Viúvas de Idi Amin, as gorilas inglesas Imbi e Kifta estão à espera de um novo pretendente. A Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte (FZB) vai retomar, nos próximos dias, negociações com a Fundação John Aspinall, santuário de proteção de espécies em extinção que cedeu as fêmeas, e com o comitê de proteção de gorilas da Associação Europeia de Zoológicos para tentar trazer para BH um sucessor que dê continuidade ao reinado de Idi Amin. O macho dominante de costas cinza-prateadas, conhecido como silverback, morreu na manhã de quarta-feira e por 37 anos imperou absoluto no zoo da capital mineira.
Antes da chegada de Imbi e Kifta, em agosto, Idi, morto aos 39 anos por causa de doenças crônicas decorrentes da idade avançada (em cativeiro, esses animais costumam a viver, no máximo, 40 anos), era o único gorila da América do Sul. As fêmeas vieram para BH por meio de um convênio com a Fundação John Aspinall, com o objetivo de se criar um núcleo reprodutivo para a preservação de gorilas. Como o futuro das duas permanece indefinido, a FZB, além de cuidar do destino do corpo de Idi, que será taxidermizado e levado para o Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), começa agora uma empreitada para mantê-las em território belo-horizontino.
“Na próxima semana, faremos contato com a Fundação Aspinall e o comitê de proteção de gorilas da Associação Européia de Zoológicos, para reiterar nosso interesse e compromisso em trabalhar com espécies ameaçadas, principalmente os gorilas, devido à nossa experiência e sucesso na manutenção de Idi e mais recentemente, Imbi e Kifta”, afirma o diretor do Zoológico de BH, Carlyle Mendes Coelho. Além da permanência das duas, o esforço é para a chegada de um outro gorila. “Vamos pedir a essas instituições que avaliem a possibilidade de recebermos um novo macho da espécie”, destaca o diretor.
A comunidade científica estima que o total da população desses animais, originais do Norte do Congo, não passe de 125 mil indivíduos. A chegada de Imbi e Kifta, de 11 anos, teve como principal intenção tentar reverter essa ameaça. As duas vieram do zoológico Howletts, na Inglaterra, por meio de um enorme aparato, que envolveu viagens em caminhões e aeronaves, além de uma bateria de exames. Desde o início, as primatas se adpataram bem à nova casa e, com as novas companheiras, Idi havia assumido o papel de macho dominante.
EXPECTATIVA
O estudante Leandro Pereira, de 21 anos, que visitou o zoo no dia da morte de sua principal atração, está na torcida para o sucesso das negociações. “Tem que trazer outro gorila para cá, pois é o ponto de referência do zoológico”, diz. Mas nem mesmo a chegada de um novo gorila ameniza a saudade de quem por mais de 24 anos conviveu com o falecido Idi Amin. “É uma perda irreparável. Tenho boas recordações dele – mais parecia gente – e torço para que uma das fêmeas esteja grávida”, diz Maria da Conceição Pereira, de 51, quase a metade trabalhando ao lado do recinto do gorila falecido, num quiosque de sorvete. Também a garota Letícia Nolasco, de 5 anos, esteve no zoo quarta-feira para ver Idi Amin e ficou triste com a sua morte e o recinto vazio.
Apesar da torcida, o presidente da FZB, Evandro Xavier, descarta a possibilidade. Embora Imbi e Idi tenham se acasalado três vezes, a equipe garante que não há chances de a fêmea ter fecundando um herdeiro do gorila, que também não teve esperma congelado. “Não havíamos pensado em técnicas de fertilização, pois os gorilas tinham comportamento reprodutivo normal e não esperávamos que Idi morreria em tão pouco tempo”, diz.