Os depoimentos dessas vítimas fazem parte das investigações da força-tarefa que apura os crimes sexuais praticados pelo acusado. Até o momento, o ex-bancário foi reconhecido pela jovem de 26 anos estuprada em 1997 e que o denunciou à PM, e pelas três vítimas ouvidas quarta-feira, mas a polícia trabalha com a hipótese de que Pedro seja responsável por pelo menos 13 estupros, e vai ouvir todas as mulheres que apontam o suspeito como o responsável pela violência sexual.
A delegada Margaret de Freitas de Assis Rocha, da Divisão de Proteção à Mulher, Idosos e Deficiente Físico, estima esse número com base nos telefonemas de mulheres que acusam o ex-bancário de estupro. Elas procuraram a polícia depois que a imagem do acusado foi divulgada pela imprensa em 29 de março, um dia após ele ter sido preso.
Pedro Meyer teve a prisão preventiva decretada e está em uma cela isolada no presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, na Grande BH. A decisão de separá-lo é uma medida de segurança, pois ele foi agredido por outros detentos no dia 31, recebendo socos e chutes no rosto e em outras partes do corpo.
Solitário e arredio
As acusações contra o ex-bancário continuam chocando quem teve contato com ele. O músico Maurélio Cavalcanti, de 54 anos, vocalista da banda Ouro de Tolo, especializada em cover de Raul Seixas, é uma dessas pessoas. Pedro gostava muito do grupo musical e costumava conversar com o líder da banda.
“Cara, difícil acreditar. Nunca fomos amigos, mas sempre que ele me via, era muito educado. Nunca conversamos muito tempo. Também não me lembro dele em nenhum de nossos shows. A imagem que tenho do Pedro, em mais de 20 anos, era sempre sozinho, atrás das grades da janela do apartamento dele que dava para a rua. Curioso… atrás das grades”, comenta.
Já um amigo de infância do suspeito, que conviveu muito tempo com ele no Bairro Anchieta, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, diz que pode haver uma explicação para o que ocorreu com o ex-bancário. “O Pedro, aos 5, 6 anos, era alegre, brincava como toda criança normal. Até ser vítima de um abuso praticado por um grupo de meninos maiores”.
Vestido modestamente, barbado, o homem de cabelos grisalhos pede para não ser identificado. Anônimo, mostra-se disposto a voltar no tempo e relembrar o menino vizinho, que, de repente, perdeu a alegria e se distanciou dos colegas da Rua Vitório Marçola. “Ele passou a ficar muito solitário, arredio”. Segundo ele, Pedro Meyer se afastou de tudo e de todos. Cresceu evitando amizades ou qualquer tipo de relação mais próxima com quem quer que seja. Muito educado, limitava-se a cumprimentar as pessoas.
ENTENDA O CASO
- Em 28 de março, uma mulher de 26 anos, moradora do Bairro Anchieta, passa de carro e reconhece Pedro Meyer Ferreira como o homem que a estuprou em 1997 no Bairro Cidade Nova, quando ela tinha 11 anos.
- Depois de seguir Pedro até o prédio onde ele morava, a jovem liga para o pai e pede a ele para chamar a polícia.
- Uma equipe da PM vai até o local, detém o ex-bancário e o leva à Delegacia de Mulheres, onde ele confessa o estupro da jovem que o reconheceu e diz ter atacado mais duas mulheres na década de 1990.
- A Delegacia de Mulheres apresenta Pedro Meyer, e a divulgação das imagens do acusado faz com que mais vítimas o reconheçam. A polícia calcula que ele seja responsável por pelo menos 13 crimes sexuais.
- É montada uma força-tarefa para ouvir as vítimas do acusado. As três mulheres que prestaram depoimento, estupradas em 1996, reconhecem oficialmente Pedro Meyer como autor do estupro.