A fila de táxis estacionados na porta de um bar no Centro de Belo Horizonte pode parecer uma opção de transporte para frequentadores que consomem bebida alcoólica e evitam dirigirMas, em vez de receber passageiros, três taxistas de uma cooperativa desembarcam, trancam os carros e se misturam entre garçons, porteiros, operários e outros freguesesEles seguem para o fundo do bar, onde o balconista conhece a turma e é elogiado ao levar cervejas e uma porção de pernilMesmo com uniformes de uma grande cooperativa, eles bebem, riem alto e contam casos despreocupadosEm seguida, saem dirigindo seus táxisA conduta desses taxistas flagrados pelo Estado de Minas atropela duplamente a Lei Seca, não só porque é proibido dirigir depois de beber, mas porque as campanhas de trânsito orientam motoristas que vão beber a sair e voltar para casa de táxi.
Durante duas noites, nas ruas do Centro e regiões Leste, Nordeste e Noroeste de BH, o EM encontrou pelo menos uma dúzia de taxistas se aproveitando da falta de fiscalização, como a do bafômetro, para beber em bares que servem refeições a quem trabalha à noiteEles intercalam a farra com as corridas com passageirosOs encontros ocorrem com mais frequência às segundas e terças-feiras, a partir das 23hEm turmas e até sozinhos, eles bebem cerveja e cachaça, invariavelmente assumindo depois o volante de seus táxisNão recusam corridas, já que alguns foram vistos embarcando passageiros nas proximidades dos bares.
“Muita gente não respeita mesmoSe a corrida estiver fraca, esses irresponsáveis param nos bares conhecidos e ficam lá chapando (se embriagando) até dar a hora de acabar um evento, um show, ou de ir embora
A reportagem identificou pelo menos seis bares na cidade onde o movimento de taxistas consumindo álcool é intensoO mais movimentado fica na Rua Espírito Santo, entre a Avenida Amazonas e a Rua CaetésUma fila dos veículos brancos se forma em frente ao estabelecimento pequeno e apertado onde vale tudo para encontrar espaço para as garrafas de cervejaEntre os frequentadores, taxistas apoiam copos e bebidas até sobre lixeiras Bebem, conversam com prostitutas, hóspedes dos hotéis dos arredores, flanelinhas e vão embora em seus carros.
Menos de um quarteirão adiante, na Rua Caetés, entre as ruas da Bahia e Espírito Santo, os motoristas de uma cooperativa são mais discretosApesar de deixarem os carros estacionados na porta do estabelecimento, vão para os fundos do longo balcão de atendimento para tomar cervejas com privacidadeO ambiente é movimentado.
Na Região Leste os taxistas costumam consumir bebidas na escuridão da Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza Mas o maior volume de condutores que desafiam a Lei Seca naquela região se concentra num restaurante da Rua Jacuí, entre ruas José Clemente Pereira e Pio XI, no Bairro Ipiranga
O doutor em engenharia de Transportes e diretor da consultoria ImTraff, Frederico Rodrigues, se mostrou surpreso ao saber da atitude desses taxistas“É decepcionanteQuando as coisas parecem estar caminhando no Brasil, as pessoas ganhando consciência ao dirigir, um grupo toma uma atitude dessas e mina toda uma campanhaA conscientização demora, mas uma coisa dessas é rápida em destruir”, alerta.
Vítima da imprudência de um taxista, o gerente de posto de combustíveis Otávio Henrique Soares Mesquita, de 23 anos, lembra dos momentos tensos que passou“O taxista estava exalando álcool, completamente bêbadoEstávamos voltando de uma festa na madrugada e ele corria e cantava pneusPedimos para reduzirEle disse que tinha de fazer mais cinco corridas antes de entregar o carro e, se quiséssemos, tínhamos de descer no meio da rua”, contaO gerente disse que tentou denunciar a atitude“Liguei na cooperativa e eles disseram que o carro tinha sido sublocado para uma pessoa que não era da cooperativa, por isso não podiam fazer nada”, afirma