Com as roupas sujas de poeira vermelha e sangue seco dos avós assassinados, o menino de 5 anos que sobreviveu à execução de um trio de líderes do Movimento pela Libertação dos Sem Terra (MLST), no sábado, no Triângulo Mineiro, saiu do carro que foi emboscado e caminhou por cinco quilômetros para buscar ajuda. Já cansado da caminhada, avistou uma caminhonete que seguia pela estrada de Campo Florido (MGC-455), no distrito de Miraporanga, a 40 quilômetros de Uberlândia. “Ele conseguiu parar o motorista e disse que os avós tinham sido baleados. O condutor não acreditou e foi embora. Mais à frente, viu o Kadett com os três e retornou”, conta o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Minas Gerais, Carlos Calazans. As palavras do garoto são o ponto de partida para as investigações sobre o crime, que devem ser intensificadas hoje, já que ontem um grupo de policiais civis da capital foi encaminhado ao Triângulo para reforçar a apuração.
Foi o mesmo motorista, depois do esforço da criança em buscar socorro para os avós, que acionou a polícia e o Corpo de Bombeiros para ainda tentar salvá-los. A morte de Valdir Dias Ferreira, de 39 anos, e dos avós do menino, Milton Santos Nunes da Silva, de 52, e Clestina Leonor Sales Nunes, de 48, repercutiu na cúpula do governo mineiro e a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) determinou prioridade absoluta na apuração dos fatos, temendo que possa haver mais tensão entre invasores e fazendeiros na região. Por isso, uma unidade de investigadores da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte seguiu ontem para Uberlândia e vai auxiliar os colegas locais no caso.
Os pais da criança já estão com ela. A polícia não sabe dizer se o garoto é capaz de reconhecer suspeitos. O delegado chefe da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte, Wagner Pinto, informou que a equipe enviada ao Triângulo Mineir ainda está se inteirando dos fatos. De acordo com o comandante do 32º Batalhão da PM de Uberlândia, tenente-coronel Sandro Heleno Leite, nenhum suspeito foi detido ainda, mas a Polícia Civil já começou a tomar os primeiros depoimentos.