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Estado de Minas

Pedestres fazem primeiro teste da nova Savassi

No dia seguinte à reinauguração, pedestres ocupam quarteirões fechados na Praça Diogo de Vasconcelos. Arquitetos e urbanistas aprovam mudanças, mas apelam por segurança


postado em 12/05/2012 06:00 / atualizado em 12/05/2012 07:22

Beto Magalhaes/EM/D.A Press. Beto Magalhaes/EM/D.A Press.

 

Na pausa do almoço, fonte ligada para cadenciar o merecido descanso. Na volta para casa, se o trânsito é mesmo ruim, ao menos por uns instantes a visão se distrai com as luzes e o jorro de água. Ontem, um dia depois da inauguração da nova Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, o quadrilátero que tem como eixo as avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas voltou a ter uma cena típica daqueles tempos áureos, bem antes do início das obras de requalificação. Há muito, não se via tanta gente num dos espaços mais charmosos da cidade. Todos impulsionados pela curiosidade de ver o novo, sentir os ares de modernidade e conhecer de perto uma das intervenções que mais trouxeram insatisfação e incômodo a moradores e comerciantes da região.

Enquanto um palco era montado no quarteirão da Rua Antônio de Albuquerque, entre Cristóvão Colombo e Rua Paraíba, uma trupe circense fazia uma apresentação relâmpago na Rua Pernambuco, no quarteirão entre Avenida Getúlio Vargas e a Rua Tomé de Souza, encantando crianças e adultos. Não faltou quem empunhasse celulares e câmeras fotográficas para registrar a novidade. Tomando sorvete, apreciando o vaivém das pessoas ou embalado pela música que saía no fone de ouvido, não faltou gente sentada nos bancos de granito, bem perto das fontes, numa clara atitude de quem encontrou paz e sossego.

(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)


Na nova Savassi, muitos foram os elogios de frequentadores e moradores. Os resultados também agradaram aos profissionais da área de urbanismo. A arquiteta Valéria Alves afirma que lugares como esse permitem a integração das pessoas e a apropriação do espaço público, mas pondera: “O fator segurança será fundamental para manter esse movimento que vemos hoje. É importante saber como as autoridades vão lidar com isso, pois local com muita gente atrai marginais e, se eles tomarem conta, ninguém sairá de casa para aproveitar a Savassi”. Valéria chama a atenção ainda para o tipo de material usado nos assentos – granito rústico com encosto de metal – “resistente e de fácil manutenção”.

Renovação

O ar de renovação é outro ponto forte, segundo a arquiteta. “É um projeto ousado, inclusive o tipo de iluminação do totem, que valoriza muito o conjunto à noite”, diz. Para ela, a reinauguração não significa o fim das intervenções. “É preciso, por exemplo, que comerciantes melhorem as mesas, sem disputar espaço com os pedestres. A região não estará estática, mas serão mudanças mais organizadas, com a orientação de um projeto”, argumenta.

A liberação das mesas nos quarteirões fechados está em análise na Prefeitura de Belo Horizonte. De acordo com a sugestão dos arquitetos responsáveis pela requalificação, mesas de madeira com suporte de ferro na cor preta, ornamentados com novas sombrinhas, tomarão conta em breve do lugar, como mostrou o Estado de Minas no fim de março. Mas o comerciante deverá respeitar as faixas de circulação de três metros de largura cada, exclusivas de quem anda a pé.

 

 

Um quadrilátero em movimento

"O fator segurança será fundamental para manter esse movimento que vemos hoje. É importante saber como as autoridades vão lidar com isso" - Valéria Alves, arquiteta (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
A arquiteta Edwiges Leal, uma das autoras do projeto, admite que ainda há muito a ser feito, principalmente no quesito paisagismo, cujos resultados serão efetivos daqui a alguns anos. Um exemplo são os ipês-roxos, que formarão um anel colorido no entorno da praça. Ou os ipês-rosados de El Salvador, donos de exuberantes cachos cor de rosa-choque, plantados na Rua Pernambuco. As flores também vão povoar o cenário, assim que for implantado o sistema de segurança, incluindo as câmeras de vigilância, uma forma de evitar o furto das mudas. Mas, por enquanto, nada a reclamar: “Foi plenamente do jeito que imaginei. Essa é a cidade do homem, não é essa coisa atropeladora, insensível. Os cidadãos vão tocar música, o placo está armado, o cenário está ficando pronto. Começamos a modificar hábitos, que é um processo lento. Gostaria que fosse mais rápido. Acho que nos próximos anos vamos ter uma renovação urbana muito grande”.

O outro autor da obra, o arquiteto Eduardo Beggiato, diz que o objetivo do trabalho foi cumprido. “A requalificação dos espaços urbanos tem ocupação imediata, é um sentimento de pertencimento que toma conta. Agora, temos um marco urbano, que em algum momento deixou de existir na cidade”, diz. “As pessoas gostam da Savassi e têm nela a referência de lazer, de trabalho, de bem-estar. O projeto não era revitalizar a área, porque ela já tinha vida. É para requalificar”, conclui.

Insatisfação

A presidente da Associação de Lojistas da Savassi (Alsa), Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, promete cobrar da PBH o cumprimento do termo de ajustamento de conduta, assinado com o Ministério Público para que a Savassi não receba eventos. Os comerciantes começaram a organizar um movimento, por causa dos shows promovidos ontem e que estão marcados hoje no calendário das comemorações da reinaguração. Além de dois palcos, foram instalados nove banheiros públicos nos quarteirões fechados das ruas Antônio de Albuquerque e Pernambuco.

“Nenhum lojista foi comunicado. Às vésperas do dia das mães precisamos vender. Quem virá para a Savassi com essa bagunça? Isso é um absurdo, uma falta de comprometimento. Estamos torcendo para que, com o fim das obras, a clientela volte. Mas percebemos que o perfil está mudando e estamos preocupados com isso”, ressalta Auxiliadora. A obra não agradou os comerciantes. “Descaracterizou a Savassi totalmente. Preferiríamos uma obra mais barata e menos trabalhosa. Isso tudo ocorreu a que custo?”, questiona.


O POVO FALA:

Você gostou das mudanças?

TEREZINHA FRANÇA, APOSENTADA: “Venho sempre à Savassi fazer compras e acompanhei a fase de obras. Ficou bem bonito e alegre, mas houve prejuízo para o comércio. Não sei se era necessária essa mudança, gastando todo esse dinheiro.”

Joaquim Vítor de Melo A. Pinto, estudante: “Moro perto daqui e me lembro que a Savassi eram só umas pedras (referindo-se ao calçamento de pedra portuguesa), agora está bem mais bonito e posso passear. Antes, não dava para sair de casa. Valeu a pena esperar.”

RUTH OLIVEIRA CRUZ, ANALISTA DE RECURSOS HUMANOS: “Trabalho na região, mas hoje (ontem) estou de folga, esperando uma pessoa. A Savassi sempre foi muito bonita, mas havia um tempo que não era cuidada. Valeu todos os sapatos vermelhos. Ficou até mais agradável esperar.”

 


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