A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) não vai autorizar a festa pós-carnaval do bloco Vou passar a noite com elas, prevista para ocorrer sábado à tarde na Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, Região Sul de Belo Horizonte. A convocação para a festa está sendo feita no Facebook e cerca de 15 mil pessoas foram convidadas, das quais mais de 4,6 mil haviam confirmado presença até ontem. O ritmo de adesão aumenta à medida que a festa se aproxima, e o tom dos organizadores do evento é de desafio à PBH e à Polícia Militar, uma vez que festas anteriores causaram problemas de desordem e depredação na capital.
Em menos de um mês, este é o terceiro flash mob (festas instantâneas convocadas por meio das redes sociais) programado para Belo Horizonte. O primeiro, a Cobre Folia, foi marcado para 10 de fevereiro, em frente à Fumec, no Bairro Cruzeiro. A Polícia Militar, depois de uma reunião com o Ministério Público e a prefeitura, ocupou preventivamente o local e a festa não ocorreu. O segundo, a Cidade Love, ocorreu sábado no Cidade Nova e resultou em vandalismo e baderna.
Além da PBH, a Comissão de Monitoramento de Eventos Esportivos e Culturais (Comovec), ligada à Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) está vigiando a festa marcada para a Praça do Papa. “Temos dois investigadores acompanhando as redes sociais 24 horas por dia. Se mudarem o local do evento meia hora antes, temos como saber”, informou uma fonte da Comovec. A PM deve ocupar a Praça do Papa ou qualquer outro local para onde a festa for marcada bem antes da chegada dos participantes, como foi feito na Cobre Folia.
Agentes da Guarda Municipal vão multar os carros que estacionarem em local proibido nas imediações da festa. Os fiscais da Regional Centro-Sul vão atuar, com base no Código de Posturas, inviabilizando a montagem de estruturas de palco e o funcionamento de som automotivo acima do limite fixado pela Lei do Silêncio, além de proibir a presença de ambulantes vendendo cerveja e salgadinhos. “Se a festa tivesse licença da prefeitura, a PM estaria lá para apoiar. Como não tem, vamos nos estruturar para que o evento não ocorra”, alerta o tenente-coronel Luiz José Francisco Fialho Filho, comandante do 22ª Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento da região.
Desafio
No Facebook, o tom de alguns jovens que confirmaram sua presença no evento é de desafio. “Acho que nem o Bope vai segurar dessa vez, vai bombar”, disse um rapaz, enquanto outro afirmou que “vai dar problema com a PM se ela descobrir que estamos roubando a cena”. Poucos são os que lembram que é preciso preservar o local do evento e evitar atos de vandalismo como os ocorridos sábado no Cidade Nova.
A falta de espaço para as manifestações espontâneas dos jovens é outro ponto da questão que o vereador Arnaldo Godoy (PT) defende. “É preciso sentar e pensar o que fazer em relação a essas manifestações, buscando uma solução, diz o político, autor da Lei nº10.277, de 2011, que determina que a prefeitura não pode interferir na realização de eventos nas praças da cidade, desde que não atrapalhem o trânsito de pedestres nem tenham som alto ou obstruam o trânsito. A lei não estabelece número mínimo de participantes do evento, nem a exigência de um caráter político ou cultural.
Protesto contra Saint Patrick
A Associação dos Moradores do Bairro Anchieta (Amoran) divulgou nota oficial protestando contra a realização da festa de Saint Patrick’s Day, programada para 17 de março no Parque JK, na Avenida Bandeirantes, Bairro Sion. No documento, o presidente da entidade, Saulo Lages Jardim, diz que os usuários do Parque JK “se sentem vilipendiados por não termos recebido uma consulta prévia quanto à realização do evento. Seria no mínimo de bom tom consultar a vizinhança”, diz o líder comunitário.
Saulo Lages manifesta preocupação com os riscos de realização de um evento de grande porte no parque, “que recentemente foi reformado, recebendo novos equipamentos que servem à população”. Acrescenta que o local agora está prestes a ser exposto à depredação, como o que ocorreu na Praça da Liberdade às vésperas do carnaval e o que houve na Savassi no ano passado, quando da realização da edição 2011 do Saint Patrick’s Day.
A Amoran também manifesta temor da ocorrência de problemas no trânsito e na segurança, antes, durante e depois da festa, “pois é notório que aquele espaço do JK não está preparado para grandes públicos como também não tem localização adequada para abrigar um evento deste vulto que, no ano passado, recebeu pelo menos 35 pessoas, de acordo com informações dos próprios organizadores”.
Ao concluir, o representante da Amoran diz que a entidade não é contrária à realização desse tipo de festividade, que deve ser aplaudida, “desde que se faça com planejamento e respeito aos cidadãos e à própria cidade. Reconhecemos que Belo Horizonte deve investir na realização de eventos que cativem o interesse nacional. Contudo, também é fundamental que tais eventos sejam direcionados para locais adequados, estruturados para recebê-los. Improvisos e tentativas, como provam experiências anteriores, podem ser extremamente prejudiciais ao patrimônio público e ao bem estar dos cidadãos, de um modo geral.
MEMÓRIA: Álcool, drogas e barulho
Em 27 de fevereiro do ano passado, o Estado de Minas publicou reportagem mostrando que a Praça da Papa, um dos endereços mais nobres da capital, havia se transformado em território sem lei. Grupos de jovens, muitos menores de 18 anos, ocupavam o local nas madrugadas de quinta a domingo para ouvir funk a todo volume e consumir bebidas alcóolicas e drogas.
Moradores da região chegaram a ser ameaçados por frequentadores armados desses encontros. Os invasores paravam os carros e as motocicletas nas entradas das garagens, impediam as pessoas de entrar e sair e ainda as ameaçavam de agressão e de morte caso reclamassem do incômodo. Sujeira, garrafas e latas jogadas nos canteiros e jardins completavam o quadro de vandalismo.
Depois da reportagem, a Polícia Militar e representantes da Regional Centro-Sul se reuniram para definir ações que coibissem o desrespeito. O policiamento foi reforçado e a presença dos grupos de vândalos na região foi reprimido.
PALAVRA DE ESPECIALISTA: RAFAEL BARROS, ANTROPÓLOGO E CONSELHEIRO MUNICIPAL DA REGIONAL CENTRO-SUL
Espaço de convivência
“A cidade é um espaço de convivência e de uso coletivo. O que é público é do público e não pode ter a proibição como uma prerrogativa. Se você considera um espaço como sendo seu e pode usufruir dele, você passa a cuidar. Há um processo de educação das pessoas. Na Constituição, existe a garantia de se manifestar politicamente no espaço público. Por outro lado, eventos sem conotação política devem seguir as estruturas normativas da prefeitura. Uma cidade de mais de 2 milhões de habitantes tem de ter parâmetros mínimos para continuar existindo”.
Em menos de um mês, este é o terceiro flash mob (festas instantâneas convocadas por meio das redes sociais) programado para Belo Horizonte. O primeiro, a Cobre Folia, foi marcado para 10 de fevereiro, em frente à Fumec, no Bairro Cruzeiro. A Polícia Militar, depois de uma reunião com o Ministério Público e a prefeitura, ocupou preventivamente o local e a festa não ocorreu. O segundo, a Cidade Love, ocorreu sábado no Cidade Nova e resultou em vandalismo e baderna.
Além da PBH, a Comissão de Monitoramento de Eventos Esportivos e Culturais (Comovec), ligada à Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) está vigiando a festa marcada para a Praça do Papa. “Temos dois investigadores acompanhando as redes sociais 24 horas por dia. Se mudarem o local do evento meia hora antes, temos como saber”, informou uma fonte da Comovec. A PM deve ocupar a Praça do Papa ou qualquer outro local para onde a festa for marcada bem antes da chegada dos participantes, como foi feito na Cobre Folia.
Agentes da Guarda Municipal vão multar os carros que estacionarem em local proibido nas imediações da festa. Os fiscais da Regional Centro-Sul vão atuar, com base no Código de Posturas, inviabilizando a montagem de estruturas de palco e o funcionamento de som automotivo acima do limite fixado pela Lei do Silêncio, além de proibir a presença de ambulantes vendendo cerveja e salgadinhos. “Se a festa tivesse licença da prefeitura, a PM estaria lá para apoiar. Como não tem, vamos nos estruturar para que o evento não ocorra”, alerta o tenente-coronel Luiz José Francisco Fialho Filho, comandante do 22ª Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento da região.
Desafio
No Facebook, o tom de alguns jovens que confirmaram sua presença no evento é de desafio. “Acho que nem o Bope vai segurar dessa vez, vai bombar”, disse um rapaz, enquanto outro afirmou que “vai dar problema com a PM se ela descobrir que estamos roubando a cena”. Poucos são os que lembram que é preciso preservar o local do evento e evitar atos de vandalismo como os ocorridos sábado no Cidade Nova.
A falta de espaço para as manifestações espontâneas dos jovens é outro ponto da questão que o vereador Arnaldo Godoy (PT) defende. “É preciso sentar e pensar o que fazer em relação a essas manifestações, buscando uma solução, diz o político, autor da Lei nº10.277, de 2011, que determina que a prefeitura não pode interferir na realização de eventos nas praças da cidade, desde que não atrapalhem o trânsito de pedestres nem tenham som alto ou obstruam o trânsito. A lei não estabelece número mínimo de participantes do evento, nem a exigência de um caráter político ou cultural.
Protesto contra Saint Patrick
A Associação dos Moradores do Bairro Anchieta (Amoran) divulgou nota oficial protestando contra a realização da festa de Saint Patrick’s Day, programada para 17 de março no Parque JK, na Avenida Bandeirantes, Bairro Sion. No documento, o presidente da entidade, Saulo Lages Jardim, diz que os usuários do Parque JK “se sentem vilipendiados por não termos recebido uma consulta prévia quanto à realização do evento. Seria no mínimo de bom tom consultar a vizinhança”, diz o líder comunitário.
Saulo Lages manifesta preocupação com os riscos de realização de um evento de grande porte no parque, “que recentemente foi reformado, recebendo novos equipamentos que servem à população”. Acrescenta que o local agora está prestes a ser exposto à depredação, como o que ocorreu na Praça da Liberdade às vésperas do carnaval e o que houve na Savassi no ano passado, quando da realização da edição 2011 do Saint Patrick’s Day.
A Amoran também manifesta temor da ocorrência de problemas no trânsito e na segurança, antes, durante e depois da festa, “pois é notório que aquele espaço do JK não está preparado para grandes públicos como também não tem localização adequada para abrigar um evento deste vulto que, no ano passado, recebeu pelo menos 35 pessoas, de acordo com informações dos próprios organizadores”.
Ao concluir, o representante da Amoran diz que a entidade não é contrária à realização desse tipo de festividade, que deve ser aplaudida, “desde que se faça com planejamento e respeito aos cidadãos e à própria cidade. Reconhecemos que Belo Horizonte deve investir na realização de eventos que cativem o interesse nacional. Contudo, também é fundamental que tais eventos sejam direcionados para locais adequados, estruturados para recebê-los. Improvisos e tentativas, como provam experiências anteriores, podem ser extremamente prejudiciais ao patrimônio público e ao bem estar dos cidadãos, de um modo geral.
MEMÓRIA: Álcool, drogas e barulho
Em 27 de fevereiro do ano passado, o Estado de Minas publicou reportagem mostrando que a Praça da Papa, um dos endereços mais nobres da capital, havia se transformado em território sem lei. Grupos de jovens, muitos menores de 18 anos, ocupavam o local nas madrugadas de quinta a domingo para ouvir funk a todo volume e consumir bebidas alcóolicas e drogas.
Moradores da região chegaram a ser ameaçados por frequentadores armados desses encontros. Os invasores paravam os carros e as motocicletas nas entradas das garagens, impediam as pessoas de entrar e sair e ainda as ameaçavam de agressão e de morte caso reclamassem do incômodo. Sujeira, garrafas e latas jogadas nos canteiros e jardins completavam o quadro de vandalismo.
Depois da reportagem, a Polícia Militar e representantes da Regional Centro-Sul se reuniram para definir ações que coibissem o desrespeito. O policiamento foi reforçado e a presença dos grupos de vândalos na região foi reprimido.
PALAVRA DE ESPECIALISTA: RAFAEL BARROS, ANTROPÓLOGO E CONSELHEIRO MUNICIPAL DA REGIONAL CENTRO-SUL
Espaço de convivência
“A cidade é um espaço de convivência e de uso coletivo. O que é público é do público e não pode ter a proibição como uma prerrogativa. Se você considera um espaço como sendo seu e pode usufruir dele, você passa a cuidar. Há um processo de educação das pessoas. Na Constituição, existe a garantia de se manifestar politicamente no espaço público. Por outro lado, eventos sem conotação política devem seguir as estruturas normativas da prefeitura. Uma cidade de mais de 2 milhões de habitantes tem de ter parâmetros mínimos para continuar existindo”.