Ele é um dos meios de transporte mais banais e, aparentemente, mais seguros. Mas quem entra em alguns elevadores mal sabe que pode estar prestes a se aventurar por uma espécie de caixa-preta, sujeita a uma série de falhas. Muitas decorrem da precária fiscalização do poder público, outras da negligência de condomínios mais interessados em economizar do que em investir na segurança e algumas até mesmo de golpes de empresas contratadas para dar manutenção e evitar acidentes. Apesar de todos os riscos, dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) mostram que, ano passado, apenas 27% dos equipamentos instalados na capital foram vistoriados.
O resultado pode se traduzir em acidentes, como o registrado no último sábado, quando um elevador do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), na Alameda Ezequiel Dias, Região Hospitalar, desceu bruscamente e assustou funcionários e pacientes. O equipamento parou entre o segundo e terceiro andares do prédio e as pessoas precisaram ser retiradas pelo Corpo de Bombeiros. Até o fechamento desta edição, a empresa Otis, fabricante do elevador, não tinha informado quais foram as causas do problema.
Mas um técnico de uma empresa renomada, que prefere não ser identificado, relata os principais absurdos que encontra escondidos em fossos e casas de máquinas. "Muito condomínio não quer gastar na troca de peças e prefere deixar funcionando enquanto dá. Por outro lado, há no mercado muita empresa que vende peças velhas como se fossem novas e engana mesmo o cliente, pondo várias pessoas em risco", conta.
Um dos casos mais recentes foi verificado em um prédio no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de BH. "Fui chamado para um serviço em elevadores que estavam com peças trocadas havia um mês e meio. Quando vi a situação, logo avisei o síndico para procurar quem havia feito a manutenção, pois usaram só peças velhas", relatou. "Infelizmente, isso está se tornando comum. Tem muita gente saindo de firma grande e abrindo uma empresa. Trabalham de forma negligente, sem pensar nas consequências", disse o técnico, na área há 34 anos.
O Sindicato das Empresas de Elevadores de Minas Gerais (Sesciemg) confirma a prática. "O problema é sério. Há empresas pequenas negligentes, aventureiras e que não têm capacidade de executar o trabalho", afirma o presidente da entidade, Geraldo Perpétuo Moreira. Segundo ele, três fabricantes e cerca de 50 empresas estão habilitadas em BH a dar manutenção nos equipamentos. Apenas a capital tem aproximadamente 11 mil aparelhos, número que cresceu 30% nos últimos cinco anos. "O setor da construção civil está aquecido e, com a mudança na legislação, a prefeitura está exigindo elevadores para deficientes. Os fabricantes não estão dando conta da demanda", diz.
Geraldo Moreira cobra fiscalização: "Os órgãos responsáveis pela vistoria olham só a documentação e não prestam atenção à questão técnica. É uma parte crítica que precisará ser resolvida com urgência, pois o número de acidentes está aumentando". Dados do sindicato mostram que BH registra, em média, cinco acidentes por ano. Alguns são fatais, como ocorreu no ano passado, quando um técnico morreu enquanto dava manutenção em um prédio no Bairro Sion, também na Região Centro-Sul. Em 2009, um garçom ficou ferido e outro perdeu a vida depois de cair no fosso do equipamento de serviço do Hotel Othon Palace, no Centro de BH.
Fiscalização
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos informa que ano passado foram feitas 2.968 vistorias em elevadores de Belo Horizonte, mas não revela quantas multas foram aplicadas. A fiscalização é feita regularmente de forma planejada ou atendendo a pedidos. Mas, se a fiscalização não é tão eficaz, não faltam leis municipais para tratar da instalação e manutenção de elevadores: são três, mais o Código de Posturas.
De acordo a legislação, todo dono de elevador é obrigado a contratar empresa devidamente habilitada para conservação e manutenção, com registro no Crea e licenciada pela PBH. No local da instalação, além dos contratos, é preciso deixar o livro de ocorrências, onde fica registrado tudo o que se passa com o equipamento. Também é exigida a inspeção, no mínimo anual, dos aparelhos.
Conservação
Elevador antigo não é sinônimo de equipamento ruim. De acordo com o técnico em manutenção Adalberto Gomes de Castro, responsável por 60 equipamentos de 18 prédios em BH, tudo depende da conservação. "A vida útil de um cabo, por exemplo, é de no mínimo 10 anos, mas isso depende da espessura dele, do lugar em que o elevador está instalado e até do movimento do edifício. Conheço prédios que não trocam há 30 anos, mas não há qualquer risco, porque não há movimento. Mas num local como o Edifício Dantés (na Avenida Amazonas), onde os elevadores fazem cerca de 200 viagens por dia, isso não é possível", afirma.