O radar meteorológico é um equipamento de vigilância do tempo pioneiro no país, tratado como aliado fundamental no enfrentamento da chuva e seus reflexos em Minas. Comprado pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) por R$ 10,5 milhões e instalado em uma unidade avançada em Mateus Leme (Grande BH), ele emite informações precisas até um raio de 200 quilômetros, área que compreende 324 municípios. “O radar ajuda se toda a rede estiver funcionando, da identificação do problema à mobilização da comunidade afetada”, diz Paulo Maciel Júnior, presidente da Comissão de Águas Urbanas da Sociedade Mineira de Engenharia (SME).
Já na Avenida Francisco Sá, no Bairro Prado, Oeste da capital, o alerta dos radares soa apenas como uma promessa para Roberta Mesquita, de 34. Há mais de cinco anos, ela amarga prejuízos com as inundações frequentes na escola de circo em que trabalha como professora, na esquina com a Rua Erê, e conta que a única providência tomada pelo poder público foi a instalação de uma placa com indicação de perigo em dias de chuva forte. “A prefeitura ficou de colocar um alarme para avisar sobre as trombas d’água, mas isso nunca aconteceu. Na última enchente, em dezembro, 12 crianças tiveram que ser içadas com cordas para o segundo andar do galpão, para não ser arrastadas. O trauma para quem viveu isso é tão forte que minha filha, uma das resgatadas, chora até hoje só de ouvir um trovão”, conta Roberta.
O coordenador municipal da Defesa Civil (Comdec), coronel Alexandre Lucas Alves, afirma que BH tem um dos mais modernos sistemas de monitoramento de eventos climáticos do país. Ele reconhece, contudo, que a cidade enfrenta um passivo histórico, ao mesmo tempo em que as tempestades são cada vez mais fortes. “Vivemos em um ambiente sujeito a desastres. Precisamos de obras”, admite. Segundo ele, o atual orçamento em execução em BH é de R$ 1,4 bilhão, mas seriam necessários R$ 6 bilhões para resolver todos os problemas relacionados ou desencadeados pela chuva. “Temos que elencar obras prioritárias”, diz.
A diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas, Cleide Silva, explica que o órgão estadual emite os boletins de alerta do radar a 1.035 usuários da rede, incluindo as defesas civis de 201 municípios que se cadastraram no sistema Ela destaca ainda que os alertas servem para ações emergenciais e, para vencer todos os problemas, as cidades necessitam de obras estruturantes. (Com Glória Tupinambás)
Manual antienchente
Principais propostas para evitar o caos provocado pelas chuvas
1 -Planejar a construção de área de triagem e transbordo ou de estação de reciclagem de resíduos de construção e demolição, principalmente nas regiões Leste e Nordeste.
2 - Extinguir lixões, áreas de acúmulo clandestino de resíduos e recuperar áreas degradadas, como encostas da Serra do Curral, onde a terra que desliza entope as galerias de drenagem da BR-356.
3- Retomar o projeto metropolitano de reciclagem de resíduos de construção e demolição, elaborado pela Agência Metropolitana da RMBH.
4 - Em vez de direcionar e acelerar as águas das enchentes rio abaixo, restabelecer o quanto possível a retenção natural, como privilegia a obra do Ribeirão Arrudas na Região do Barreiro, que manteve o curso do leito e não o cobriu.
5- Fazer obras de contenção de cheias previstas pelo Plano de Drenagem de BH, como nos córregos Calafate, Brejinho, Floresta e Ferrugem.
6 - Executar a dragagem da Lagoa da Pampulha.
7 - Elaborar um plano de ações públicas e privadas para as mais de 100 sub-bacias definidas pela PBH, incluindo incentivos para que os proprietários de imóveis implantem mecanismos para segurar a vazão nos terrenos, em áreas como o entorno das avenidas Prudente de Morais e Francisco Sá.
8 - Desenvolver um sistema de monitoramento e alerta integrado em toda a Região Metropolitana de BH, usando o radar meteorológico recém-adquirido pelo estado.
Fonte: SME