Jornal Estado de Minas

Movimento na Santos Dumont despenca com fechamento de pistas para obras

Estacionamentos e restaurantes ficaram vazios. Comércio fechou mais cedo por medo de violência

Jefferson da Fonseca Coutinho
Intervenções na área vão até o fim de outubro de 2012. Em novembro, as obras na área central vão chegar à Avenida Paraná. - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press


Da Savassi para o HipercentroA lamúria do comércio só mudou de endereçoAgora está na Avenida Santos Dumont, entre as ruas da Bahia e São Paulo, a poucas quadras da Praça Sete de SetembroMovimento ali – já que as obras do transporte rápido por ônibus ainda seguem bastante tímidas –, só mesmo da polícia para apartar a pancadaria entre dois sujeitos que se estranharam e mobilizaram militares e guardas municipaisA loja em frente à confusão, às moscas: “Só assim mesmo para aparecer gente”, comenta o balconistaNo estabelecimento vizinho, Cristian Ferreira diz que o patrão não está“Saiu pra procurar serviçoParece até brincadeira, mas é verdade”, sorri, muito sem graça.

Na casa lotérica, no número 540, a gerente Cláudia Cristina Conceição Castro, de 37, está espantada com a queda da clientelaJá fez as contas e diz que a redução dos serviços beira os 70%“A gente ainda não montou nenhuma estratégia para tentar superar o momento, mas…”A administradora diz que o dono, “infelizmente”, já fala em redução do quadro de pessoal
Do lado de fora, na esquina com Rua São Paulo, retrato de um quadrante em maus bocados: “Vou dar um tiro na sua cara!”, ameaça o sujeito ensanguentado, de chinelos, detido pela polícia“Se você é homem, você vai ter que dar!”, responde o suposto agressor, que diz apenas ter se defendido.

O povo forma plateia para testemunhar o desfecho da novidade do dia“Não tem nada pra fazerFazer o quê? Ficar aqui, né!?”, diz o vendedor simpaticãoMais abaixo, no Estacionamento do Barão, dois carros reinam na quadra que, até segunda-feira, recebia média de 100 carros só durante o diaO manobrista David Henrique Cândido Ribeiro, de 21, de braços cruzados, comenta: “Pelo jeito que está, acho que vai ser difícil conseguir ficar aqui no trabalho… Mas vou esperar pra ver…”Nem o cavalete no meio da rua dá jeito de atrair a freguesia“É que ninguém tá sabendo que pode entrar na avenida para estacionar”, dizJá nas ruas paralelas – Guaicurus e Caetés –, com o redirecionamento de 160 linhas de ônibus em sete novos pontos de embarque e desembarque, o tráfego é caótico.

Insegurança

A música alta do bar da Míriam invade o passeio da Santos DumontA volta
Uma beleza: “Estou guardando o que há de bom em mim…”, roda o disco do cantor Roberto Carlos, clássico, na vitrola de ficha, atração do lugarNão funcionaO estabelecimento está quase desertoUm casal apenas, só no paparico, ao som do Rei, cervejinha e tira-gosto no balcãoAo fundo, a cozinheira descasca o alho“É para passar o tempo”, explica“Vou fazer uns temperos”Marisa Antônia Borges, de 56, moradora do Bairro Jardim Europa, na Região de Venda Nova, lamenta a falta de serviço dos últimos três dias, apesar da “música boa e dos petiscos de primeira”“É a primeira vez, em 15 anos, que vejo issoOntem e hoje a gente não vendeu nem um almoço”, reclamaAinda assim, não perde a esperança: “Tá muito ruimMas vai ficar bom, né!?”.

Marisa Antônia está assustada com sumiço de clientes do Bar da Míriam - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press

Para Juscimeire Queiroz de Miranda, de 21, durante o dia, “até que dá para segurar”Para ela, o problema maior é a noite, que sempre teve bom movimento e que, desde a interdição, está muito ruimA noite é aborrecimento de outra natureza para o técnico em informática Marcos Andre, de 23, morador do Conjunto Paulo VIO caminho do emprego para o ponto do ônibus, para ele, “depois que escurece, parece filme de terror”Marcos conta que tem evitado ao máximo passar pela Santos Dumont depois do expediente“O problema é que trabalho no meio do quarteirãoTem um trecho que tenho que encarar de qualquer jeito”, dizA muvuca continua na esquina da agressão que virou show de ignorânciaOs dois brigões ainda se encaram, desafiando a políciaCena de sessão da tarde barata.

De volta ao que interessa, outro cidadão anda de cabelo em pé com a interdição da viaRicardo dos Santos Borges, de 32, da Lanches Alomar, diz estar sem rumo com a obraHá seis anos tirando dali o sustento da família, o microempresário já marcou reunião com o dono do imóvel para tentar negociar o aluguel“Não sabia que ia ser dessa maneiraAchei que ainda haveria alguma circulação… Meu maior movimento vinha dos pontos de ônibusSumiu todo mundo”, reclamaRicardo conta que reduziu a jornada de trabalho por razões de segurança“Isso aqui tá um desertoÉ de dar medoAntes, mantinha a lanchonete aberta até as 22hHoje, tenho que fechar no máximo às 19h”Enquanto isso, na esquina do destempero, os militares dão conta de desenrolar a ocorrência tola e os curiosos caçam novo rumo.