Jornal Estado de Minas

Alarmes de igrejas são religados às pressas em Minas

Fazenda colonial com capela adornada por elementos atribuídos a mestres do barroco, tombada pelo estado e pela União, está sem proteção por falta de funcionários

Capela integrada à varanda abriga painéis de Mestre Athayde. Telhado do engenho passa por restauração - Foto: FOTOS: Cristina Horta/EM/D.A Press

O acervo de um importante patrimônio de Minas, tombado não só pelo estado, mas também pela União, está entregue à própria sorteUm casarão colonial construído no fim do século 18 e inaugurado em 1822, sede da Fazenda Boa Esperança, na Região Central do estado, está sem funcionário para vigilância desde dezembro, quando o vigia local se aposentouO Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), proprietário do imóvel, ainda não providenciou substituto para o funcionário e, embora a estrutura esteja em processo de restauração, as peças sacras do complexo estão desprotegidasA capela que fica na varanda da frente é uma verdadeira obra-prima, que encanta todos pela sua riqueza e aspecto singeloNela há trabalhos de talha dourada e painéis atribuídos a Manoel da Costa Athayde, o Mestre Athayde (1762-1830)Tudo indica que o retábulo foi esculpido pelo português Francisco Vieira Servas (1720-1811)

A dona de casa Zélia Teixeira Mendonça, de 66 anos, é a vizinha mais próximaEla mora a 900 metros de distância e teme pela segurança do casarão“Se acontecer algum roubo lá, ninguém vai ficar sabendoÉ muito perigoso deixar aquela casa sozinhaA impressão é de que ela está abandonada”, disse



Zélia conta que o antigo vigia do lugar morava a 600 metros da fazenda e passava o dia na casarão“Ele e a mulher sempre retornavam à noite para ver se estava tudo bemEle limpava o pátio e a mulher fazia faxina na casa e limpava a capela Agora, o mato está crescendo em volta”, disse Zélia“Tenho muito medo de assalto aqui na regiãoQuando meu marido sai de casa e fico sozinha, tranco tudo”, disse.

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A fazenda também é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), desde 1959Quem chega ao lugar, a seis quilômetros do Centro do município mais próximo, não deixa de se impressionar com a grandiosidade do monumento histórico e paisagístico, considerado palácio rural desde os tempos do seu fundador, senhor de mais de 900 escravos que trabalhavam na mineração de ouro e agriculturaLogo na entrada, no meio do extenso pátio gramado, duas frondosas sapucaias dão boas-vindas aos visitantes, convidando ao silêncio, comunhão com a natureza e contemplação do engenho de pedra (paiol) e da bela capelaA varanda dos fundos tem 36 metros de comprimento e 2,5 metros de largura e esteiras coloridas de taquara no forroAo todo, são 24 cômodos, totalizando 45 portas.

Durante a semana, o casarão tem a proteção de seis funcionários de uma empresa contratada para trocar o telhado do antigo engenho, mas nos fins de semana e feriados o local fica deserto
“O estado ficou de mandar outro vigia, mas até hoje, nada”, disse um dos carpinteirosO telhado do engenho ganhou nova estrutura em madeira e telhas que imitam as antigas, com um investimento de R$ 319 mil