Na prefeitura da capital, onde as investigações estão mais adiantadas, os primeiros resultados do inquérito enchem páginas e páginas do Diário Oficial do Município (DOM)De junho do ano passado até o início deste mês, 924 promoções suspeitas foram canceladas e 525 novos pedidos de aumento salarial com base nos diplomas irregulares foram negados pela Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e InformaçãoA punição atinge servidores que fizeram cursos de especialização na Faculdade da Região dos Lagos (Ferlagos) e nas Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ), ambas no Rio de JaneiroAs duas instituições são acusadas pelo Ministério Público de oferecer, ilegalmente, cursos não presenciais e também de adulterar diplomas.
O cerco às fraudes na Prefeitura de BH começou a apertar em 2009, quando foram abertos os primeiros processos administrativos para que funcionários apresentassem documentos comprovando a presença nos cursos de especializaçãoTodos os notificados foram obrigados a mostrar cópia dos diários de classe com a frequência às aulas e comprovantes de despesas com deslocamento e hospedagem no períodoDepois da análise dos dados, a administração municipal publicou, em fevereiro do ano passado, parecer no qual determinou que novos pedidos de progressão salarial com diplomas emitidos pela FIJ e pela Ferlagos não seriam mais aceitos e que os benefícios já concedidos seriam canceladosAlém disso, os valores recebidos indevidamente deveriam ser devolvidos.
Apenas este ano, 24 professores tiveram a promoção cancelada e 32 pedidos de progressão foram negadosEstimativa feita pelo EM com base em dados divulgados pela prefeitura em 2009 aponta que, nos últimos seis anos, o prejuízo aos cofres públicos municipais com promoções suspeitas pode ser de, no mínimo, R$ 5,2 milhões
Segundo ele, a análise dos documentos permitiu à administração concluir que os servidores não participaram do curso presencialmente, o que justificou a suspensão de promoções“A prefeitura confirmou que a pós-graduação não foi ministrada como previsto na grade e, portanto, não poderia gerar os efeitos que gerou, ou seja, a progressão por escolaridadePor isso, estamos cobrando a devolução dos valores recebidos indevidamente”, acrescentouOs atos da prefeitura levaram a uma avalanche de ações judiciais com contestação às puniçõesSegundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-Rede/BH), há pelo menos 800 processos em tramitação.
Além de acompanhar a investigação das promoções em todos os órgãos da administração pública de Minas Gerais, o Ministério Público requisitou abertura de inquérito policial no Rio de Janeiro, para apurar possíveis crimes contra o consumidor, estelionato e falsidade ideológica cometidos pelas duas faculdades fluminenses“O processo é tão demorado porque são muitos professores e cada um abriu uma ação individual para ter direito às progressõesOs primeiros processos de reconhecimento dos diplomas estão sendo julgados agora e, quando houver uma sentença judicial, ela deve ajudar a nortear o processo como um todo, acelerando-o”, afirma a promotora de Justiça Especializada na Defesa do Patrimônio Público, Patrícia Medina Varotto de Almeida.
Memória
Diplomas frios valiam até 20% de aumento
Os diplomas com suspeita de irregularidade foram a causa de um escândalo no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), em maio de 2005, quando os certificados fornecidos pela Ferlagos e pela FIJ foram usados por funcionários para se classificar em processo interno de progressão de carreira, que abriu 34 vagas em 2004
Entenda o caso
O Plano de Carreiras da Prefeitura de Belo Horizonte prevê aumento de 5% no salário de servidores que apresentam novos títulos de especializaçãoPelas normas, o benefício vale para, no máximo, cinco progressões na carreira.
Na prática, isso quer dizer que um professor com salário inicial de R$ 1.676,03 tem um ganho real de
R$ 83,80 ao apresentar o primeiro diploma de pós-graduaçãoAo fim das cinco progressões, a remuneração chega a R$ 2.139,08.
Cerca de 2,5 mil servidores da PBH, a maioria vinculados à Secretaria Municipal de Educação, são suspeitos de usar diplomas irregulares para conseguir promoções e aumentos salariais.
Os professores apresentaram diplomas de cursos presenciais feitos entre 2000 e 2005, na Faculdade da Região dos Lagos (Ferlagos), em Cabo Frio (RJ), ou nas Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ), na cidade do Rio de JaneiroApesar de atestar presença em carga horária que variava de 360 a 420 horas-aula, os cursos eram oferecidos a distância.
Além do falso atestado de presença, a FIJ só obteve autorização do Ministério da Educação para ministrar cursos a distância em maio de 2005Até hoje, a Ferlagos só está credenciada a oferecer cursos presenciais de pós-graduação.
O golpe se alastrou por outros órgãos da administração públicaNa Secretaria de Estado de Educação, 1.652 servidores são investigadosAlém disso, há sindicância na Polícia Militar, na Assembleia Legislativa, no Tribunal de Justiça e no Ministério Público.
Na Prefeitura de BH, onde as investigações estão mais avançadas, 1.449 servidores já foram punidosDesses, 924 perderam a promoção e devem devolver os valores recebidos indevidamente e 525 tiveram os pedidos de progressão negados.