O sinal captado no radar administrado pelo Igam faz tocar o telefone na oficina mecânica da Rua Marquês de Paranaguá, quase na esquina com a Avenida Prudente de Morais, no Bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul Mas a única utilidade do alarme vem sendo fazer disparar o coração do gerente Antero Luiz Reis Mello, de 46 anos, que se sente refém das tempestades“O Núcleo de Apoio de Chuva (NAC) da prefeitura liga poucos minutos antes da tempestade, fazendo o alertaE eu me pergunto: o que posso fazer? Ficamos esperando pelo pior”, diz AnteroMostrando na parede as marcas de alagamentos, ele fala com ressentimento da enchente de 2004, que o levou à falência“Hoje, sou gerente do centro automotivoMas já fui donoPerdi tudo com a chuva e tive que fechar a empresa.”
Já na Avenida Francisco Sá, no Bairro Prado, Oeste da capital, o alerta dos radares soa apenas como uma promessa para Roberta Mesquita, de 34Há mais de cinco anos, ela amarga prejuízos com as inundações frequentes na escola de circo em que trabalha como professora, na esquina com a Rua Erê, e conta que a única providência tomada pelo poder público foi a instalação de uma placa com indicação de perigo em dias de chuva forte
O coordenador municipal da Defesa Civil (Comdec), coronel Alexandre Lucas Alves, afirma que BH tem um dos mais modernos sistemas de monitoramento de eventos climáticos do paísEle reconhece, contudo, que a cidade enfrenta um passivo histórico, ao mesmo tempo em que as tempestades são cada vez mais fortes“Vivemos em um ambiente sujeito a desastres Precisamos de obras”, admiteSegundo ele, o atual orçamento em execução em BH é de R$ 1,4 bilhão, mas seriam necessários R$ 6 bilhões para resolver todos os problemas relacionados ou desencadeados pela chuva “Temos que elencar obras prioritárias”, diz
A diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas, Cleide Silva, explica que o órgão estadual emite os boletins de alerta do radar a 1.035 usuários da rede, incluindo as defesas civis de 201 municípios que se cadastraram no sistema Ela destaca ainda que os alertas servem para ações emergenciais e, para vencer todos os problemas, as cidades necessitam de obras estruturantes(Com Glória Tupinambás)
Manual antienchente
Principais propostas para evitar o caos provocado pelas chuvas
1 -Planejar a construção de área de triagem e transbordo ou de estação de reciclagem de resíduos de construção e demolição, principalmente nas regiões Leste e Nordeste
2 - Extinguir lixões, áreas de acúmulo clandestino de resíduos e recuperar áreas degradadas, como encostas da Serra do Curral, onde a terra que desliza entope as galerias de drenagem da BR-356.
3- Retomar o projeto metropolitano de reciclagem de resíduos de construção e demolição, elaborado pela Agência Metropolitana da RMBH.
4 - Em vez de direcionar e acelerar as águas das enchentes rio abaixo, restabelecer o quanto possível a retenção natural, como privilegia a obra do Ribeirão Arrudas na Região do Barreiro, que manteve o curso do leito e não o cobriu
5- Fazer obras de contenção de cheias previstas pelo Plano de Drenagem de BH, como nos córregos Calafate, Brejinho, Floresta e Ferrugem
6 - Executar a dragagem da Lagoa da Pampulha.
7 - Elaborar um plano de ações públicas e privadas para as mais de 100 sub-bacias definidas pela PBH, incluindo incentivos para que os proprietários de imóveis implantem mecanismos para segurar a vazão nos terrenos, em áreas como o entorno das avenidas Prudente de Morais e Francisco Sá
8 - Desenvolver um sistema de monitoramento e alerta integrado em toda a Região Metropolitana de BH, usando o radar meteorológico recém-adquirido pelo estado
Fonte: SME