Criminosos estão deixando o maçarico de lado e usando arsenal de guerra nos ataques a caixas eletrônicosNos últimos seis dias foram quatro investidas contra terminais fora de agências bancárias em Minas Gerais, todos com dinamites e bombas, duas só na madrugada de ontem, em Ibirité e Betim, na Grande BHA ação explosiva contra esses equipamentos está se alastrando com velocidade de rastilho de pólvora e contribuiu para um aumento de 114% dos assaltos no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2011O crescimento levou a Polícia Civil a mudar de estratégia para tentar impedir a ação de quadrilhas e buscar ajuda da Polícia Federal e do Exército, que controlam e fiscalizam o comércio de explosivosEm BH, uma rede de supermercados proibiu a reposição de dinheiro nos caixas para evitar a ação de criminosos.
Por volta da 0h30 de ontem, criminosos invadiram uma farmácia na Avenida Ítalo Bernardes, em Ibirité, e explodiram um caixa 24 horasSegundo a PM, eles não conseguiram tirar o dinheiro do equipamento, mas roubaram R$ 580 da lojaCom a explosão, parte do teto da drogaria caiu e muitos medicamentos foram destruídosDuas horas depois, em Betim, quatro homens explodiram um caixa do Bradesco, em frente a um shoppingA polícia não sabe informar a quantia roubadaO grupo fugiu em um Palio, pela BR-381, no sentido São Paulo
Veja as fotos de ataques a caixas em Minas
De acordo com Federação Brasileira de Bancos (Febraban), dos 179 mil caixas eletrônicos instalados no país, 46,5 mil estão fora de agências, quase um quarto do total
“Está havendo desvio ou facilitação para essa dinamite chegar às mãos dos marginaisQuem está municiando essas quadrilhas? De onde estão vindo esses explosivos? Ou está sendo desviado de forma ilegal de empresas ou essas empresas estão sendo vítimas de roubo”, afirmou o delegadoSegundo a polícia, grande parte das quadrilhas é formada por mineiros, mas paulistas também participam dos ataquesOs crimes aumentaram tanto que o serviço de inteligência da Polícia Civil foi acionado“Já temos nomes de criminosos”, informou
Para evitar o registro de ocorrências como furto simples, a polícia estuda mudança no seu sistemaOs casos deverão ser discriminados como furto a caixa eletrônico com emprego de explosivos“Vamos ter um mapeamento mais eficaz para traçar estratégias de combateÉ o crime da modaTeve onda de chupa-cabra, depois passaram para o sequestro-relâmpago de gerente bancárioEm seguida, houve a saidinha de bancoAgora, é o furto com explosivo de caixa eletrônico”, avaliou o delegado“Câmera de segurança não resolve mais e muitos ladrões não se importam em mostrar o rosto”, disse.
Em Minas, são várias quadrilhas e o delegado acredita não haver ligação uma com a outra“Se tiver, é um caso ou outro”, disseO modo de agir delas é diferente, mas todas atacam depois das 22h, principalmente de madrugada e nos fins de semana, segundo eleBHe lidera nesse tipo de crimeDe janeiro de 2011 até ontem foram 39 casos na capitalEm segundo lugar está Uberlândia, no Triângulo, com 17 casos, Contagem e Betim, na Grande BH, com 15 e seis crimes, respectivamente.
Medo
Comerciantes que têm caixas eletrônicos em seus estabelecimentos estão aterrorizados com a onda de ataques, segundo o delegado“Ninguém mais quer caixa eletrônico com medo de o bandido destruir tudo, como aconteceu em Ibirité”, disse Márcio Nabak.
De acordo com o Exército, explosivos e acessórios são produtos de interesse militar e, por isso, a corporação controla a fabricação, o transporte e o comércioO uso é permitido somente por pessoas habilitadasApesar do controle, no ano passado, o Exército registrou em Minas cinco roubos de cargas de explosivos do tipo espoletas, retardo, dinamite e nitrocarbonato, em Contagem, na Grande BH, Lagoa da Prata, no Centro-Oeste, e em São Tomé das Letras, no Sul de MinasEm 2010, foram três, com desvio de explosivo granulado, cordel e pólvora negra
Varejo exige aluguel para contratar vigias
A placa com a mensagem “caixa inoperante” está afixada nos 97 caixas eletrônicos distribuídos pelas 110 lojas de uma rede de supermercados em todo o estadoLonge de pane geral, as máquinas deixaram de funcionar por uma questão de segurançaOs roubos aos terminais de autoatendimento levaram os Supermercados BH a suspender a reposição de dinheiro nos equipamentos até que os bancos concordem em pagar um aluguel pelo espaçoO dinheiro será usado para a contratação de vigiasA decisão foi tomada na semana passada, quando a rede sofreu o segundo ataque com o uso de explosivos somente este anoPor causa da ofensiva aos centros de compra, a Associação Mineira de Supermercados (Amis) vai solicitar reunião com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) para cobrar a captura das quadrilhas.
“A atuação desses grupos ocorre no comércio em geral, mas eles encontraram nos supermercados um alvo factível”, afirma o superintendente da Amis, Adílson RodriguesSegundo ele, a entidade tem orientado os associados a direcionar o sistema de segurança aos caixas eletrônicos“Hápossibilidade de focalizar as câmeras nessas máquinasEstamos pedindo isso aos supermercados porque podemos contribuir mais com as investigações”, ressaltaRodrigues explica que o contrato dos bancos com supermercados varia: há lojas que cedem o espaço e outras recebem comissão sobre o pagamento de contas“Mesmo assim, a porcentagem dos supermercados é ínfima e com essa onda de crimes quem perde principalmente é a comunidade”, diz.
De acordo com a gerente administrativa da rede de supermercados, Sheilla Lima, a instalação de caixas eletrônicos feita há sete anos tem como objetivo a comodidade dos clientesMas, com os roubos, foi preciso interromper a prestação do serviçoO primeiro ocorreu em Pirapora, no Norte de Minas, em 20 de fevereiro, e o segundo ataque, na quarta-feira passada, na loja da Avenida Portugal, na PampulhaNos dois casos, os criminosos quebraram as vidraças dos estabelecimentos durante a madrugada e em minutos explodiram os equipamentos“Atualmente, os caixas funcionam em sistema de comodato (empréstimo gratuito), mas, do jeito que está fica inviávelPedimos que retirassem todo o dinheiro das máquinas”, conta.
VIGILÂNCIA
Para reativar os caixas, a rede de supermercados exige o pagamento de aluguel pelo espaço, que será revertido para contratação de vigias“É uma pena porque há caixas que ficam com mais filas até do lado de fora”, afirma Sheilla, que terá reunião hoje com representantes de um dos bancos para discutir o assunto.
A onda de ataques a caixas eletrônicos também assusta empresários do ramo de drogariasNa madrugada de domingo, bandidos explodiram um caixa eletrônico dentro de uma farmácia, em Ibirité, na Grande BHParte do teto da loja caiu e muitos medicamentos ficaram destruídosO ataque assustou o diretor da Associação de Farmácias e Drogarias em Minas Gerais (Asfad), Guilherme Macedo, que estudava instalar esses equipamentos em suas duas lojas“Pensei em instalar como atrativo, mas ficamos temerosos”, diz.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que a segurança dos caixas fora de agências é de responsabilidade dos próprios estabelecimentos comerciaisAlém disso, o seguro dos equipamentos varia conforme o contrato definido por cada instituição financeira e a questão do aluguel proposta pelos supermercados depende de cada bancoEm nota, a Febraban lamenta o ataque com explosivos e afirma que as estratégias de seguranças permitidas pela legislação a esses estabelecimentos comerciais – vigilância e dispositivos eletrônicos – é insuficiente frente aos artifícios empregados“Os bancos atuam em estreita parceria com governos, polícias (Civil, Militar e Federal) e com o Poder Judiciário, para combater os crimes e propor novos padrões de proteção”, completa.