"Não são cinco estrelas
Professora adjunta do curso de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, ela já rodou os quatro cantos do mundo para cuidar de pessoas que estão às margens do sistema de saúdeAtuou como voluntária em estados brasileiros em que há déficit de médicos, como Rondônia, Maranhão, e localidades como Ilha do Marajó e Santarém, no ParáNo Amazonas, percorreu o rio mais extenso e com maior vazão do mundo para atender a população ribeirinha, que com pouca assistência do estado fica sujeita à própria sorteFora do Brasil, atuou em áreas devastadas por terremotos e pela pobreza, como o Haiti, na América Central, e o Camboja, na Ásia.
Os cursos e participações em congressos em centros de pesquisa de ponta na Europa, no Japão e nos Estados Unidos, que fazem dela uma cientista reconhecida em seu campo de atuação (a genética), são subsídios para ela mudar realidades em comunidades indígenas, de ribeirinhos, portadores de doenças raras e vítimas de tragédias naturaisA muitos desses locais tão remotos, Eugênia só conseguiu chegar de aviáo ou barco, mas a dificuldade não a impediu de prosseguir com essa que considera ser sua missão de vida.
Em outras áreas, atendeu em acampamentos improvisados em meio a escombros, sujeira e desolaçãoPara quem esteve em laboratórios supertecnológicos na Alemanha, as condições precárias de atendimento só reforçam a importância de uma prática médica que possa fazer diferença"Sempre penso no que a gente pode fazer para não ser conveniente com as situações de injustiça que temos vivido"
Quando foi para o Haiti, em julho do ano passado, entrou em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte e conseguiu a doação de 500 quilos de medicamentos, como kits para hidratação oral, e também de material para fazer exames de urina, glicemia, glicose, entre outros"Éramos médicos de todo o mundo e tratávamos de doenças como diarreia, verminoses, gripes, que são um problema no paísEm alguns lugares, as pessoas morrem vítimas de epidemias de cólera", conta.
Às vésperas de ir para o Haiti, entrou em contato com cientistas japoneses com quem já havia trabalhado em um intercâmbio financiado pelo governo japonêsA médica brasileira queria saber se os amigos estavam bem depois do terremoto que atingiu FukushimaAo dizer que estava indo para um país também assolado pelo terremoto os colegas se espantaram"Eles me perguntaram se eu tinha coragem de ir para um lugar assim." Nenhum problema para essa mulher que fez a opção visceral por salvar pessoas.
O amor pela medicina é uma herança de família e também um reconhecimento da ação de Deus em sua vida"Meu pai me dizia que fizesse medicina e não me preocupasse com dinheiroNunca tive problemas financeiros, mas vejo que muita gente se torna escravo dele." Solteira e sem filhos, Eugênia teve várias oportunidades de se casar, mas a medicina social sempre falou mais altoNo futuro, pretende irm à Jordânia, onde quer pesquisar a genética de um grupo de surdos da região.
Metabolismo
Em Belo Horizonte, a geneticista está à frente do Laboratório de Erros Inatos do Metabolismo do Hospital das Clínicas/UFMG, onde emprega seu conhecimento na descoberta de formas de tratamento contra doenças raras
O trabalho de Eugênia é referência para outros colegas, uma vez que existem poucos estudos sobre essas enfermidades, o que faz com que os médicos as desconheçam e, consequentemente, atrasem o diagnósticoPor sua atuação nesse ramo da medicina, ela foi indicada por familiares de pacientes brasileiros que venderam tudo para tratar os filhos nos Estados Unidos a participar de intercâmbio com médicos que receberam o Prêmio Albert Schweizer, que reconhece mundialmente ações humanitáriasNa cidade de Strasburg, na Pensilvânia (EUA), atendeu a população de menonnites e amish, grupos religiosos, em que há grande incidência de doenças genéticas: por questões culturais ocorrem muitos casamentos consanguíneos.
A geneticista brasileira atendeu essa população no fim de 2011, durante 10 diasQuando estava lá, entre 13 e 23 de dezembro, comemorou 51 anos de vidaMas, maravilhada com a possibilidade de fazer diferença na vida das pessoas, não quis bolo ou qualquer outro tipo de celebraçãoSeu presente foi continuar ajudando as pessoasJuntamente com o diretor médico da Clinic for Special Children, Kevin Strauss, e o fundador da entidade, Holmes Morton, ela foi de casa em casa dos pacientes com doenças genéticasAlém do serviço médico, para Eugênia foi uma alegria trabalhar lado a lado com Morton, que foi capa da revista Times com o título “Heróis da medicina”“Eles fazem um trabalho de excelência e mudaram a história de tratamento de algumas doenças metabólicas raras, com reconhecimento mundial da comunidade cientídica”, ressaltaPor aqui, longe dos holofotes, Eugênia Ribeiro Valadares também muda a forma como esses pacientes são tratados, não só os acolhendo, mas apresentando diagnósticos precisos de problemas que afligem as famílias, mas que poucos médicos conseguiram saber do que se tratava.