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Estado de Minas

Corredor verde fica sufocado na Avenida Antônio Carlos

Reforma da pista exclusiva de ônibus na Avenida Antônio Carlos sacrifica palmeiras-imperiais, que recebem impermeabilização rente ao tronco. Sudecap não vê risco. Especialista pede cautela


postado em 09/03/2012 06:00 / atualizado em 09/03/2012 06:39

Alargamento de via exigiu corte na base de árvores. Para técnicos do município, equilíbrio não foi afetado(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Alargamento de via exigiu corte na base de árvores. Para técnicos do município, equilíbrio não foi afetado (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

No primeiro momento, olhar de curiosidade, apenas para ver o ritmo de algo prometido para garantir fluidez no trânsito e mudar os ares da mobilidade urbana em Belo Horizonte. Mas, com um pouco mais de atenção, é possível notar que os equipamentos que marcam o traçado do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) na Avenida Antônio Carlos – entre o Viaduto São Francisco e a Avenida Marechal Espiridião Rosa – esbarram em outras célebres “moradoras” da avenida. Nesse trecho, as palmeiras-imperiais, imponentes no canteiro central da via, estão sendo sufocadas pelo concreto.

As valetas estão abertas rente às bases das árvores, deixando raízes expostas. Uma mangueira, cuja copa serve de sombra aos operários, também tem metade da estrutura de sustentação caída talude abaixo. Na parte que já recebeu novo pavimento, o piche fresco esbarra nas palmeiras. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), responsável pelas obras, tenta tranquilizar quem se preocupa com o futuro dos espécimes. A  equipe técnica garante que a remoção do asfalto para aplicação do novo pavimento não representa risco de queda para as árvores. Isso porque, segundo os mesmos técnicos, a retirada de terra é feita em somente um dos lados da raiz. Assim, as demais ramificações que permanecem no solo garantiriam a estabilidade do exemplar.

Mas especialistas desconfiam dessa análise. Professor de ecologia e evolução da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), o pós-doutor Sérvio Pontes Ribeiro afirma que a técnica do corte é algo para se ficar atento. “É perfeitamente possível cortar próximo à árvore e mantê-la em pé, sem riscos. O problema é o concreto grudado a ela, fazendo-a perder solo”, diz. Ele explica que o equilíbrio da planta leva em conta a copa que ela mantém em cima e as ramificações embaixo.

“Quando se corta muito perto, é como se fosse arrancada metade da copa. A palmeira se ajusta melhor se a raiz não for cortada, mas a base tem uma espécie de cabeleira, que se ampara no local onde ela está. Já as árvores maiores, como a mangueira, embora tenham raízes profundas, têm também as raízes auxiliares, que se espalham. Por isso, não há como cortar rente e não levar junto uma parte da estrutura do espécime”, relata. O professor lembrou o caso da sete-cascas, exemplar de cerca de 30 anos plantado na Savassi, que só não foi derrubada pela Prefeitura de BH em novembro por causa da mobilização popular. “Por muito menos, a prefeitura alegou que ela estava desequilibrada e ameaçava cair. É um total desrespeito. Não planejam nada. Para essa prefeitura, árvore é perfeitamente removível”, critica.

Complexo toma forma

O BRT da Antônio Carlos/Pedro I é um dos três sistemas que prometem incrementar a mobilidade urbana na cidade para a Copa de 2014, e está previsto para ser concluído em março do ano que vem. Na Avenida Antônio Carlos, as obras estão em fase de implantação de pavimento entre as ruas Alcobaça e Major Delfino de Paiva, no sentido Bairro-Centro. Ao longo da Pedro I, continuação da Antônio Carlos e importante ligação entre o Centro de BH e o Vetor Norte, o quebra-quebra dos imóveis está por todo lado. Está em andamento ainda a armação e concretagem nos muros de arrimo na Rua Sapucaí-Mirim (esquina com Avenida Pedro I), terraplenagem na pista de tráfego misto e na do BRT próximo ao viaduto B do Complexo Portugal. A obra de arte da Avenida Portugal será demolida para a construção de outras duas, adaptadas à nova Pedro I. Nesse ponto será erguida a Estação Pampulha, integrando várias linhas do novo modal. Alças e viadutos farão a ligação das avenidas do entorno à central de ônibus.

Na Pedro I, enquanto demolições e outras intervenções avançam e despertam polêmica com proprietários que devem dar lugar ao novo complexo, há quem aguarde o desfecho das obras com uma perspectiva de mudança para melhor. Na Escola Estadual José Heilbuth Gonçalves, a um quarteirão do cruzamento com a Avenida Portugal, é esse o clima. O pátio foi destruído para que a Pedro I fosse alargada. O muro que separa a instituição da avenida está agora a pouco mais de um metro das janelas das salas de aula. A auxiliar de enfermagem Maria Piedade Silva, de 56, conta que a filha, aluna do 5º ano do ensino fundamental, tem reclamado muito do barulho do trânsito e das obras. “A professora explica, mas os alunos têm dificuldade de entender.”

A diretora da escola, Eliamar de Almeida, espera posicionamento do estado e da prefeitura sobre a mudança. “O terreno onde o novo prédio será construído, na Avenida Martinica, foi apresentado à direção anterior. Essa mudança, que tramita há dois anos, é uma preocupação dos pais. Para aliviar o barulho para alunos e funcionários, foram necessárias adaptações, como a definição de os operários trabalharem na obra somente aos sábados”, disse. A Secretaria de Estado de Educação informou que a cessão do terreno pela PBH está em fase de negociação.
 


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