No Dicionário Houaiss, a definição é clara: “Confim. Substantivo masculino. Área ou local mais afastado.” O Aeroporto Internacional Tancredo Neves, conhecido como aeroporto de Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, tem feito jus ao apelido, pelo menos para passageiros que partem ou seguem para a capital mineira. No ponteiro do relógio, o terminal está cada vez mais “longe” de BH, embora não tenha mudado de endereço, a 40 quilômetros do Centro. De 2010 para cá, seja pelas avenidas Antônio Carlos/Pedro I, seja pela Cristiano Machado, o tempo da viagem rumo a Confins, nas primeiras horas da manhã, pulou em média de 35 minutos e 30 segundos para 40 minutos e 30 segundos, aumento de 14%. Os gargalos têm levado hotéis a recomendar a hóspedes que saiam com duas horas de antecedência do embarque.
O Estado de Minas refez ontem os caminhos percorridos há dois anos, em abril de 2010, da Praça Sete a Confins, passando pelos dois principais eixos de ligação entre o Centro e a Linha Verde e constatou maior demora para alcançar o terminal, mesmo sem trânsito pesado. Duas equipes do EM partiram às 7h33 da Praça Sete e se dividiram entre os corredores de trânsito (veja quadro). No trajeto da ida, o tempo até o aeroporto pela Cristiano Machado – via mais movimentada de BH, por onde trafegam 125 mil veículos/dia – foi menor (38 minutos), embora supere os 35 minutos gastos no mesmo trecho há dois anos. Pelo corredor Antônio Carlos/Pedro I – caminho habitual de 80 mil veículos a cada hora – foram 43 minutos de viagem, sete a mais em relação em 2010.
Já na volta, saindo às 9h do terminal aéreo, a Antônio Carlos/Pedro I levou vantagem sobre a Cristiano Machado. A primeira avenida manteve os 40 minutos de 2010, enquanto a outra aumentou em seis minutos o tempo do percurso, passando de 39 em 2010 para 45 este ano. A principal explicação para o atraso está nas obras dos corredores do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês), que promete melhorar o trânsito até a Copa do Mundo de 2014. A previsão é de que o sistema, inspirado no metrô, seja concluído em março de 2013.
Mas até lá, para não ter que contar com a sorte, melhor é seguir o conselho da química Maria Carolina de Medeiros, de 25 anos, que mora em Goiânia e vem com frequência a BH. “Meu marido é piloto, viaja muito para cá e me recomenda sair do Centro entre duas horas e duas horas e meia antes do horário do embarque. Nas últimas vezes, sempre agarrei no trânsito”, conta. Essa demora tem levado a Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Minas (Fhoremg) a recomendar aos clientes a saírem com pelo menos duas horas de antecedência, levando em conta a hora do embarque. “As obras da Cristiano Machado acabaram de complicar o que estava complicado. Acredito que não haverá melhora, nem com o fim das obras, por causa do aumento da frota”, afirma o presidente da entidade, Paulo César Pedrosa.
OPÇÃO? Há 10 anos percorrendo o trajeto entre o aeroporto e a capital, o taxista Raul Barbieri, de 45 anos, está otimista com as obras do BRT e, enquanto o sufoco perdura, ele tem passado apenas pelo corredor da Antônio Carlos/Pedro I. “A pista exclusiva de ônibus não foi fechada e como os táxis podem passar por ali ganhamos em agilidade”, diz.
Para o mestre em engenharia de transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Silvestre Andrade, atualmente não há como eleger uma das duas rotas como melhor, já que ambas sofrem com a restrição da capacidade por conta das obras. "O que podemos perceber é que a Cristiano Machado fica inviável no pico da tarde. Os congestionamentos se estendem por boa parte da avenida e por isso ela não é uma boa opção no fim da tarde”, diz.
O engenheiro acredita que quando as obras forem concluídas o trajeto entre o Centro da capital e o aeroporto será mais tranquilo na maior parte do dia, pois os dois corredores vão operar com grande capacidade. “É claro que nos horários de pico a situação fica complicada em toda a cidade, mas com a ampliação da Pedro I teremos uma avenida que vai se comportar da mesma forma que a Antônio Carlos se comporta hoje, com condições de dar fluidez ao tráfego. A Cristiano Machado já tem as características de um grande corredor, falta apenas concluir o BRT e algumas pequenas intervenções. Com as duas vias prontas, elas ainda vão atuar dividindo o fluxo em direção ao aeroporto", conclui o especialista. A BHTrans atribuiu o transtorno às obras e preferiu não comentar o assunto.