Jornal Estado de Minas

Mulheres vítimas do maníaco do Anchieta relatam momentos de terror

Três mulheres estupradas em julho de 1996 reconhecem Pedro Meyer Ferreira como o homem armado que as ameaçou e as violentou em um prédio no Bairro Nova Floresta

Valquiria Lopes
Jovem vítima de abuso identificou ex-bancário como responsável pelo crime sexual contra ela e duas primas - Foto: Cristina Horta/EM/ D.A Press
Um baú de lembranças ruins foi aberto ontem na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Belo HorizonteQuinze anos após terem sido abusadas sexualmente, três mulheres da mesma família, com idades de 26, 27 e 29 anos, reconheceram o ex-bancário Pedro Meyer Ferreira Guimarães, de 56 anos, como o homem que as estuprou na garagem de um prédio no Bairro Nova Floresta, Região Nordeste da capitalO reencontro das duas irmãs e de uma prima com a imagem do agressor foi marcado por lágrimas, emoção e pela dor de relembrar uma história já adormecida, embora nunca esquecidaNa ocasião, em julho de 1996, elas teriam sido colocadas sob a mira de uma arma quando voltavam da casa de uma amiga, na mesma rua, e entravam no hall do prédio onde duas delas moravamContam que foram obrigadas a tirar a roupa e abusadasPouco mais de 20 minutos que marcaram para sempre a vida das meninas, na época com 11, 12 e 13 anos.

Para a seção de reconhecimento na Delegacia de Mulheres, Pedro deixou o presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, onde cumpre prisão temporária de 30 dias, sob escolta da Polícia CivilEle foi detido na quarta-feira, 28 de março, depois de ter sido reconhecido por uma outra vítima que o identificou como o homem que a estuprou em 1997No dia em que foi visto, o acusado entrava no prédio onde morava com a mãe, no Bairro Anchieta, na Região Centro-Sul da capital.

As três mulheres chegaram à delegacia por volta de 15h, minutos depois de PedroUma hora depois, começou o reconhecimentoPoliciais que assistiram à cena destacaram a firmeza das vítimas ao apontarem o ex-bancário como o responsável pela agressão sexual“Elas foram postas em uma sala separadas do agressor por um vidro que permitia que elas o vissem, mas que as preservava de serem vistas por ele
E quando entraram, não houve dúvidasEntre mais três homens com aparências semelhantes a Pedro, o identificaram com muita firmeza”, informou a delegada Margaret de Freitas de Assis Rocha, da Divisão de Proteção à Mulher, Idosos e Deficiente FísicoSegundo os agentes, uma das mulheres chegou a passar malTodas foram levadas para o atendimento do Núcleo de Psicologia da delegacia.

Pela manhã, uma das três mulheres, L.R, de 27 anos, prestou depoimento na Divisão e contou a mesma história relatada anteontem pelas primas à Polícia CivilAlém de dar detalhes da abordagem violenta de Pedro, falou como o abuso deixou marcas profundas na vida dela“Fiz tratamento psicológico por três anosNão queria mais sair de casa, tinha medo de tudoQuando via um homem de bigode na rua, minha perna ficava bambaCustei a vencer esse medo, mas o trauma ficou para sempre”, contou.

Maníaco

Mesmo sem ter concluído as investigações, a delegada Margaret afirma que os indícios de que a polícia está diante do caso de um maníaco são muito fortes“Temos que concluir os inquéritos, mas não resta dúvida de que ele foi responsável por esses crimes
Falo isso pelos depoimentos contundentes dessas vítimas, pelo mesmo perfil de abordagem e pelas características físicas relatadas por elas, que são o bigode, a sobrancelha grossa, com uma falha, o boné e os óculos escuros que usava no dia dos ataquesDepois de ser reconhecido pelas vítimas, Pedro seria ouvido pela policial antes de voltar ao presídioNo entanto, foi orientado pelo advogado que o acompanhava a só falar em juízoA delegada afirmou que, caso seja necessário, poderá pedir a prorrogação da prisão do acusado Cristina Horta/EM/D.A Press - Foto: Pedro tinha sinais de agressão no rosto e em outras partes do corpo. Ele foi atacado por colegas de cela



Espancado no presídio

O olho roxo, os braços e as pernas marcados denunciaram ontem que o acusado de estupro Pedro Meyer Ferreira Guimarães, de 56, apanhou no presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, na Grande BH, onde está presoAs marcas da violência foram percebidas ontem logo na chegada dele à Delegacia de Atendimento à Mulher de Belo Horizonte para ser reconhecido por três vítimas que o acusam de ataque ocorrido em julho de 1996Em vez das camisas sociais que habitualmente usava, Pedro deixou a cela da viatura policial que o conduziu do presídio vestido com o uniforme vermelho do sistema prisional, de chinelo de dedo e sem o característico bigode que o identificava.

Nas poucas palavras que disse à imprensa entre a rua e a delegacia, não confirmou os casos de abuso sexual pelos quais está sendo incriminadoQuestionado sobre o número de vítimas, se manteve em silêncioTambém não denunciou nenhum tipo de agressão, fato entretanto relatado pelo advogado de defesa Lucas LaireApesar de afirmar que tanto ele como o cliente só falariam em juízo, informou à imprensa que Pedro estava com o corpo todo marcado.

Responsável pela tutela do acusado, a Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) informou, por meio de nota, que Pedro pode ter sido agredido por outros presosConforme o texto, o detento foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML), em Belo Horizonte, no sábado, 31, para exames de corpo delito devido a indícios de agressão por parte de homens que dividiam a cela com ele e que cometeram o mesmo crimeAinda segundo a Suapi, a unidade prisional instaurou um procedimento interno para apurar as circunstâncias do ocorridoOntem, antes de ir à delegacia na capital, Pedro foi levado a um hospital de Ribeirão das Neves para fazer exames