O sobrepeso que acomete estudantes de todo o país não se revela apenas no corpo, mas tem reflexos psicológicos significativos. As estatísticas que indicam obesidade entre crianças e adolescentes se tornam mais alarmantes quando revelam o comportamento dos jovens em relação ao excesso de peso e aparência física. Em Belo Horizonte, com resultados sempre acima da média nacional, 18,4% dos adolescentes se acham gordos ou muito gordos, 29,2% querem perder peso e 8,1% admitem ter provocado vômito ou ingerido medicamentos para emagrecer, de acordo com levantamento da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), a partir de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com estudantes entre 13 e 15 anos.
Hábitos
Mudar comportamentos desse tipo é o principal desafio, na opinião de Maria José Nogueira, pesquisadora da Escola de Saúde Pública (ESP) e integrante do grupo de trabalho intersetorial do governo de Minas no Programa Saúde na Escola (PSE). Psiquiatra da Abeso, Adriano Segal orienta educadores e pais a evitar atitudes superprotetoras ou excessivamente críticas com o jovem que tem dificuldade em controlar o peso, uma vez que ele já pode ser vítima de discriminação e bullying. “Adotar hábitos saudáveis é uma missão que deve se estender a todos da família. Além da alimentação, atividades que envolvam movimento e espaços abertos devem ter prioridade sobre atividades indoor.”
É o que já faz a família de Pedro, de 8 anos. Mãe, pai e filho fazem acompanhamento com nutricionista e não abrem mão de atividades físicas. “Se a família toda não mudar, não tem como. É muito difícil uma criança tomar consciência sobre os efeitos dá má alimentação, diante de tantas as tentações”, diz o pai, preocupando também com outros fatores, como o genético e o emocional.
Prevenção de efeitos a longo prazo
Para enfrentar o fenômeno da obesidade entre jovens, a meta do governo, como disse a presidente Dilma Rousseff no lançamento do programa Saúde na Escola, é prevenir distúrbios futuros. “No Brasil, as doenças crônicas não transmissíveis, que têm como fatores de risco a inatividade física, a alimentação não saudável, o sobrepeso e obesidade, respondem por 72% das mortes”, informa o Ministério da Saúde. A obesidade está relacionada a altos níveis de gordura e açúcar no sangue, excesso de colesterol e pré-diabetes. Também está associada a doenças cardiovasculares, como as isquêmicas (infarto, trombose, embolia e arteriosclerose), além de problemas ortopédicos, asma, apneia do sono, alguns tipos de câncer e distúrbios psicológicos. É ainda fator de risco para problemas de pele e infertilidade.
O pediatra Flávio Capanema, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), explica que a obesidade está relacionada com a síndrome metabólica, que é a combinação de fatores genéticos e ambientais, ingestão excessiva de calorias e redução de atividade física. “Seu aumento em crianças e adolescentes pode causar doenças quando adultos, o que eleva a morbidade, a mortalidade e os custos de saúde pública”, diz o especialista, alertando para a necessidade de medidas preventivas em todas as idades.
A pesquisa que aponta sobrepeso em 15% dos estudantes de 6 a 14 anos na rede municipal de BH serve de alerta, de acordo com a gerente de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde, Maria Luísa Tostes. Segundo ela, a prefeitura vem intensificando os trabalhos de prevenção da obesidade infantil, mas a mudança dos hábitos alimentares e quanto ao sedentarismo é tarefa difícil. “O controle é dever público e também das famílias. A prevenção começa na gravidez, passa pelo aleitamento materno e exames médicos periódicos nas crianças”, destacou.
Para avaliação da obesidade infantil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), baseado na equação de divisão do peso pela altura ao quadrado. Mas para cada idade e sexo há um intervalo de variação. Em termos gerais, IMC superior a 25% indica sobrepeso e acima de 30%, obesidade.
Abrangência
As ações de prevenção e controle estão previstas em 169 das 186 escolas de BH, diz a Secretaria de Saúde da capital. No estado, porém, apenas 305 dos 853 municípios aderiram ao Programa Saúde na Escola (PSE), informou o Ministério da Saúde. Apesar disso, Valéria Monteiro de Jesus, responsável técnica do Programa Nacional de Alimentação Escolar, ligada à Secretaria de Estado da Educação, disse que todas as escolas da rede estadual têm preocupação com a questão e adotam um cardápio saudável. “Todas seguem os parâmetros nutricionais nacionais, cuja refeição corresponde a 20% das necessidades diárias. Temos um cardápio anual com 52 preparações, que levam em consideração pelo menos 200 gramas de vegetais e frutas por semana”, destacou.