O equívoco desagradou ao advogado José Carlos de Melo Ribeiro, 68 anos, que conversava com o amigo Joaquim Osório, de 80, na tarde quente e de trânsito confuso, na confluência da Avenida Getúlio Vargas com Avenida Cristóvão Colombo"Mate o homem, mas não mude o nome", disse"Se estamos homenageando alguém, temos que respeitar a correta grafia do nome"Joaquim concorda com o amigo e aproveita a oportunidade para reclamar do tráfego intenso na Rua Grão Mogol.
A grafia errada do nome do marianense, um dos incentivadores da criação do Arquivo Público Mineiro, ficou à mostra depois que os operários retiraram a película que encobria as denominações da praça, das ruas Pernambuco e Paraíba e das avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio VargasAs pessoas parecem indiferentes à novidade, mas numa tarde tumultuada e apressada de sexta-feira não há tempo para meras apreciaçõesE há até quem aponte motivo maior de indignação.
"Olhe para aqueles quarteirões fechadosParecem cemitérios", diz o arquiteto Airton Nunes, de 58 anos, sentado em uma mesa de bar no novo calçadão da Rua ParaíbaEle aponta os canteiros quadrados de mármore, ainda sem plantas na Pernambuco, e os bancos do mesmo material, alguns já ensebados pelas roupas encardidas de moradores de ruaDe longe, o conjunto lembra, ligeiramente, uma fileira de lápides
A Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana informou, por meio da assessoria de comunicação da prefeitura, que vai fazer um estudo e, se comprovar erro, fará a trocaA busca da resposta será uma briga boaDe um lado, a prefeitura com o Diogo Vasconcelos; do outro, o Dicionário Biográfico de Minas - que cita, entre outras fontes, documentos do Legislativo mineiro, pois o cidadão foi deputado -um artigo publicado na Revista do Arquivo Público Mineiro e até a Wilkipédia.
O artigo, publicado na revista em 1902, grafa Diogo Luís de Almeida Pereira de Vasconcellos, respeitando grafia original do século 19, forma também adotada na WilkipédiaJá o dicionário, obra de 1994, adota Vasconcelos em vez de VasconcellosMas em nenhuma das publicações ou na enciclopédia eletrônica o nome do homem perdeu o "de"Até a cidade que o homenageia, na Zona da Mata, Diogo de Vasconcelos, respeita a partícula.
Cada um dos 12 totens da praça tem 15 metros de alturaOs nomes foram escritos numa chapa de cerca de três metros de largura por oitenta centímetros de larguraDuas deles ostentam o Diogo VasconcelosSe a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) for orientada pela Regulação Urbana a fazer a correção, terá que retirar as chapas
Quem foi
Diogo Luís de Almeida Pereira de Vasconcellos era filho de tradicional família mineiraNo Império, foi senador e primeiro-ministroEstudou no seminário de Mariana, no Mosteiro de São Bento (Rio de Janeiro) e na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.
Depois da Proclamação da República, filiou-se ao Partido Conservador, presidiu a Câmara de Municipal de Vereadores de Mariana, elegeu-se deputado e senadorEra um católico fervoroso, seguindo linha religiosa da famíliaEscreveu vários livros, entre os quais História antiga de Minas Gerais e História média de Minas Gerais.