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Estado de Minas

Vai começar a caça aos taxistas bêbados em Belo Horizonte

Depois de denúncia do EM, cooperativas, BHTrans e sindicato prometem agir com rigor e cassar a permissão de motoristas que bebem durante o trabalho


postado em 20/04/2012 06:00 / atualizado em 20/04/2012 13:35

Campanha pela Lei Seca, que estimula o uso de táxis, esbarra no mau comportamento de condutores que bebem e pegam passageiros, principalmente à noite(foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Campanha pela Lei Seca, que estimula o uso de táxis, esbarra no mau comportamento de condutores que bebem e pegam passageiros, principalmente à noite (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)

Depois de uma noite na farra, revezando idas a botecos para beber e o embarque de passageiros no caminho, o taxista embriagado não resistiu ao peso do sono e dormiu em pleno ponto, com o veículo atravessado atrapalhando a fila. Quando amanheceu, a cooperativa à qual o motorista era filiado foi alertada por telefone e enviou um de seus conselheiros para avaliar a situação. “Nosso fiscal foi lá, tomou a chave do veículo do rapaz bêbado e ele foi excluído. Nossa cooperativa não tolera embriaguez ao volante”, garante o diretor comercial da BH Táxi, Ed de Souza, ao comentar a mobilização da categoria para fiscalizar e inibir os taxistas que consomem álcool durante o trabalho, conforme o Estado de Minas denunciou ontem.

Das sete grandes cooperativas que operam em Belo Horizonte, pelo menos cinco se comprometeram ontem a ampliar a fiscalização dos seus filiados para inibir o consumo de álcool em bares da cidade. O grupo compreende as empresas e as cooperativas Ligue Táxi BH, BH Táxi, Unitáxi, Coomotáxi e Coopertáxi, que juntas representam 1.565 veículos, o equivalente a 26% da frota da cidade, que é de 5.950, e 2.888 motoristas, o que também significa 26% dos 11.194 condutores registrados pela BHTrans. “Agora, a vigilância será maior ainda. Estamos pedindo aos próprios cooperados que denunciem quem bebe e pega passageiros. Além disso, nosso conselho fiscal, formado por 24 pessoas, vai para a rua flagrar quem estiver participando dessas atividades irresponsáveis”, afirma Waldir Hansen, diretor operacional da Coopertáxi.

Não haverá qualquer tolerância a partir de agora, promete o diretor comercial da Ligue Táxi BH, Robson Pereira. Segundo ele, o regimento interno será mudado para que sejam excluídos não apenas os embriagados flagrados dirigindo e pegando passageiros, mas também quem frequentar bares e ingerir álcool com o uniforme da cooperativa. “O taxista tem de fazer como as pessoas de bem e dar o exemplo. Se for beber, tem de deixar o carro em casa e não pode usar o uniforme, pois ele representa a instituição quando está com ele num bar”, afirma.

A BHTrans, que gerencia o serviço de táxis, e o Sindicato dos Taxistas (Sincavir) também afirmaram reforçar esse movimento para fiscalizar o cumprimento da Lei Seca pelos motoristas. De acordo com a diretora de Atendimento e Informação da BHTrans, Jussara Bellavinha, começaram a chegar denúncias de locais onde taxistas abusam de álcool no horário de trabalho. “Foram passadas praças e ruas em alguns bairros. Vamos checar esses locais e ampliar nossa fiscalização com cuidado para não entrar num jogo político, uma vez que todo condutor excluído abre uma vaga no mercado”, pondera. A diretora, contudo, frisa que o serviço de táxis de Belo Horizonte é confiável e que os usuários podem continuar acreditando nele. “Esses que bebem e trabalham não representam o segmento, são exceções que serão combatidas com rigor”, alerta Bellavinha.

“Somos contra esse tipo de atitude e vamos apoiar essas ações da BHTrans e das cooperativas, que têm todo interesse em afastar os maus profissionais”, afirma o presidente do Sincavir, Dirceu Efigênio. A Polícia Militar e a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informaram que as blitzes da Lei Seca têm orientação de parar todos os condutores, inclusive taxistas, e de aplicar o teste do bafômetro sempre que houver suspeita de embriaguez.

Indignação nas ruas


Taxistas e passageiros se mostraram revoltados ontem com a falta de responsabilidade dos motoristas que dirigem sob efeito de álcool. Com 25 anos de praça, o taxista Herculino Vieira Silva, de 54 anos, acha que beber ao volante não é coisa de profissional. “Quem faz isso é moleque” afirma. “A pessoa uniformizada deve zelar pela sua profissão e pela segurança do passageiro. A própria cooperativa deve ter conhecimento dos seus motoristas e puni-los rigorosamente”. Ele conta que já ouviu falar de motoristas no bar. “Tem uma turma que fica bebendo esperando passageiro. Isso é uma vergonha”, considera.

Com 72 anos, sendo 52 ao volante de um táxi, Adão Bruno se diz um dos mais antigos da capital. Sorrindo e orgulhoso de sua profissão, afirma que é “do tempo da placa de três dígitos” enquanto mostra a identificação do carro, que é a mesma desde 1965. “Bebo em casa, tranquilo. Tenho a responsabilidade de levar e buscar passageiros com segurança. Não posso colocar a vida dos outros em risco. Tudo tem sua hora”, lembra o motorista.

A aposentada Lúcia Helena Xavier, de 53 anos, critica a situação dos profissionais que bebem justamente num momento de campanhas pela Lei Seca, em que as pessoas tentam mudar hábitos e pegar táxi para não dirigir quando forem beber. “Acho isso uma falta de idoneidade. Quando peço táxi está implícito que o motorista é confiável”, considera. O servidor público Cassiano Nóbrega, de 51, classifica como absurdo  condutores se aproveitarem da pouca fiscalização para se embriagar. “A lei é igual para todos. Se é proibido beber e dirigir, eles devem ser punidos como todos”, critica.


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