Jornal Estado de Minas

Pedestres fazem primeiro teste da nova Savassi

No dia seguinte à reinauguração, pedestres ocupam quarteirões fechados na Praça Diogo de Vasconcelos. Arquitetos e urbanistas aprovam mudanças, mas apelam por segurança

Junia Oliveira

 

Na pausa do almoço, fonte ligada para cadenciar o merecido descanso

Na volta para casa, se o trânsito é mesmo ruim, ao menos por uns instantes a visão se distrai com as luzes e o jorro de águaOntem, um dia depois da inauguração da nova Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, o quadrilátero que tem como eixo as avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas voltou a ter uma cena típica daqueles tempos áureos, bem antes do início das obras de requalificaçãoHá muito, não se via tanta gente num dos espaços mais charmosos da cidadeTodos impulsionados pela curiosidade de ver o novo, sentir os ares de modernidade e conhecer de perto uma das intervenções que mais trouxeram insatisfação e incômodo a moradores e comerciantes da região.

Enquanto um palco era montado no quarteirão da Rua Antônio de Albuquerque, entre Cristóvão Colombo e Rua Paraíba, uma trupe circense fazia uma apresentação relâmpago na Rua Pernambuco, no quarteirão entre Avenida Getúlio Vargas e a Rua Tomé de Souza, encantando crianças e adultosNão faltou quem empunhasse celulares e câmeras fotográficas para registrar a novidadeTomando sorvete, apreciando o vaivém das pessoas ou embalado pela música que saía no fone de ouvido, não faltou gente sentada nos bancos de granito, bem perto das fontes, numa clara atitude de quem encontrou paz e sossego.

- Foto: Cristina Horta/EM/D.A Press

Na nova Savassi, muitos foram os elogios de frequentadores e moradoresOs resultados também agradaram aos profissionais da área de urbanismoA arquiteta Valéria Alves afirma que lugares como esse permitem a integração das pessoas e a apropriação do espaço público, mas pondera: “O fator segurança será fundamental para manter esse movimento que vemos hojeÉ importante saber como as autoridades vão lidar com isso, pois local com muita gente atrai marginais e, se eles tomarem conta, ninguém sairá de casa para aproveitar a Savassi”Valéria chama a atenção ainda para o tipo de material usado nos assentos – granito rústico com encosto de metal – “resistente e de fácil manutenção”


Renovação

O ar de renovação é outro ponto forte, segundo a arquiteta“É um projeto ousado, inclusive o tipo de iluminação do totem, que valoriza muito o conjunto à noite”, dizPara ela, a reinauguração não significa o fim das intervenções“É preciso, por exemplo, que comerciantes melhorem as mesas, sem disputar espaço com os pedestresA região não estará estática, mas serão mudanças mais organizadas, com a orientação de um projeto”, argumenta

A liberação das mesas nos quarteirões fechados está em análise na Prefeitura de Belo HorizonteDe acordo com a sugestão dos arquitetos responsáveis pela requalificação, mesas de madeira com suporte de ferro na cor preta, ornamentados com novas sombrinhas, tomarão conta em breve do lugar, como mostrou o Estado de Minas no fim de marçoMas o comerciante deverá respeitar as faixas de circulação de três metros de largura cada, exclusivas de quem anda a pé

 

 

Um quadrilátero em movimento

"O fator segurança será fundamental para manter esse movimento que vemos hoje. É importante saber como as autoridades vão lidar com isso" - Valéria Alves, arquiteta - Foto: Cristina Horta/EM/D.A Press A arquiteta Edwiges Leal, uma das autoras do projeto, admite que ainda há muito a ser feito, principalmente no quesito paisagismo, cujos resultados serão efetivos daqui a alguns anosUm exemplo são os ipês-roxos, que formarão um anel colorido no entorno da praça

Ou os ipês-rosados de El Salvador, donos de exuberantes cachos cor de rosa-choque, plantados na Rua PernambucoAs flores também vão povoar o cenário, assim que for implantado o sistema de segurança, incluindo as câmeras de vigilância, uma forma de evitar o furto das mudasMas, por enquanto, nada a reclamar: “Foi plenamente do jeito que imagineiEssa é a cidade do homem, não é essa coisa atropeladora, insensívelOs cidadãos vão tocar música, o placo está armado, o cenário está ficando prontoComeçamos a modificar hábitos, que é um processo lentoGostaria que fosse mais rápidoAcho que nos próximos anos vamos ter uma renovação urbana muito grande”.

O outro autor da obra, o arquiteto Eduardo Beggiato, diz que o objetivo do trabalho foi cumprido “A requalificação dos espaços urbanos tem ocupação imediata, é um sentimento de pertencimento que toma contaAgora, temos um marco urbano, que em algum momento deixou de existir na cidade”, diz“As pessoas gostam da Savassi e têm nela a referência de lazer, de trabalho, de bem-estarO projeto não era revitalizar a área, porque ela já tinha vidaÉ para requalificar”, conclui.

Insatisfação

A presidente da Associação de Lojistas da Savassi (Alsa), Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, promete cobrar da PBH o cumprimento do termo de ajustamento de conduta, assinado com o Ministério Público para que a Savassi não receba eventosOs comerciantes começaram a organizar um movimento, por causa dos shows promovidos ontem e que estão marcados hoje no calendário das comemorações da reinaguraçãoAlém de dois palcos, foram instalados nove banheiros públicos nos quarteirões fechados das ruas Antônio de Albuquerque e Pernambuco

“Nenhum lojista foi comunicadoÀs vésperas do dia das mães precisamos vender Quem virá para a Savassi com essa bagunça? Isso é um absurdo, uma falta de comprometimentoEstamos torcendo para que, com o fim das obras, a clientela volteMas percebemos que o perfil está mudando e estamos preocupados com isso”, ressalta AuxiliadoraA obra não agradou os comerciantes“Descaracterizou a Savassi totalmentePreferiríamos uma obra mais barata e menos trabalhosaIsso tudo ocorreu a que custo?”, questiona


O POVO FALA:

Você gostou das mudanças?

TEREZINHA FRANÇA, APOSENTADA: “Venho sempre à Savassi fazer compras e acompanhei a fase de obras Ficou bem bonito e alegre, mas houve prejuízo para o comércioNão sei se era necessária essa mudança, gastando todo esse dinheiro.”

Joaquim Vítor de Melo APinto, estudante: “Moro perto daqui e me lembro que a Savassi eram só umas pedras (referindo-se ao calçamento de pedra portuguesa), agora está bem mais bonito e posso passearAntes, não dava para sair de casaValeu a pena esperar.”

RUTH OLIVEIRA CRUZ, ANALISTA DE RECURSOS HUMANOS: “Trabalho na região, mas hoje (ontem) estou de folga, esperando uma pessoaA Savassi sempre foi muito bonita, mas havia um tempo que não era cuidadaValeu todos os sapatos vermelhosFicou até mais agradável esperar.”