Veja o mapa do barulho em BH
Seguindo as indicações dos fiscais do Disque-Sossego da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e munida de um medidor de nível de pressão sonora (MNPS), a reportagem do Estado de Minas fez medições nas áreas residenciais dos bairros mais movimentados da cidade – e que mais reclamações geram no serviço municipal de denúncia de desrespeito à Lei do SilêncioAlém dos bares e do tráfego intenso que tradicionalmente atazanam a vizinhança, quadras esportivas, fábricas, obras de construção em horários inapropriados e muitas situações de desrespeito traçam o mapa do barulho noturno na capital mineiraRuídos que impedem o descanso de trabalhadores e podem, inclusive, afetar permanentemente a audição humana, levando à surdez gradativa, de acordo com médicos e especialistasEm nenhum local visitado os limites estabelecidos pela legislação belo-horizontina foram respeitados.
A margem de erro do aparelho usado é de 1,5 decibel e as medidas foram feitas levando-se em conta a metodologia da PBHAs comparações entre os ruídos e aparelhos ou procedimentos são baseadas no manual da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), entidade governamental que atua em pesquisa científica e tecnológica relacionada à segurança e saúde dos trabalhadoresA medição de 76,9 decibéis na casa de Marco Antônio superou em 53,8% o índice tolerado pela Lei do Silêncio (veja quadro), que estabelece para o período da noite dos dias de semana 50 decibéis de ruídoLá dentro, o barulho que incomoda não é só o dos motoboys partindo para entregas ou regressando para receber novas cargas nos bares que povoam os arredores
Quando a madrugada segue alta e finalmente a vizinhança acha que vai descansar, os motores de vários freezers espalhados pelo estabelecimento ficam zunindo ininterruptamente“Não tem um momento em que a gente não sofra com o barulhoJá pedi aos donos do posto que desligassem os freezers ou os levassem para dentro do estabelecimento, mas não fizeram nadaAqui só resolve quando a gente chama a polícia, mas depois volta tudo de novo”, reclama o músico.
Apesar do drama dos moradores da Rua Mármore, há pontos ainda mais barulhentos em Belo Horizonte, como a Avenida Sinfrônio Brochado, no Barreiro de Baixo, onde o ruído do tráfego de caminhões, dos bares com música ao vivo e das academias chegou ao pico de 96,5 decibéis (o mesmo de um compressor)Em Lourdes, na área repleta de bares na região das ruas Curitiba, Tomaz Gonzaga e Bárbara Heliodora, as buzinas constantes fizeram o medidor marcar 91,4 decibéisNo apartamento de primeiro andar onde mora A.L.C., de 42 anos, os ruídos alcançam 85,2 decibéis, tirando-lhe o sossego“Não dá para ficar com a janela abertaÉ começar a noite que a farra vai longe
CAMPEÕES DO BARULHO
De acordo com a PBH, os 10 bairros campeões de reclamações no Disque-Sossego são o Centro, Lourdes, Savassi, Padre Eustáquio, Buritis, Santa Mônica, Prado, Ouro Preto, Santa Tereza e Sagrada Família, nessa ordemSó no ano passado, houve 3.376 diligências dos ficais municipais a locais denunciados, resultando em 482 (14%) advertências ou multasNo ano foram 9.051 ligações de reclamaçõesEm 2010, foram 2.705 fiscalizações e 524 autuações (19,3%), num período em que foram registrados 11.098 pedidos de vistoriaInfratores são obrigados a parar a transgressão e são advertidosEm caso de reincidência, recebem multa, interdição parcial ou total da atividade, cassação do alvará de funcionamento ou de licençaAs multas variam de R$ 99,69 a 12.460,59Reincidentes recebem multa em dobro e depois em triplo do valor inicial.
Para o coordenador do Laboratório de Acústica e de Dinâmica de Estruturas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marco Antônio Vecci, os índices estabelecidos pela Lei do Silêncio são restritos demais, por não levarem em conta o uso e a ocupação do solo, não caracterizando sempre abusos ou condições realistas“Numa área residencial ou hospitalar – como as medidas pela reportagem –, 70 decibéis são um limite muito alto e incômodo, ao passo que 45 decibéis para uma indústria é poucoEsses índices precisariam ser revistos para servirem melhor à população”, define.
O QUE DIZ A LEI
A Lei nº 9.505, de 23 de janeiro de 2008, é a norma municipal que dispõe sobre o controle de ruídos, sons e vibrações em Belo HorizonteEla estabelece que a emissão de ruídos, sons e vibrações provenientes de fontes fixas obedecerá níveis máximos a serem medidos nos locais do suposto incômodoNo período diurno, entre as 7h e as 19h, o limite é de 70 decibéisNo período vespertino, entre as 19h01 e as 22h, o nível máximo é de 60 decibéisÀ noite, das 22h01 às 23h59, não pode ultrapassar 50 decibéis.
A partir da 0h o limite é de 45Às sextas-feiras, aos sábados e em vésperas de feriados, é admitido, até as 23h o nível correspondente ao período vespertino.