Se depender da direção da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acabaram-se os trotes dentro do câmpus da Pampulha. A política de tolerância zero foi decretada ontem à tarde pela direção da instituição, tendo em vista os incidentes envolvendo o trote com conotação sexual ocorrido na quinta-feira com um grupo de 20 calouras do curso de turismo, no prédio do Instituto de Geociências (IGC). Sujas de lama e tinta, as alunas teriam sido subjugadas por dois rapazes fantasiados de policiais que exibiam um cabo de vassoura com preservativo na ponta. Amarradas com cordas, elas teriam sido obrigadas a introduzir o objeto na boca.
A partir de agora, o aluno que promover trotes poderá levar desde advertência a suspensão das aulas por três dias a seis meses a até a expulsão da universidade em casos mais extremos. As punições já estão previstas no Estatuto da UFMG, mas até agora não eram aplicadas pela reitoria, que se limitava a monitorar os trotes estudantis. A instituição segue a cartilha do Conselho Universitário, que proíbe trotes.
“A universidade transigiu na regra para evitar que os alunos levassem os trotes para fora dos muros da universidade. Nesse momento, porém, entende que terá de adotar atitudes punitivas para evitar que episódios degradantes se repitam e possam colocar em risco os estudantes, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico”, afirma o diretor de Assuntos Estudantis da UFMG, Luiz Guilherme Knauer. Até hoje, a pena mais grave aplicada foram seis meses de suspensão das aulas.
Apesar de não ter sido revelado oficialmente o motivo, em 2009 a tentativa de fazer uma mecha loura nos cabelos de um calouro do curso de engenharia de automação, usando água oxigenada, quase cegou o estudante quando o produto escorreu até os olhos.
No caso das novatas de turismo, a UFMG informa ter tomado todos os cuidados para evitar que elas passassem por situação degradante quando foram recebidas pelos veteranos no ritual de batismo na chegada à universidade. Durante o trote, monitorado pelos seguranças do câmpus, as calouras foram abordadas pessoalmente pela diretora do IGC, Tânia Mara Dussin, e nenhuma delas quis sair do trote. Em seguida, chamado pelos seguranças, o diretor de Assuntos Estudantis passou pelo local. Recebeu das alunas o retorno de que estavam participando da recepção espontaneamente. “Apesar de não ter verificado a situação de conotações sexuais in loco no momento em que passei, as alunas não se opuseram a participar”, afirma. “É por isso que as calouras não podem ser punidas, porque de certa forma foram induzidas a participar do trote para serem aceitas na turma”, compara Knauer.
Na segunda-feira, será instalada comissão de sindicância no IGC para apurar o caso, com a participação de três a cinco pessoas, entre professores e funcionários escolhidos pela congregação, entre aqueles com menor vínculo com o curso de turismo. Feito isso, a comissão terá 30 dias, prorrogáveis por mais 30, para ouvir todos os calouros, veteranos e seguranças que participaram do episódio. Dependendo do resultado, será instalada comissão de inquérito para punir os culpados. “Se ficar comprovado que ocorreu um quinto do que está descrito nos jornais, vamos ter punições no câmpus”, avisa Knauer.
O anúncio de tolerância zero é criticado pela União Nacional dos Estudantes (UNE). “Os excessos têm de ser combatidos, mas a universidade não pode adotar postura radical. É preciso dialogar com os estudantes e apostar em campanhas educativas e de conscientização, pois os tradicionais trotes não podem ser simplesmente cortados. Trata-se de um costume passado de geração a geração e a UFMG não pode tratar o assunto como uma guerra”, diz o diretor de Relações Internacionais da UNE, Matheus Malta.
Como ações que poderiam ser eficientes para coibir abusos, Matheus cita a adoção de medidas socioeducativas. “Há exemplos interessantes adotados no Instituto de Ciências Exatas (Icex) com alunos que passaram dos limites em trotes. Como punição, eles foram incluídos em eventos de recepção de calouros dos semestres seguintes e foram ministradas palestras educativas com presença obrigatória. Outra ação que dá bom resultado é a participação da direção da universidade e do movimento estudantil nos trotes, pois essa presença inibe excessos.” Ninguém do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG foi encontrado para comentar o assunto.
Três perguntas para...
Luiz Guilherme Knauer
Diretor para Assuntos Estudantis da UFMG
1 - As alunas tinham consciência da situação no momento do trote?
Na realidade, os novatos nem podem ser punidos pelo trote, ainda que concordem em participar, porque estão de certa forma sendo induzidos a isso. O trote é um ritual de iniciação na faculdade e possivelmente alguns desses jovens concordam em participar para fazer parte do grupo, para se encaixar.
2 - Por isso a UFMG proibiu o trote?
O trote sempre foi proibido pelo Conselho Universitário, há 10 anos, 15 anos. Na verdade, a universidade de certa forma transigiu na realização dos trotes para evitar que os alunos levassem as brincadeiras para fora dos muros da universidade.
3 - Quer dizer que a universidade entende que os estudantes passaram dos limites?
Até agora, ficava complicado tomar atitudes, porque os próprios alunos achavam normal certos tipos de comportamento. A geração Big Brother recebe mensagens que a levam a confundir o que é público e o que é privado. Nesse momento, a universidade entende ser necessário adotar medidas punitivas para que esse episódio não se repita e para não colocar em risco, nem do ponto de vista físico nem psicológico, nenhum estudante.
A partir de agora, o aluno que promover trotes poderá levar desde advertência a suspensão das aulas por três dias a seis meses a até a expulsão da universidade em casos mais extremos. As punições já estão previstas no Estatuto da UFMG, mas até agora não eram aplicadas pela reitoria, que se limitava a monitorar os trotes estudantis. A instituição segue a cartilha do Conselho Universitário, que proíbe trotes.
“A universidade transigiu na regra para evitar que os alunos levassem os trotes para fora dos muros da universidade. Nesse momento, porém, entende que terá de adotar atitudes punitivas para evitar que episódios degradantes se repitam e possam colocar em risco os estudantes, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico”, afirma o diretor de Assuntos Estudantis da UFMG, Luiz Guilherme Knauer. Até hoje, a pena mais grave aplicada foram seis meses de suspensão das aulas.
Apesar de não ter sido revelado oficialmente o motivo, em 2009 a tentativa de fazer uma mecha loura nos cabelos de um calouro do curso de engenharia de automação, usando água oxigenada, quase cegou o estudante quando o produto escorreu até os olhos.
No caso das novatas de turismo, a UFMG informa ter tomado todos os cuidados para evitar que elas passassem por situação degradante quando foram recebidas pelos veteranos no ritual de batismo na chegada à universidade. Durante o trote, monitorado pelos seguranças do câmpus, as calouras foram abordadas pessoalmente pela diretora do IGC, Tânia Mara Dussin, e nenhuma delas quis sair do trote. Em seguida, chamado pelos seguranças, o diretor de Assuntos Estudantis passou pelo local. Recebeu das alunas o retorno de que estavam participando da recepção espontaneamente. “Apesar de não ter verificado a situação de conotações sexuais in loco no momento em que passei, as alunas não se opuseram a participar”, afirma. “É por isso que as calouras não podem ser punidas, porque de certa forma foram induzidas a participar do trote para serem aceitas na turma”, compara Knauer.
Na segunda-feira, será instalada comissão de sindicância no IGC para apurar o caso, com a participação de três a cinco pessoas, entre professores e funcionários escolhidos pela congregação, entre aqueles com menor vínculo com o curso de turismo. Feito isso, a comissão terá 30 dias, prorrogáveis por mais 30, para ouvir todos os calouros, veteranos e seguranças que participaram do episódio. Dependendo do resultado, será instalada comissão de inquérito para punir os culpados. “Se ficar comprovado que ocorreu um quinto do que está descrito nos jornais, vamos ter punições no câmpus”, avisa Knauer.
O anúncio de tolerância zero é criticado pela União Nacional dos Estudantes (UNE). “Os excessos têm de ser combatidos, mas a universidade não pode adotar postura radical. É preciso dialogar com os estudantes e apostar em campanhas educativas e de conscientização, pois os tradicionais trotes não podem ser simplesmente cortados. Trata-se de um costume passado de geração a geração e a UFMG não pode tratar o assunto como uma guerra”, diz o diretor de Relações Internacionais da UNE, Matheus Malta.
Como ações que poderiam ser eficientes para coibir abusos, Matheus cita a adoção de medidas socioeducativas. “Há exemplos interessantes adotados no Instituto de Ciências Exatas (Icex) com alunos que passaram dos limites em trotes. Como punição, eles foram incluídos em eventos de recepção de calouros dos semestres seguintes e foram ministradas palestras educativas com presença obrigatória. Outra ação que dá bom resultado é a participação da direção da universidade e do movimento estudantil nos trotes, pois essa presença inibe excessos.” Ninguém do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG foi encontrado para comentar o assunto.
Três perguntas para...
Luiz Guilherme Knauer
Diretor para Assuntos Estudantis da UFMG
1 - As alunas tinham consciência da situação no momento do trote?
Na realidade, os novatos nem podem ser punidos pelo trote, ainda que concordem em participar, porque estão de certa forma sendo induzidos a isso. O trote é um ritual de iniciação na faculdade e possivelmente alguns desses jovens concordam em participar para fazer parte do grupo, para se encaixar.
2 - Por isso a UFMG proibiu o trote?
O trote sempre foi proibido pelo Conselho Universitário, há 10 anos, 15 anos. Na verdade, a universidade de certa forma transigiu na realização dos trotes para evitar que os alunos levassem as brincadeiras para fora dos muros da universidade.
3 - Quer dizer que a universidade entende que os estudantes passaram dos limites?
Até agora, ficava complicado tomar atitudes, porque os próprios alunos achavam normal certos tipos de comportamento. A geração Big Brother recebe mensagens que a levam a confundir o que é público e o que é privado. Nesse momento, a universidade entende ser necessário adotar medidas punitivas para que esse episódio não se repita e para não colocar em risco, nem do ponto de vista físico nem psicológico, nenhum estudante.