A dois anos de passar pelo maior teste de sua história, o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, enfrenta fragilidade no sistema de combate ao tráfico de drogas e ao contrabando capaz de preocupar os próprios responsáveis pelos serviços. Se hoje os efetivos da Receita e da Polícia Federal já têm dificuldade de controlar a demanda gerada pelo volume de passageiros, que sube sem parar, o futuro, com a previsível disparada nas viagens para a Copa de 2014, é um desafio. A estimativa mais conservadora de aumento no movimento do aeroporto, que fechou 2011 contabilizando quase 10 milhões de passageiros, é de 16%. Mais trabalho para um terminal onde o número de apreensões de entorpecentes e de mercadorias ilegais também segue crescendo, embora em velocidade muito inferior à do tráfego de viajantes.
O desafio das autoridades é refletido pela maior oferta de destinos internacionais. Hoje, de Confins é possível voar diretamente para cinco países: Estados Unidos, Panamá, Portugal, Uruguai e Argentina. São em média 10 voos por dia, entre embarques e desembarques, o que gera movimento diário de cerca de 1,5 mil pessoas só do setor internacional. Controlar toda essa gente é ainda mais difícil quando se considera que esse terminal é uma das portas para as rotas de drogas sintéticas e de cocaína. Segundo o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF, João Geraldo de Almeida, o Brasil é receptor de substâncias como ecstasy e LSD e porta de saída de boa parte da cocaína consumida no planeta.
"No Brasil, temos grupos de traficantes que remetem e recebem drogas do exterior. Esses grupos são atraídos pela alta movimentação de passageiros, condições perfeitamente verificadas em Confins. Se aumenta o número de pessoas, aumenta a emissão e o recebimento de drogas", constata o delegado. No desembarque internacional, Confins teve ano passado pouco mais de 210 mil pessoas, número 40% superior ao de 2010. O resultado foi a consolidação de uma rota de tráfico de entorpecentes sintéticos, conforme denunciou o Estado de Minas no ano passado.
O chefe do Núcleo de Polícia Aeroportuária da PF em Confins, José Otávio Cançado Monteiro, admite que o aumento vertiginoso no número de passageiros complica a atuação das autoridades. "Faltam recursos humanos e financeiros para combater os problemas diários que a gente vê. Mesmo assim, trabalhamos para tentar potencializar as ações com o que temos. As apreensões de drogas sintéticas do ano passado foram fruto de treinamento que fizemos com agentes da Receita. Para melhorar, o certo é criar uma delegacia dentro do aeroporto, para incrementar ações de segurança no terminal, assim como as atribuições da polícia judiciária e do controle migratório", diz o delegado.
Contrabando
Outro problema que desembarca junto com o aumento dos passageiros, principalmente os que chegam do exterior, é o transporte de mercadorias acima da cota permitida, de
US$ 500 em produtos de outros países. Segundo a Receita Federal, trabalham no aeroporto para fiscalizar as bagagens 12 pessoas. Elas dão conta de vistoriar cerca de 20% dos passageiros que chegam a cada voo internacional. "Apesar disso, temos mecanismos inteligentes que nos possibilitam conhecer os passageiros quando o voo fecha ainda no exterior. Temos como saber quem são as pessoas, quantas vezes elas viajaram e quem são nossos potenciais alvos", afirma o inspetor-chefe da Receita em Belo Horizonte, Bernardo Costa Prates Santos.
Ele reconhece que o contingente de pessoal não acompanha o ritmo do crescimento de passageiros, mas garante que a Receita tem conhecimento da situação e está de olho na Copa do Mundo. “Ainda este ano teremos concurso que vai privilegiar os locais de fronteiras, caso dos aeroportos. Também temos o Decreto 1.451/2012, que permite convocar agentes de outros setores para os aeroportos ”, conclui.
O aeroporto de Confins conta desde essa quinta-feira com um posto do Juizado da Infância e Juventude, com função de checar documentos que permitem viagens nacionais e internacionais de crianças e adolescentes. O funcionamento será 24 horas, com prestação de esclarecimentos a pais e responsáveis. A instalação do posto aliviou a Polícia Federal, que antes também acumulava essas tarefas, principalmente nas partidas e chegadas internacionais.