Jornal Estado de Minas

Festejar sem destruir

Moradores e comerciantes querem mais rigor na realização de eventos em espaços públicos

Preocupados com a ação dos foliões que destruíram os jardins, o sistema de irrigação, as correntes de proteção e postes de iluminação da Praça da Liberdade, moradores de outras regiões da capital querem uma regulamentação mais rígida

Paola Carvalho Flávia Ayer
Depois dos prejuízos causados à Praça da Liberdade no dia 12, durante show pré-carnavalesco, comerciantes da Savassi temem atos de vandalismo durante eventos após a conclusão das obras de revitalização - Foto: EULER JUNIOR/EM/D. A PRESS/ 18/1/12


Os danos causados à Praça da Liberdade durante o show pré-carnavalesco da banda carioca Monobloco, que reuniu 10 mil pessoas em 12 de fevereiro, já foram corrigidos, mas a discussão sobre a promoção de grandes eventos nas praças, ruas e avenidas de Belo Horizonte vai continuar por um longo tempoPreocupados com a ação dos foliões que destruíram os jardins, o sistema de irrigação, as correntes de proteção e postes de iluminação da praça, moradores de outras regiões da capital querem uma regulamentação mais rígida para esse tipo de promoção, justamente para impedir mais atos de vandalismo.

A primeira preocupação vem dos comerciantes da Savassi, que ficaram assustados com o que houve na Praça da Liberdade e temem que efeitos negativos de grandes eventos recaiam sobre a área, na Região Centro-SulA Associação dos Lojistas da Savassi (Alsa) cobra definição de regras para a realização de eventos na Praça Diogo Vasconcelos, em obras desde março do ano passadoA previsão é de que a nova Praça da Savassi seja inaugurada em abril e, antes disso, a ideia é já ter estabelecido o perfil de evento que pode ocorrer no eixo cortado pelas avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas.

“Ficamos muito assustados e acreditamos que não adianta também fazer uma obra bonita e, depois de sofrermos um ano com as obras, destruírem tudo em um eventoO mais importante é a preservação do patrimônio e, por isso, o tipo de evento tem que ser estudado”, afirma a presidente da Alsa, Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, que pretende apresentar a proposta para o estudo na próxima reunião da comissão de obras da Savassi“O perfil daqui está ligado a pequenos eventos, como noites de jazz, exposição de quadros”, dizOrçada em R$ 10,4 milhões, a revitalização da Praça da Savassi incluiu, entre outros pontos, o fechamento de quatro quarteirões nas ruas Antônio de Albuquerque e Paraíba.

A ideia dos lojistas da Savassi é participar das discussões sobre novas regras para licenciamento de shows e eventos de maior porte na Praça da Liberdade, na Praça do Papa e no BelvedereA Regional Centro-Sul enviou correspondência ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) informando que as regras para eventos nesses locais serão modificadas e os comerciantes da Savassi querem que o local também seja beneficiado pela restrição de shows, festas e outras promoções.

Na Pampulha

Os moradores da Pampulha querem maior rigor na autorização de eventos na região“Recebemos a notícia de evento evangélico, cujo encerramento contará com shows das bandas Blessed e Ao Cubo e dos músicos Edu Porto e Janaína Brandão, na praça em frente ao símbolo de Belo Horizonte: a linda igreja de São Francisco de Assis”, diz a presidente da Associação Pro-Civitas dos bairros São Luís e São José, Juliana RenaultSegundo ela, o evento marcado para domingo vai de encontro à promessa da prefeitura, da qual os moradores participariam da aprovação, com antecedência, do calendário de eventos na região.

“Esta é uma preocupação não só pontual, das associações da Região da PampulhaO Movimento das Associações de Moradores de Belo Horizonte é solidário a essa preocupação, tendo em vista outros licenciamentos concedidos na capital e o recente acontecimento na Praça da Liberdade, onde foi colocado em risco o patrimônio público e histórico da cidade”, afirma Renault
O movimento reivindica que a prefeitura estabeleça critérios adequados para os eventos, preocupando-se, também, com o fato de que, tanto a população local quanto os visitantes não se sejam prejudicadas“Local adequado para eventos é uma boa solução”, destaca.

O presidente da Associação de Bairros de Belo Horizonte, Fernando Santana, concorda“BH tem população densa e os espaços públicos não comportam volumes grandes de participantesA prefeitura deveria planejar lugares específicos para não causar prejuízos ao patrimônio e não comprometer a mobilidade da população”, diz.

De acordo com a PBH, de janeiro de 2010 a dezembro de 2011 foram licenciados 248 eventos para a Praça da Liberdade e nenhum deles resultou em danos ao patrimônioNeste ano já foram realizados 15 eventos no local e, lamentavelmente, diz a PBH, somente um ocasionou dano à praça“Trata-se, portanto, de um caso isolado, mas que merece toda a atenção da administração pública e sociedade, uma vez que o interesse maior é conciliar a realização de eventos com a preservação dos espaços públicos”, informou a prefeitura, por meio de nota.