A Polícia Militar culpou a organização do bloco, que mobilizou as pessoas pela internet sem autorização da prefeitura“É uma grande irresponsabilidadeO evento não teve autorização devida e, por essa razão, a polícia desconhecia a festa”, disse o comandante do 16º Batalhão da PM, tenente-coronel Robson José de Queiroz, acrescentando que o gestor do turno que trabalhava no momento da confusão precisou mobilizar vários policiais para dar conta do tamanho do evento“De fato ocorreram várias confusões, mas a PM avaliou que a melhor saída era garantir a segurança, em vez de pôr fim ao eventoRegistramos boletim de ocorrência a ser encaminhado amanhã (hoje) ao Ministério Público mostrando que os organizadores fizeram um evento sem autorização.”
Até ontem à noite, um site que traz atrações culturais em BH mantinha o anúncio da festa, alardeando que “as ruas do Bairro Cidade Nova prometem se encher de alegria neste sábado, das 14h às 22hSão esperadas mais de 2 mil pessoas.” Segundo os moradores, algumas pessoas em nome da organização do evento até procuraram donos de casas e apartamentos, principalmente na esquina das ruas Bernardino Sena Figueiredo e Professor Amedée Peret pedindo autorização“Eles disseram que seria uma espécie de ressaca do carnaval das 14h às 22h e não colocamos restrições”, contou a aposentada Ana Maria Parreiras, de 60 anos, cuja frente da casa concentrou o eventoNo entanto, não foi o que se viu
Os responsáveis por um bar em frente ao Parque Ecológico do Bairro Cidade Nova, na mesma rua do evento, fecharam o estabelecimento assim que a multidão se formou“A rua virou um campo de guerraResolvemos então fechar, por precauçãoVimos várias brigas que encheram o asfalto de sangueUma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a comparecer, mas o carro teve dificuldades para passar”, contou uma das proprietárias.
O momento mais crítico ocorreu por volta das 20h, quando a PM chegou e tirou os carros de som que atormentavam os moradoresAté a Igreja Santa Luzia foi prejudicada com a algazarra“A missa das 19h foi celebrada com pouca gente, devido ao barulho ensurdecedor ao fundo”, disse padre Pedro Santos
Ontem, a primeira atitude da síndica do edifício na esquina das ruas Amedée Peret e Bernardino Figueiredo, Claudilene Moreira, de 41 anos, foi telefonar para a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) pedindo providências com relação à limpeza“Eles pediram três ou quatro dias para limpar, então os cinco moradores do prédio resolveram adiantar o serviçoOs participantes da festa também quebraram uma pedra de mármore na entrada da garagem”, disseForam necessárias diversas caixas para acomodar as garrafas jogadas nas ruasTudo de vidroUm dos moradores do condomínio, Antônio Andrade, de 67, confirmou que o transtorno foi geral“Estava complicado até para sair a péFoi preciso negociar com as pessoas para que pudéssemos sair de nossas casas.”
Cancelamento
O estudante Augusto Figueiredo Rodrigues, de 18 anos, foi um dos que ajudaram na limpeza na tarde de ontem, com amigos de um grupo de jovens da Igreja Santa LuziaEle participou de boa parte do evento e contou que, “quando os organizadores souberam do veto do evento pela PBH, cancelaram a reunião pelo Facebook e espalharam cartazes pelas ruas anunciando o fim do bloco”, disse o estudantePorém, cerca de 10 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, já estavam mobilizadas“Acredito que outras pessoas aproveitaram da situação em nome de outro bloco de carnaval para fazer a festa”, acrescentou o estudante Augusto.
A PBH informou que chegou a ser procurada para licenciar o evento, porém, como faltou o laudo do Corpo de Bombeiros, a licença foi negadaSegundo a administração municipal, os prejuízos serão avaliados e as punições cabíveis serão aplicadas de acordo com o porte do eventoO EM tentou entrar em contato com os responsáveis pelo Bloco Cidade Love, mas não encontrou ninguém, assim como na BHTrans, para responder às críticas dos moradores de que chamaram a autarquia e nenhum representante compareceu ao local.
Memória - Patrimônio atingido
No dia 12, um evento licenciado na Regional Centro-Sul da Prefeitura de Belo Horizonte com o nome 1º Concurso Mineiro de Marchinhas de Carnaval levou destruição à Praça da Liberdade, nos bairros Lourdes e FuncionáriosA organização garante que prestou todas as informações à PBH sobre as atrações da festa, porém, a administração municipal diz que o show da banda Monobloco, que arrasta milhares de fãs por onde passa, não foi mencionado no licenciamentoO resultado foram cerca de 10 mil pessoas na praça e um rastro de destruição, com grama destruída, canteiros danificados, luminária arrancada, lixo espalhado, cheiro de urina por todo lado e lustres roubados no Museu das Minas e do MetalA PBH multou os organizadores em cerca de R$ 1,2 mil por “realizar evento em logradouro público em desconformidade com a licença ou com as normas”, conforme o Código de Posturas.