Não são raros os dias em que congestionamentos tomam conta do Anel Rodoviário, em Belo Horizonte. E, seguindo a tendência dos números, não é difícil perceber que a cidade está sujeita, como anteontem, a parar por muitas e muitas vezes. Somente nos três primeiros meses do ano no Anel, foram 743 acidentes, envolvendo 1.538 veículos, dos quais 883 automóveis e 375 caminhões. De acordo com o tenente Geraldo Donizete, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o maior número deles ocorre nos trevos, como os da Avenida Amazonas, da BR-040 (saída para Brasília), do Viaduto São Francisco e do Shopping Del Rey.
“Nesses locais, muitos motoristas não respeitam as regras de preferência”, diz. Já os mais graves, com a maior quantidade de vítimas, ocorrem na descida do Bairro Betânia, na Região Oeste, do km 1 ao 8, justamente no trecho responsável pelo transtorno nas ruas e avenidas da capital anteontem. “Em outros pontos, é possível jogar o fluxo para a Avenida Pedro II, Antônio Carlos ou para a pista marginal, mas nesse ponto não há por onde desviar”, diz o tenente.
Mais carros
Para piorar, a frota não para de crescer. A capital já absorveu este ano 5.389 carros, uma média de 59 a mais todos os dias – dados de janeiro a março, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Importantes corredores estão em obras – avenidas Antônio Carlos, Cristiano Machado e Via Expressa. Para cuidar de tudo isso, a BHTrans mantém nas ruas entre 90 e 100 agentes, por turno, espalhados por toda a cidade. O efetivo é de 1 mil homens, dos quais 400 da Polícia Militar, 300 da Guarda Municipal e 300 da BHTrans.
O diretor de Operação da empresa, Edson Amorim de Paula, garante que o número é suficiente. “É o equilíbrio. Num dia normal, não posso ter mais, porque teremos gente à toa. É suficiente para trabalharmos no plano (de contingência, formulado pela BHTrans)”, afirma, acrescentando que houve reforço de 150 guardas no ano passado e será aberto concurso para repor agentes da empresa responsável pelo gerenciamento do tráfego na capital.
O consultor em trânsito Osias Batista rebate as informações. “Em 1986, quando a frota era de 400 mil automóveis, o Batalhão de Trânsito tinha 1,2 mil homens e o comandante dizia que a quantidade era insuficiente. Se a frota cresceu 3, 5 vezes (a frota total em BH é de 1.442.566 veículos), para ter o mesmo padrão de 26 anos atrás, era preciso ter pelo menos 3 mil agentes”, ressalta. (Com Valquíria Lopes)
Acidentes travam a BR-356
Um dia depois do caos que deixou motoristas parados no trânsito por mais de duas horas na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, um engavetamento na quarta-feira entre quatro veículos e uma batida envolvendo outros dois deixaram o trânsito lento na BR-356, perto do acesso ao Bairro Belvedere. Condutores que trafegavam no sentido Rio/BH tiveram de ter paciência, apesar da ação de agentes da BHTrans e do Batalhão de Trânsito que, de plantão na área, liberaram rapidamente as pistas, ao contrário da terça-feira, quando carreta ficou retida no Anel Rodoviário.
E os que buscaram desvios como a Avenida Presidente Eurico Dutra, que liga o Belvedere ao bairros Sion e Mangabeiras, ficaram retidos numa longa fila dupla de quase dois quilômetros. Outro ponto crítico, que se tornou rotina, é a alça de acesso da BR-356 à MG-030, no sentido Rio/BH. Condutores imprudentes formam fila dupla e apenas uma faixa da rodovia fica liberada para quem segue direto.
O engenheiro Paulo Araújo, de 52 anos, disse que, apesar da lentidão do trânsito na altura da curva do Ponteio, sentiu-se aliviado por não ter ficado preso no engarrafamento. “Na noite da terça-feira, a situação foi de caos total. Trabalho na Vila da Serra e saio às 17h. Não tive nem como sair do prédio até as 23h. Trafegar aqui no horário de pico é um desafio”, salientou.
O carreteiro Laerte Tavares, de 49, se viu envolvido numa situação que atrapalhou ainda mais o tráfego. Em sua segunda viagem à capital, entrou na BR-356 pensando que seguia pelo Anel Rodoviário. Quando chegou ao acesso ao Belvedere, teve de retornar com o veículo de carga bitrem e o tráfego intenso precisou ser parado por um agente de trânsito. “Não vi sinalização de tráfego proibido para veículos de carga. Se tem alguma, é insuficiente. Moro em Porto Alegre e estou abismado com o caos do trânsito aqui de Belo Horizonte”.