"Essa turma mais antiga está dentro de casa com depressão, sem ter o que fazerEles são de uma época em que não havia estimulação suficiente e nem todos aprenderam a ler e a escrever para ser inseridos no mercado de trabalho", protesta Luzia Zolini, diretora da Família Down, de Belo HorizonteSegundo ela, a maioria das empresas já acatam a determinação de contratar pessoas com deficiência física para cumprir as cotas exigidas por lei, mas ainda têm dificuldades de aceitar os trabalhadores com deficiência intelectual.
"É um erroAs pesquisas mostram que as pessoas com síndrome de Down tornam o ambiente mais feliz e humanoElas cumprimentam da mesma forma o presidente da empresa e a faxineira que limpa o banheiro e isso contagia a equipe", compara.
O que familiares e especialistas pedem é uma maior inserção social dos portadores da síndrome"O pai e a mãe das pessoas com Down não são eternosEssa verdade é inerente a qualquer um e é preciso preparar essas pessoas para o mundo", alerta Thiago de Araújo, diretor de projetos da Creative, instituição carioca, com filial em BH, que vai promover o primeiro workshop de inclusão escolar de Minas, este mês.
"Se há meninos passando na faculdade em outros estados, porque isso não acontece aqui?”, questiona Araújo, citando Kalil Assis Tavares, de 21 anos, primeiro aluno Down aprovado no vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Esforço familiar
"Olá, mocinha!", graceja Rafael Zambelli, de 54 anos, cumprimentando a irmã Magda Zambelli, de 60 anos, ao subir os lances da escada do Dia Dia, instituição particular que oferece atividades a pessoas com a síndrome de Down e outras deficiências físicas e intelectuais.
Galanteador, Rafael não perde tempoChama de "linda" a moça que o ajuda a saltar os degraus e, depois de recuperar o fôlego, convida a irmã para uma contradança"Meu pai era festeiro e foi um dos fundadores do Pampulha Iate Clube (Pic)
"Rafael não pode ficar na escola a vida toda", desabafa Magda Zambelli, que manifesta este desabafo "cheia de tristeza no coração"Segundo a irmã de Rafael, ele está matriculado desde criança na escola, aprendeu a ler e a escrever cerca de 300 palavrasQuando a escola regular recusou sua matrícula, por ele já ser um adulto, a família contratou uma professora particular.
Atualmente, paga em torno de R$ 900 mensais para garantir um turno de atividades a Rafael, que faz aulas de informática, culinária, yoga e circo, dentre outras"A geração do Rafael tornou-se um laboratório vivoFoi o primeiro paciente de uma fonoaudióloga que passou a atender Down e está tratando com um fisioterapeuta especialista em idosos, para tratar um problema de colunaPor enquanto, está dando certo", diz.
Palavra de especialista
Zan Mustacchi
médico geneticista
No século passado, mais precisamente até à década de 1980, as pessoas com síndrome de Down tinham sobrevida de 20, 30 anosHoje, a expectativa de vida é de 60, 70 anosA primeira coisa que mudou foi a exigência dos pais, que passaram a obrigar os médicos que cuidavam dos irmãos de Down a aplicarem os mesmos conhecimentos em ambos