de Minas e Vale do Jequitinhonha, correspondente a um raio de 400 quilômetros, permitirá identificar sistemas causadores de precipitação e prever sua trajetória, mas não haverá como identificar nem quantificar o tipo de precipitação.
A diretora de Pesquisa, Desenvolvimento e Monitoramento das Águas do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Jeane Dantas, explica que estão sendo emitidos dois boletins diários de previsão do tempo, às 11h e às 23h, além de diversos avisos. “O radar é único no Brasil com essas especificidades”, afirma. Segundo ela, estão sendo feitos estudos para verificar a viabilidade de implantação de outros três equipamentos semelhantes, quantidade suficiente para cobrir todo o estado.
Os dados do primeiro radar meteorológico do estado são transmitidos diretamente para o Igam, na Cidade Administrativa, e, então repassados, por e-mail para as defesas civis dos municípios. Essa é uma grande mudança no sistema de alerta, que antes passava primeiro pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) para somente depois chegar às cidades em risco. “Essa foi uma demanda da própria Cedec, que também é informada da situação. Em 6 de dezembro fizemos um seminário para credenciar os responsáveis por receber os alertas na área de abrangência do radar. Alguns municípios não apareceram e, por isso, ainda estamos inscrevendo os que faltam. Temos projeto também para que o alerta seja feito por mensagem de celular”, relata Jeane.
O superintendente operacional da Cedec, major Edylan Arruda, destaca a importância dos avisos. “É fundamental que eles cheguem rápido às cidades e elas, recebendo a informação, saibam aproveitá-las e repassá-las aos núcleos e à população. Já a Defesa Civil estadual estará de prontidão, com equipes de sobreaviso”, ressalta.
Meteorologista do Igam, Heriberto Amaro chama a atenção para outro fator: a possibilidade de retirada de moradores de áreas de risco com maior eficiência. “O radar não faz previsão, essa é responsabilidade do meteorologista. Ele é uma ferramenta. É possível precisar com até seis horas de antecedência o deslocamento de uma área de instabilidade, por exemplo. Ajuda muito nesse acompanhamento, pois o intuito é evitar perdas, principalmente humanas, mas também
materiais”, diz.
Temporal antecipado
Uma estiagem de 10 dias e o calor, com temperaturas de 31 graus, resultaram em chuva na noite dessa quinta-feira em Belo Horizonte. Em alguns pontos da capital, como nos bairros Belvedere, na Região Centro-Sul, e Buritis, Oeste da capital, choveu granizo. Motoristas procuraram abrigo para escapar das pedras de gelo que caíram durante cinco minutos. Na Avenida Raja Gabaglia, um posto de gasolina foi a opção de quem seguia a via no sentido Centro, como o vigilante Ronaldo Pereira, de 40 anos. “Eu estava indo para casa, por volta das 19h30, e só não tive prejuízos porque parei o carro rápido”, contou.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, houve queda de árvores nos bairros Nova Suíça, Nova Granada, Salgado Filho, Buritis, na Região Oeste, e no Centro. Até o fim da noite, militares do 1º Batalhão haviam registrado 17 quedas de árvores. A Defesa Civil de BH informou que não recebeu nenhum ocorrência e apontou a Região Centro-Sul com o maior índice de chuva – 32,8mm. Durante o período mais forte da chuva, alguns semáforos da Região Centro-Sul ficaram em alerta devido à queda de energia.
Moradores dos bairros Grajaú e Gutierrez, na Região Oeste,Carlos Pratds e Padre Eustáquio, na Noroeste, e Santo Antônio, na Centro-Sul, ficaram sem energia elétrica, de acordo com a Cemig. Em vários pontos da cidade houve alagamentos, como nas avenidas Nossa Senhora do Carmo e Afonso Pena, próximo ao Palácio das Artes, e na Via Expressa, entre os bairros Gameleira e Coração Eucarístico, na Região Noroeste. Na Raja Gabaglia, as pistas se tornaram uma só por causa da água empoçada.
Previsão
O dia amanhece hoje com sol e calor e temperaturas um pouco menores, entre 28 e 29 graus. Mas, devido a um aglomerado de nuvens entre Nova Lima e Itabirito, que se deslocou para BH e o restante da região metropolitana, e uma frente fria que chegará de São Paulo à tarde, o tempo começa a mudar. A previsão é de pancadas à noite, de longa duração, segundo o meteorologista Ruibran dos Reis, do Climatempo. Já o fim de semana será de tempo nublado e pancadas de chuvas leves a qualquer hora do dia. O calor dá uma trégua e as temperaturas caem para a casa dos 24 a 25 graus.
Mas a frente fria vai enfraquecer e tomará o rumo do Norte e Nordeste de Minas e, na terça, os termômetros voltam a subir. “O início de fevereiro será de chuva isolada e muito calor”, avisa Ruibran. O alerta, que já foi emitido para a Defesa Civil estadual, vale para a Zona da Mata, Campo das Vertentes e Sul de Minas. De hoje até segunda-feira pode chover um volume entre 80mm e 120mm, o que representa 70% a 80% do que é esperado para todo o mês de fevereiro.