A falta de táxis que irrita quem precisa voltar do trabalho ou retornar do lazer, sobretudo nas noites de fins de semana, pode ser medida pela baixa produtividade do setor. De acordo com a BHTrans os 5.961 veículos cadastrados no sistema de transporte realizam 60 mil viagens diárias. A média é de 12 corridas por dia, segundo a empresa de transporte e trânsito. Com o cruzamento dos dados, chega-se a 5 mil veículos trabalhando. É como se, todos os dias, 961 táxis sequer deixassem suas garagens.
Esse rendimento reduzido já foi percebido pela BHTrans. Todas as vezes que um veículo passa por revisão ou tem o taxímetro aferido, a empresa recolhe um chip com os dados desse táxi para seu banco de dados. “Isso é um fato: os taxistas de Belo Horizonte passam mais tempo parados do que trafegando. Não sabemos se nos pontos ou se presos no trânsito”, constata a diretora de Atendimento e Informação da BHTrans, Jussara Bellavinha.
Questionada se essa produtividade poderia ser um indício de que muitos permissionários usam mão de obra de auxiliares em vez de trabalhar, a diretora disse acreditar que isso pode ser indicativo, mas que será combatido com mais eficiência com a implantação do sistema biométrico. “Vamos poder saber quando um permissionário não produz o mínimo de 36 horas que o serviço requer para que a cidade seja bem atendida”, afirma.
O presidente da cooperativa Uni-Táxi, José Antônio França, diz que a média de tempo de suas corridas é de 20 minutos. Ele confirma que há muita gente que acaba ociosa, mas porque não consegue chegar ao passageiro. José Antônio defende que haja estudos mais rigorosos para saber realmente qual a necessidade de táxis da cidade. “Temos de saber qual o impacto disso. E o impacto do trânsito? Será que falta táxi ou o trânsito não deixa os companheiros trabalharem? Um estudo precisa ser feito”, cobra. Para ele, o simples aumento de carros com a licitação para 605 veículos que está para ser encerrada no dia 11 de junho não será suficiente. “Quando aumenta a frota tem de criar mais pontos. Onde serão implantados os novos pontos? No Centro? Será que cabe? Vamos reduzir as vagas e fazer mais pontos?”, questiona.
Localizador
Com uma média de tempo por corrida de 25 minutos, o diretor de administração comercial da Coomotáxi, Cristian Carlos Soares, conta que consegue administrar a produção da sua cooperativa por meio de despachos eletrônicos. Cada veículo é dotado de localizador por satélite e rádio. “Antes, a atendente tinha 40 corridas na tela e gastava 15 minutos só para chegar na última. Hoje isso é automático. O motorista que estiver mais perto já é acionado pelo sistema”, conta.
O diretor comercial da Cooper BH Táxi, Ed de Souza, confia na implantação do sistema de aberturas de corridas pela biometria – que deverá se equipado em toda a frota em três anos, segundo expectativa da BHTrans – para melhorar o serviço de táxis em Belo Horizonte. “Vai ser muito vantajoso. Vamos acabar com os proprietários de táxi que nunca trabalharam. Vai melhorar o controle de corridas e ter fiscalização maior disso daí. O problema é a carga horária. Somos uma categoria autônoma e cada um faz seu horário de trabalho”, disse.
Para o doutor em Engenharia de Transportes e diretor da consultoria ImTraff, Frederico Rodrigues, a concentração de táxis nos pontos prejudica a sua utilização nos horários de maior demanda. “Tem-se muitas filas onde a rotatividade é baixa. Os veículos esperam uma hora para fazer uma corrida. Não temos todos os táxis em operação simultaneamente”, avalia.
O presidente do Sindicato dos Taxistas (Sincavir), Dirceu Efigênio, informou que a entidade é representante de classe e não fiscaliza a atividade, por isso não comentaria os aluguéis de táxis ou a baixa produtividade, principalmente por discordarem do mínimo de 36 horas semanais de trabalho que a BHTrans deseja impor aos permissionários.
Outras capitais também não licitam.
A licitação do sistema de táxis não contempla o setor por inteiro em nenhuma das grandes capitais brasileiras. Na maior cidade do Brasil, São Paulo, não há licitações, mas sorteios de placas realizados pela prefeitura. Pelo menos 32 mil veículos circulam pela metrópole. No Rio de Janeiro, 32 mil autorizações de táxis estão ativas e o sistema também não passou por concorrência pública. O comércio de licenças era livre até o ano passado, quando a Justiça expediu liminar impedindo transferências e cobrando licitação no setor. Em Curitiba, circulam 2.250 veículos e não há processo licitatório para as concessões. A Prefeitura de Porto Alegre, por sua vez, proibiu as transferências de permissões. Das 3.925 autorizações de táxi em vigência, nenhuma foi licitada. Em Belo Horizonte, até o ano de 1995, todas as quase 6 mil concessões foram distribuídas sem licitação. Naquele ano, a BHTrans lançou o primeiro edital, para 350 vagas, das quais 288 ainda rodam hoje. Este ano, 605 licenças serão concedidas em licitação que termina em 11 de junho. Na capital mineira rodam 5.961 veículos. Cadastrados na empresa há 5.955 permissionários, que são os titulares da licença, e 5.309 auxiliares, que pagam aluguel e só podem trabalhar nos veículos em que foram cadastrados.