O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação para obrigar a União, o estado de Minas Gerais e o município de Uberaba, na Região do Triângulo, a fazer o inventário e tombamento dos bens móveis e imóveis que pertenceram a Francisco de Paulo Cândido Xavier, o Chico Xavier (1910-2002). Segundo a procuradora da República Raquel Silvestre, a medida é necessária porque, apesar de destacarem o expressivo valor histórico e cultural do acervo, os réus nada fizeram para conservá-lo. “Pelo contrário, ficaram omissos e inertes, o que obrigou o MPF a pedir a intervenção judicial para conferir proteção constitucional aos bens. O objetivo é impedir a evasão, destruição e descaracterização do patrimônio deixado por aquele que é considerado um dos maiores fenômenos paranormais de todos os tempos”, afirmou.
Nascido em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Chico Xavier se mudou, em 1959, para Uberaba, onde viveu até morrer, em 2002. Ele deixou mais de 400 livros psicografados e, conforme as estimativas, foram vendidos mais de 50 milhões na língua portuguesa, com traduções em vários idiomas. A devoção de Chico à caridade e ao próximo lhe rendeu, em 1981, a indicação ao Prêmio Nobel da Paz, disputando com o papa João Paulo II e o Escritório do Alto Comissariado da ONU para Refugiados.
A procuradora informa que é “inegável a importância do médium para a cultura nacional, regional e municipal, e chega a ser absurdo o fato de que todos os bens deixados por ele estejam completamente desprotegidos, sem qualquer medida de conservação, controle ou catalogação, com grande parte deles exposta ao público de forma inadequada”. A ação relata que, somente depois de intensa provocação do MPF, o imóvel, que é alvo de peregrinação por adeptos da doutrina espírita de todo o mundo, foi cadastrado como museu pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). “Mas a medida, no entanto, não resultou em qualquer medida protetiva mais eficaz dos bens expostos à visitação pública.”
Memorial
A casa de Chico Xavier é um museu particular, onde se encontram expostos livros, esculturas, imagens sacras, mobiliário, fotografias, roupas, documentos e inúmeros outros bens”, destaca a procuradora da República Raquel Silvestre. “O problema é que essa exposição requer medidas técnicas especiais como identificação, catalogação, ambientação, ou seja, requer um projeto museográfico, o que nunca foi feito.” Visita técnica feita por especialistas do Ibram detectou que os bens não têm qualquer tipo de instrumento de registro, controle e segurança. À exceção dos livros psicografados pelo médium, que apresentam etiquetas, não há nenhuma identificação dos demais itens expostos. “O próprio imóvel que abriga o museu, a casa situada na Rua Dom Pedro I, 145, no Bairro Parque das Américas, onde Chico Xavier morou por mais de 30 anos, está passando por modificações de forma pouco técnica e respeitosa à cultura nacional”, diz a procuradora.
O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), via assessoria de imprensa, informa que estão sendo feitos os estudos para atender a demanda do MPF, embora isso não significa que o tombamento. A Prefeitura de Uberaba, também via assessoria de imprensa, diz que está sendo construído o Memorial de Chico Xavier, numa parceria com a iniciativa privada, a ser inaugurado este ano. A obra fica na Mata do Carrinho, na Avenida João XXIII, e reunirá objetos coletados pela comunidade espírita em todo o país.