A única referência visual existente sobre Tiradentes revela um “homem de olhar espantado”, aspecto que denotaria um caráter ansioso e presença de certo tique nervosoMas, conforme os historiadores, no fim da vida ele não usaria barbaAo ser preso, teve os bens sequestrados, mas deixaram que ele mantivesse na cadeia, conforme está documentado, um missal (livreto religioso) e duas navalhas, com certeza usadas para que se barbeasse.
O desconhecimento da face verdadeira do herói que, diz a história oral, teve a cabeça roubada em Ouro Preto depois do esquartejamento do corpo no Rio de Janeiro, sempre intrigou os pesquisadoresEm 1960, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais formou uma comissão para cuidar do assunto e traçar o retrato do mártir, sem chegar a uma definiçãoNa década seguinte, novo grupo se debruçou sobre o mesmo tema, chegando à conclusão de que o rosto do herói seria liso, tendo em vista a posse das navalhas no cárcere.
Autor do livro O Manto de Penélope – História, Mito e Memória da Inconfidência Mineira de 1788-9, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) João Pinto Furtado está certo de que a apropriação simbólica de Tiradentes é até mais importante do que ações de fato praticadas pelo herói“Ele plantou a semente da liberdade, era um ativista, embora entre os planos dos inconfidentes não estivessem temas como a libertação dos escravosTiradentes tinha três deles quando foi preso, e os demais inconfidentes também eram donos de muitos escravos A emancipação dos negros, por sinal, já vinha sendo feita nos Estados Unidos”, conta o professor, que apresenta em seu livro as diversas leituras feitas, ao longo do tempo, sobre a face do heróiApesar da controvérsia sobre o verdadeiro aspecto do mito, o historiador tem uma certeza: “Tiradentes ficou eternizado”.
Ele conheceu o mito
Um documento garimpado pelo Ministério Público estadual, via Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico, em edição do Minas Gerais, Diário Oficial do Estado de 19 de novembro de 1892, joga mais luz sobre a figura de TiradentesConforme relato de Severino Francisco Pacheco, então com 115 anos, ex-praça de cavalaria do Segundo Regimento de Ouro Preto, o alferes “era um homem alto, sympathico, bonito e gênio alegre”