Belo Horizonte quer mergulhar no subsolo para melhorar a situação na superfície. Esperança para reduzir engarrafamentos e liberar espaço a pedestres e ciclistas, os primeiros editais para soluções subterrâneas de transporte em BH estão prometidos para sair este mês. São 10 estacionamentos, com um total de 4.388 vagas na Região Centro-Sul, e 4,5 quilômetros da linha 3 (Savassi/Lagoinha) do metrô, que terá as primeiras sondagens geológicas licitadas. A ideia é repetir experiências de cidades mais desenvolvidas, nas quais o uso do subsolo ajuda a mobilidade. O desafio, porém, é grande.
O Estado de Minas percorreu algumas das áreas mais inóspitas dos subterrâneos da cidade e constatou como a manutenção e funcionamento das atuais estruturas exigem esforço de funcionários, planejamento e investimentos. Especialistas e profissionais da área também apontam obstáculos que precisam ser superados para que os novos projetos de grande escala para o subsolo – estacionamentos e metrô – funcionem de maneira satisfatória. Um dos problemas mais urgentes é a definição de um pátio de manutenção e manobra de trens para o a linha 3. Num primeiro momento, o pátio funcionaria na superfície, na Pampulha. Mas como a linha subterrânea agora não passará da Lagoinha, a falta de estrutura pode inviabilizar a obra (leia mais na página ao lado).
A atual estrutura debaixo da terra em BH é tímida e hostil à presença humana – muitos dos túneis úmidos e escuros são povoados por baratas, escorpiões e ratos. Mas parte do funcionamento da cidade já depende dessas estruturas, seja para evitar alagamentos ou trafegar informações de empresas e pessoas em tempo real por cabos de fibra ótica. São galerias fluviais que levam a água de córregos para o leito concretado dos ribeirões Arrudas e Onça. No caminho, recebem a água da chuva vinda de bueiros e o esgoto clandestino, que corrói concreto e aço.
Abaixo do vaivém frenético de carros e a fumaça escura dos ônibus, três túneis permitem a passagem dos vagões abarrotados de passageiros do metrô sob áreas densamente povoadas. Travessias ferroviárias abandonadas também se escondem em matagais e brejos. A elas foram reservados projetos futuros de mobilidade, como a Via 710, concebida para ligar as avenidas Cristiano Machado e dos Andradas. Sem esses espaços, a cidade sofreria com alagamentos ou falta de prestação de serviços básicos, como os de eletricidade, água e esgoto.
Necessidade Apesar das dificuldades, especialistas em transportes, logística e engenharia afirmam que a exploração do subsolo é fundamental para cidades que buscam desenvolvimento social e econômico. “A utilização dos subterrâneos é uma necessidade. As cidades mais modernas integram redes de estacionamentos, shoppings e até edifícios de subsolo onde o clima é frio demais”, diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot-MG), Alberto Salum. “O desafio é o preço compensar, já que é preciso criar contenções, desviar de redes de esgoto, energia e lençóis d’água”, acrescenta.
“Estamos atrasados na exploração desse setor”, opina o professor aposentado de Engenharia de Transportes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), João Francisco Baeta. “Se o metrô não for implantado e os estacionamentos não forem expandidos, por exemplo, BH pode se tornar insuportável em poucos anos, trazendo um processo de abandono de investimentos e de degradação do bem-estar social”, prevê. As obras dos estacionamentos subterrâneos têm duração prevista de 18 meses e outros 12 meses serão necessários para intervenções em vias. O investimento estimado é de R$ 350 milhões.