São 11h15 e quem acordou antes das 6h para ir à aula já percebe os sinais de alerta do estômago. Apesar da fome, é preciso respirar fundo e entrar numa longa fila que dá voltas como um caracol. Chega o meio-dia, mas só depois de 45 cansativos minutos de pé, sob chuva ou sol, é que as mãos tocam o prato para servir a comida. Essa é a situação do restaurante universitário da Federal de Minas Gerais (UFMG), no câmpus Pampulha, em Belo Horizonte, onde falta infraestrutura para oferecer 6 mil refeições por dia.
A demora é resultado da sobrecarga proveniente do aumento de estudantes nos últimos anos – hoje são 10 mil a mais que em 2008 – e da implantação de um novo sistema de acesso ao restaurante. Desde a semana passada, a entrada na unidade só é permitida depois da identificação dos estudantes por meio de uma carteirinha com código de barras. O problema ainda está longe do fim. Esta semana, a UFMG confirmou que as obras de um novo restaurante universitário na Pampulha estão atrasadas. Com inauguração inicialmente prevista para este mês, o espaço ainda não tem data definida para entrar em funcionamento.
Sem uma solução à vista, resta aos estudantes paciência para driblar a fome na fila. “Meu horário de almoço é curto, pois tenho aula à tarde ou estágio. Às vezes, chego às 10h30, antes de o restaurante abrir, para guardar lugar na fila. E quando vejo que está lotado, não tenho outra opção a não ser almoçar fora do câmpus e pagar bem mais caro”, lamenta a estudante do 4º período de farmácia Laura Ciribelli Borges, de 23 anos. No 5º período de ciências biológicas, o aluno Pablo Henrique Duarte, de 22, também reclama. “Perco mais de 40 minutos na fila e acabo sem tempo até para mastigar a comida. É engolir o almoço e sair correndo para a sala de aula.”}
O único restaurante universitário do câmpus Pampulha, oficialmente conhecido como Setorial II, oferece 6 mil refeições por dia, entre café da manhã, almoço e jantar. A UFMG mantém outros três bandejões no câmpus Saúde e na Faculdade de Direito, na Região Central de BH, e em Montes Claros, no Norte de Minas, totalizando 9,2 mil refeições diárias. Estudantes carentes, assistidos pela Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), pagam R$ 0,75 pelo serviço; alunos da UFMG pagam R$ 2,50; servidores da instituição, R$ 2,85; e visitantes, R$ 7. Fora dos bandejões, os estudantes encontram refeições sem preços subsidiados na Praça de Serviços do câmpus Pampulha.
Demanda
No início do ano, o restaurante Setorial II foi modernizado, com reforma elétrica e hidráulica e novos balcões e maquinários para cozinha, para atender a crescente demanda. Este ano, a UFMG ultrapassou a marca dos 30 mil estudantes matriculados na graduação. O número é 45% superior ao de 2008, quando a universidade começou a implantar o Programa de Restruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do governo federal. Desde então, foram abertas 2,2 mil vagas de graduação, com a criação de quase 30 cursos e a expansão dos já existentes.
"O restaurante universitário tem papel essencial na permanência do estudante na universidade. A UFMG reconhece isso e tem feito todo o esforço para aumentar a capacidade de atendimento e agilizar os serviços. Sabemos do desconforto e da necessidade de melhorias no bandejão e temos trabalhado intensamente para resolver o problema”, justifica o presidente da Fump, entidade responsável pelos restaurantes universitários, Seme Gebara Neto. Segundo ele, um novo programa de informática a ser instalado nos próximos dias deve ajudar a diminuir as filas, agilizando a leitura do código de barras presente nas carteirinhas exigidas para acesso às unidades.