Jornal Estado de Minas

Duplicada há nove meses, BR-262 já tem buracos e remendos perigosos

Obra rodoviária mais cara do PAC em Minas, duplicação de trecho da BR-262 já tem problemas

Mateus Parreiras

Caminhão passa em trecho afetado da rodovia: Dnit diz que notificou construtoras para realizar retrabalho - Foto: Renato Weil/EM/D.A Press

A placa que indica velocidade máxima de 100km/h não avisa motoristas sobre o perigo logo adianteNo meio de uma descida do trecho duplicado da BR-262, concluído em julho do ano passado, há degraus em forma de rampaOs carros que passam por cima desse obstáculo, um remendo de buraco malfeito, saltam mais de um palmo de altura do chãoUm caminhão de tijolos que passou sem frear chacoalhou tanto que pedaços da carga de cerâmica espirraram sobre a pistaCaíram também montes de carvão, pedras e outras mercadoriasO problema no quilômetro 369, em Mateus Leme (Região Metropolitana de BH), não é isoladoNove meses depois de ser duplicado por R$ 400 milhões – obra rodoviária mais cara do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Minas – o trecho da BR-262 entre Betim e Nova Serrana já apresenta buracos, erosões e outras armadilhas para quem trafega pela rodovia.

A reportagem do Estado de Minas percorreu o trecho de 84 quilômetros duplicado e encontrou pelo menos 12 locais com problemas, dos quais apenas três recebiam reparos por parte de operários das empresas contratadas para fazer manutençãoNo quilômetro 369, os degraus formados por um remendo mal aplicado que ocupou as duas pistas já causou acidentes, segundo caminhoneiros que trafegam pelo trecho“Não passa um dia sem que um carro perca o controle ali”, diz o caminhoneiro Ingres de Oliveira, que faz o percurso diariamente transportando laticínios de Pará de Minas para o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Vitória“É uma vergonha você descer um declive desses, encontrar um buraco numa estrada que acabaram de fazer e não ter nem sinalização para o perigo”, acrescentouMarcas de freadas na direção da mureta de proteção, cargas no acostamente e peças de carros espalhadas indicam a ocorrência de acidentes no trecho.

- Foto: Renato Weil/EM/D.A PressHá mais problemas

Ao longo dos quilômetros 371, 379, 381, 384, 387, 392, 396 e 424, os aterros que sustentavam a estrada foram tragados pelas enxurradasA camada de asfalto do acostamento, sem sustentação, ficou à beira de despenhadeiros, matas e fazendasTrês deles apresentavam marcas de tratores nas proximidades, indicando que vinham sendo monitoradosEm outros havia barreiras de asfalto juntado em volta do buraco para que a água das chuvas não piore a situação e termine de levar a fundação da rodoviaMas em três locais essas barreiras cederam, interditando partes do acostamento e ameaçando a pista de rolamento.

Falhas


No trevo de Igaratinga, operários fazem reparos por causa de dois grandes buracosO movimento de trabalhadores e máquinas nas duas pistas do sentido Belo Horizonte obriga o tráfego a fluir pelo acostamentoCaminhonheiros reconhecem que a duplicação era fundamental e diminui o risco da pista, mas não se conformam com problemas tão pouco tempo depois da obra“Tinha muitos acidentes feios, com mortes e gente machucadaIsso diminuiu”, reconhece o caminhoneiro Oswaldo Antônio dos Santos, de 56 anos, 35 deles rodando pela estrada na rota Pará de Minas-Belo Horizonte“Mas a conservação está um horror
Menos de um ano depois e ela (a rodovia) já está terrível de novo”, observaPara o engenheiro e consultor Frederico Rodrigues, em menos de um ano “não é normal que uma estrada como a BR-262, que acabou de ser restaurada e duplicada, apresente esses problemas.”

Como o EM mostrou na última quarta-feira, há problemas na manutenção das rodovias federais que passam por MinasDos 96 editais de manutenção e projetos ativos no Departamento de Infraestrutura de Transporte (Dnit) desde 2009, apenas 40 (41,7%) foram contratadosAs rodovias com mais trechos sem contrato são a BR-365, com nove, BR-265, com seis, e BR-381, com quatroPara a BR-262, havia dois contratos abertos sem definição de empresa vencedora e contrato firmado para manutenção do pavimentoEnquanto isso, ampliações e restaurações para concessões de estradas como as BRs 116 e 040 não são aprovadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por inconsistências nos projetos.

A assessoria do Dnit informou que a autarquia considera que “o serviço, no geral, está bom”O departamento afirma que os locais que apresentaram defeito foram motivo de notificação às construtoras, “de modo a realizarem o retrabalho”Ainda segundo o órgão, no caso do trevo de Igaratinga, a obra não foi executada porque a empresa responsável apresentou documento em que afirma passar por recuperação judicial“A Superintendência do Dnit em Minas providenciará de imediato a recuperação e cobrará judicialmente da empresa”, afirma a autarquia.

Palavra de especialista

FREDERICO RODRIGUES, DOUTOR EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES E DIRETOR DA CONSULTORIA IMTRAFF

Pavimento deveria durar mais

“Não é normal uma estrada restaurada há pouco tempo apresentar muitos problemasO pavimento de uma via é calculado em função de um parâmetro chamando número N, que é a estimativa de todo o fluxo de veículos pesados que vão passar em um determinado períodoGeralmente os pavimentos são dimensionados para que durem 10 ou mais anosAssim, o que pode estar acontecendo na estrada é o dimensionamento ter sido feito de forma erradaOu seja, o cálculo pode ter levado em conta menos veículos e por isso o pavimento está sendo danificadoPode também ter sido feito o cálculo para um período curtíssimo, o que particularmente duvidoOs veículos que estão trafegando pela rodovia podem estar com peso acima do permitido, aproveitando que não há balanças de fiscalizaçãoMesmo com um dimensionamento certo, se a execução não foi adequada, seja por procedimentos mal executados ou material utilizado, isso pode ocorrer.”