Fina e suja de graxa, uma corda comum, dessas usadas em cabrestos de cavalos, é o único dispositivo que impede o desengate de uma carreta rodotrem de 30 metros e 54 toneladas de cargaAo volante, cansado pelas sete horas diárias de viagem que precisa cumprir, nos 452 quilômetros entre Belo Horizonte e Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, o carreteiro A.V.R., de 38 anos, pinga suor e tem tonturas que prejudicam sua concentração nesta tarefa extenuanteOs abusos com drogas estimulantes, desleixo com a saúde e a manutenção do veículo transformaram Anum homem-bomba das estradas, que expõe sua vida e ameaça a dos demais viajantes“Quando era novo tomava rebites para viajar o dia todoFicava aceso e o tempo não castigavaO lombo não doíaO suor não importavaHoje, sofro numa viagem curta dessas”, lamenta o motorista, que tem 13 anos de experiência.
A saúde e as condições de caminhoneiros que ingressam em Minas Gerais ou circulam pelo estado, como A., são motivos de preocupação para especialistas e forças policiais responsáveis pelas estradasPara ter uma amostra de quão crítica é a situação de máquinas e homens, a reportagem do Estado de Minas convidou médicos e especialistas em manutenção de veículos pesados para uma blitz educativa no Posto Ravena, na manhã de sábadoSituado na BR-381 – via conhecida como Rodovia da Morte pelo alto índice de acidentes – o caminho é usado por quem sai segue para o Nordeste do país ou vem dessa direção.
Os resultados foram alarmantes
Situação crítica
O veículo em piores condições era exatamente o conduzido por A.V.R., carregado com caixas de bebidas“Uma trava de engate amarrada com corda é um absurdoImagine só uma dessas carretas se soltando quando passar sobre um buraco no meio da rodoviaVai descer atropelando carros, tombando por cima de motos e matando gente”, alerta GuimarãesOutras duas carretas rodotrem analisadas, ambas com 30 metros e mais de 50 toneladas de carga, também apresentavam molas, pinos de encaixe e suporte dos eixos bambos“É outra situação crítica que contribui para a carreta tombarOs eixos ficam sem trabalhar com independência e firmesNum solavanco, a carroceria pode inclinar demais e aí tomba mesmo”, avalia o especialista.
Uma das duas carretas tinha os pneus sobressalentes amarrados com uma corda velha debaixo do chassi, ameaçando cair no meio da estrada