No primeiro momento, olhar de curiosidade, apenas para ver o ritmo de algo prometido para garantir fluidez no trânsito e mudar os ares da mobilidade urbana em Belo Horizonte. Mas, com um pouco mais de atenção, é possível notar que os equipamentos que marcam o traçado do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) na Avenida Antônio Carlos – entre o Viaduto São Francisco e a Avenida Marechal Espiridião Rosa – esbarram em outras célebres “moradoras” da avenida. Nesse trecho, as palmeiras-imperiais, imponentes no canteiro central da via, estão sendo sufocadas pelo concreto.
Mas especialistas desconfiam dessa análise. Professor de ecologia e evolução da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), o pós-doutor Sérvio Pontes Ribeiro afirma que a técnica do corte é algo para se ficar atento. “É perfeitamente possível cortar próximo à árvore e mantê-la em pé, sem riscos. O problema é o concreto grudado a ela, fazendo-a perder solo”, diz. Ele explica que o equilíbrio da planta leva em conta a copa que ela mantém em cima e as ramificações embaixo.
“Quando se corta muito perto, é como se fosse arrancada metade da copa. A palmeira se ajusta melhor se a raiz não for cortada, mas a base tem uma espécie de cabeleira, que se ampara no local onde ela está. Já as árvores maiores, como a mangueira, embora tenham raízes profundas, têm também as raízes auxiliares, que se espalham. Por isso, não há como cortar rente e não levar junto uma parte da estrutura do espécime”, relata. O professor lembrou o caso da sete-cascas, exemplar de cerca de 30 anos plantado na Savassi, que só não foi derrubada pela Prefeitura de BH em novembro por causa da mobilização popular. “Por muito menos, a prefeitura alegou que ela estava desequilibrada e ameaçava cair. É um total desrespeito. Não planejam nada. Para essa prefeitura, árvore é perfeitamente removível”, critica.
Complexo toma forma
O BRT da Antônio Carlos/Pedro I é um dos três sistemas que prometem incrementar a mobilidade urbana na cidade para a Copa de 2014, e está previsto para ser concluído em março do ano que vem. Na Avenida Antônio Carlos, as obras estão em fase de implantação de pavimento entre as ruas Alcobaça e Major Delfino de Paiva, no sentido Bairro-Centro. Ao longo da Pedro I, continuação da Antônio Carlos e importante ligação entre o Centro de BH e o Vetor Norte, o quebra-quebra dos imóveis está por todo lado. Está em andamento ainda a armação e concretagem nos muros de arrimo na Rua Sapucaí-Mirim (esquina com Avenida Pedro I), terraplenagem na pista de tráfego misto e na do BRT próximo ao viaduto B do Complexo Portugal. A obra de arte da Avenida Portugal será demolida para a construção de outras duas, adaptadas à nova Pedro I. Nesse ponto será erguida a Estação Pampulha, integrando várias linhas do novo modal. Alças e viadutos farão a ligação das avenidas do entorno à central de ônibus.
Na Pedro I, enquanto demolições e outras intervenções avançam e despertam polêmica com proprietários que devem dar lugar ao novo complexo, há quem aguarde o desfecho das obras com uma perspectiva de mudança para melhor. Na Escola Estadual José Heilbuth Gonçalves, a um quarteirão do cruzamento com a Avenida Portugal, é esse o clima. O pátio foi destruído para que a Pedro I fosse alargada. O muro que separa a instituição da avenida está agora a pouco mais de um metro das janelas das salas de aula. A auxiliar de enfermagem Maria Piedade Silva, de 56, conta que a filha, aluna do 5º ano do ensino fundamental, tem reclamado muito do barulho do trânsito e das obras. “A professora explica, mas os alunos têm dificuldade de entender.”
A diretora da escola, Eliamar de Almeida, espera posicionamento do estado e da prefeitura sobre a mudança. “O terreno onde o novo prédio será construído, na Avenida Martinica, foi apresentado à direção anterior. Essa mudança, que tramita há dois anos, é uma preocupação dos pais. Para aliviar o barulho para alunos e funcionários, foram necessárias adaptações, como a definição de os operários trabalharem na obra somente aos sábados”, disse. A Secretaria de Estado de Educação informou que a cessão do terreno pela PBH está em fase de negociação.