Jornal Estado de Minas

Projeto subterrâneo de BH é desafio para reduzir congestionamento de carros e pedestres

Em meio ao lançamento de editais para estacionamentos e metrô, EM percorre subterrâneos de BH e mostra principais problemas. Especialistas apontam obstáculos a projetos

Mateus Parreiras
- Foto: Marcos Michellin/ EM DA PRESS


Belo Horizonte quer mergulhar no subsolo para melhorar a situação na superfícieEsperança para reduzir engarrafamentos e liberar espaço a pedestres e ciclistas, os primeiros editais para soluções subterrâneas de transporte em BH estão prometidos para sair este mêsSão 10 estacionamentos, com um total de 4.388 vagas na Região Centro-Sul, e 4,5 quilômetros da linha 3 (Savassi/Lagoinha) do metrô, que terá as primeiras sondagens geológicas licitadasA ideia é repetir experiências de cidades mais desenvolvidas, nas quais o uso do subsolo ajuda a mobilidadeO desafio, porém, é grande.

O Estado de Minas percorreu algumas das áreas mais inóspitas dos subterrâneos da cidade e constatou como a manutenção e funcionamento das atuais estruturas exigem esforço de funcionários, planejamento e investimentosEspecialistas e profissionais da área também apontam obstáculos que precisam ser superados para que os novos projetos de grande escala para o subsolo – estacionamentos e metrô – funcionem de maneira satisfatóriaUm dos problemas mais urgentes é a definição de um pátio de manutenção e manobra de trens para o a linha 3Num primeiro momento, o pátio funcionaria na superfície, na PampulhaMas como a linha subterrânea agora não passará da Lagoinha, a falta de estrutura pode inviabilizar a obra (leia mais na página ao lado).

A atual estrutura debaixo da terra em BH é tímida e hostil à presença humana – muitos dos túneis úmidos e escuros são povoados por baratas, escorpiões e ratosMas parte do funcionamento da cidade já depende dessas estruturas, seja para evitar alagamentos ou trafegar informações de empresas e pessoas em tempo real por cabos de fibra óticaSão galerias fluviais que levam a água de córregos para o leito concretado dos ribeirões Arrudas e Onça
No caminho, recebem a água da chuva vinda de bueiros e o esgoto clandestino, que corrói concreto e aço.

Abaixo do vaivém frenético de carros e a fumaça escura dos ônibus, três túneis permitem a passagem dos vagões abarrotados de passageiros do metrô sob áreas densamente povoadasTravessias ferroviárias abandonadas também se escondem em matagais e brejosA elas foram reservados projetos futuros de mobilidade, como a Via 710, concebida para ligar as avenidas Cristiano Machado e dos AndradasSem esses espaços, a cidade sofreria com alagamentos ou falta de prestação de serviços básicos, como os de eletricidade, água e esgoto.

Necessidade Apesar das dificuldades, especialistas em transportes, logística e engenharia afirmam que a exploração do subsolo é fundamental para cidades que buscam desenvolvimento social e econômico“A utilização dos subterrâneos é uma necessidadeAs cidades mais modernas integram redes de estacionamentos, shoppings e até edifícios de subsolo onde o clima é frio demais”, diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot-MG), Alberto Salum“O desafio é o preço compensar, já que é preciso criar contenções, desviar de redes de esgoto, energia e lençóis d’água”, acrescenta.

“Estamos atrasados na exploração desse setor”, opina o professor aposentado de Engenharia de Transportes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), João Francisco Baeta“Se o metrô não for implantado e os estacionamentos não forem expandidos, por exemplo, BH pode se tornar insuportável em poucos anos, trazendo um processo de abandono de investimentos e de degradação do bem-estar social”, prevêAs obras dos estacionamentos subterrâneos têm duração prevista de 18 meses e outros 12 meses serão necessários para intervenções em viasO investimento estimado é de R$ 350 milhões.

Veja vídeo de galeria sob a Rua Pernambuco