A melhor forma de homenagear a memória de Ana Alice Moreira de Melo é manter o silêncio para preservar seus filhos. Foi essa a mensagem passada nessa sexta-feira pelos familiares da servidora pública federal, de 35 anos, assassinada na madrugada de quinta-feira pelo marido Djalma Brugnara Veloso, de 49. Nessa sexta-feira, cerca de 250 pessoas, entre parentes, amigos e colegas de trabalho de Ana Alice prestaram suas últimas homenagens a ela no cemitério Bosque da Esperança, no Bairro Jaqueline, Região Norte de Belo Horizonte. Enquanto Ana Alice Moreira de Melo era sepultada, o corpo de Djalma Brugnara Veloso, encontrado em um motel horas depois do crime, era liberado pelo Instituto Médico Legal (IML).
Durante a manhã, foi grande a movimentação de carros no cemitério. A mãe de Ana Alice, Joana Moreira de Melo, chegou às 9h45. Uma van levou funcionários do Tribunal de Contas da União (TCU). A babá que estava na casa de Ana Alice na hora do crime, Girlene Fastor, de 34, chegou às 10h20, levada por uma amiga da vítima, e demonstrou estar muito abalada. O sepultamento foi às 13h e todos foram embora em silêncio, alguns aos prantos.
Quatro horas depois, às 17h, último horário de enterros, foi a vez de o corpo do empresário Djalma Brugnara Veloso ser sepultado no cemitério Parque da Colina, no Bairro Gameleira, Região Oeste de BH. Na sala do velório, dezenas de pessoas se despediram de Djalma com muitos aplausos. Familiares e amigos se irritaram com a presença da imprensa e não autorizaram nenhuma imagem. A Polícia Militar foi chamada para acompanhar o cortejo e evitar a aproximação de estranhos. Consternados pela tragédia, parentes e amigos seguiram em silêncio até o local do sepultamento.
Sem respostas
A advogada Cibele Gouveia conta que foi colega de Ana Alice na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que ela sempre foi uma profissional competente. “Era uma menina muito boa, carinhosa, educada e muito inteligente. Uma pessoa muito amorosa com a família e com os filhos. Ninguém poderia imaginar isso”, disse Cibele, que não chegou a conhecer Djalma.
A procuradora do Ibama Cláudia Pessoa conta que ela e Ana Alice trabalharam juntas por dez anos e destaca a competência profissional da colega. “Deixou duas crianças maravilhosas. Ela era uma pessoa inteligentíssima, fez mestrado. Esse crime foi chocante para todos. Estamos sem respostas”, disse Cláudia.
O procurador Hélvio Gusmão conta que Ana Alice se relacionava bem com todo mundo e que era muito tranquila. “Ela nunca comentou nada sobre violência. Era minha colega de faculdade e sempre foi uma ótima profissional”, disse o procurador. Ele frequentava o mesmo clube que o casal e disse que Djalma nunca demonstrou ser violento com a mulher. O empreiteiro de obras Milton de Souza trabalhou por seis anos na mansão do casal e disse que nunca presenciou qualquer discussão. “Eles viviam muito bem. Djalma era tranquilo”, informou.
O empresário Ronaldo Machado Corrêa lamentou o crime e disse que o pai de Ana Alice, José Roberto Moreira de Melo, nunca será o mesmo depois de sofrer a maior perda da vida dele. “O pai dela sempre foi uma pessoa alegre, orgulhoso da filha. Isso é inexplicável, incompreensível, revoltante. Vim abraçar meu amigo, que tinha o maior orgulho da filha, uma menina vitoriosa, gloriosa.”
“A família conta com a compreensão em relação à decisão de não se manifestar acerca dos fatos que culminaram em tragédia tão dolorosa. Entendemos que esta postura contribui para reflexão da sociedade sobre a violência contra mulher, bem como sobre a violência como um todo. Acreditamos que essas conduta é a melhor forma de homenagear sua memória e retribuir o seu amor” - Nota divulgada pela família de Ana Alice Moreira de Melo
‘Ele não suportou o que fez’
Ninguém poderia imaginar que os sorrisos do Natal em família se transformariam em lágrimas amarguradas um mês e meio depois. Uma atitude sem explicação, que surpreendeu familiares. Nessa sexta-feira, na porta do Instituto Médico-Legal (IML), no Bairro Gameleira, Região Oeste de Belo Horizonte, os olhares perdidos do irmão, da tia e de um primo de Djalma Brugnara Veloso denunciavam o estado de choque dos parentes. Os três foram ao local para liberar o corpo do empresário.
Os parentes definem Djalma como um homem calmo e dedicado à esposa e aos filhos. Segundo os relatos, não havia qualquer indicativo de problemas entre o casal e muito menos de uma tragédia iminente. No fim do ano, todos passaram a noite de Natal juntos e felizes. “Ele foi um bom pai, um bom marido, um bom irmão e um bom filho. Tinha um grande coração”, definiu o irmão do empresário, o médico Flávio Veloso.
“Foi um momento de descontrole emocional. Ele e a Ana não mereciam isso. Meu irmão amava a família, tanto que não conseguiu suportar o que fez e acabou se matando”, acrescentou. A tia, Maria Durvalina Veloso, disse que não havia brigas entre o casal ou qualquer histórico de violência. Segundo ela, a família está muito abalada. “Foi uma tragédia. Era muito amor entre os dois e isso levou à morte. Parece que ele não aguentou o que fez”, relatou.