O deslizar das rodinhas duras dos skates pelo piso vermelho riscou trilhos brancos na pedra recém-assentada. Espalhado sob cestos metálicos e passagens, o lixo atirado indiscriminadamente no chão suja bancos, canteiros, jardins e vasos de plantas ornamentais. Tinta colorida de pichações e adesivos já poluem o visual dos novos bancos, cadeiras, bancas de jornal e telefones públicos. Dez dias depois de saírem os tapumes das obras de revitalização da Praça Diogo de Vasconcelos, problemas antigos como sujeira, depredação e falta de estrutura do espaço voltaram em meio a shows, apresentações, mostras e eventos culturais que tentam reintroduzir o local à rotina da capital mineira.
Desde o dia 10 deste mês, quando as reformas nos quatro quarteirões foram inauguradas, depois de mais de um ano de obras e quase R$ 12 milhões gastos, o espaço tem sido palco de apresentações artísticas, shows de bandas e artistas de ritmos diferentes. Ontem, enquanto o quarteirão da Rua Pernambuco com Tomé de Souza tinha rock, no da Rua Antônio de Albuquerque com Rua Paraíba se ouvia o chorinho do Festival de Arte Negra (FAN). Mesmo com grandes e novas lixeiras espalhadas e acessíveis, o público continua a jogar no chão bitucas de cigarro, copos e garrafinhas de plástico, restos de alimentos, panfletos, papéis de embalagens, tampinhas de metal e saquinhos de pipoca.
No quarteirão da Rua Antônio de Albuquerque, por exemplo, a gordura dos alimentos consumidos impregnou o mármore claro dos bancos da praça, deixando rastros escuros dos alimentos escorridos. "Aqui ficou muito bonito, agradável para passear, conversar. O problema da sujeira é do brasileiro. A gente mudou a praça, mas as pessoas não mudaram sua atitude", disse a estudante Raquel Lara, de 21 anos. Contrastando com essa situação, a menos de dez metros dali, um projeto de educação ambiental para crianças por meio de oficina de bonecos recicláveis atraía a atenção dos pequenos em meio à sujeira não aproveitada que poluía a praça. "Foi minha filha que viu os bonecos coloridos e me puxou: olha aqui papai, o cavalinho. Vamos lá, me leva". Acho que só com esse tipo de atitude é que as pessoas vão pensar em conservar as coisas e não sujar%u201D, afirma o soldador Fábio Henrique Gonçalves, de 34 anos, pai da pequena Maria Eduarda do Carmo, de 3 anos.
Não há placas que proíbam que os praticantes de esportes radicais saltem e desçam de skate pelos quarteirões da Praça da Savassi. Mas o tráfego intenso das pranchas sobre rodas, contudo, mostra que o piso ali colocado não é feito para a atividade, pois os rastros das rodinhas deixaram uma trilha visível de arranhões brancos cravados no piso. O local onde isso se mostra mais evidente é o quarteirão da Rua Pernambuco com Rua Fernandes Tourinho. Por ser uma ladeira, o espaço proporciona mais velocidade aos skatistas e os rastros acompanham suas curvas entre os vasos ornamentais.
A questão divide opiniões. Para a estudante Camilla Dantas, de 19 anos, a praça tem de ter espaço para todos. "Já se andava de skate aqui antes. Por que iriam parar agora? Tinham de ter feito o piso com material que resistisse ao uso de todos", disse. O gerente de uma papelaria que fica em frente aos trilhos riscados na pedra, Carlos Eduardo Medeiros, acha que os skatistas deveriam procurar pistas próprias. "Temos gente andando, idosos, clientes. Não é lugar deles ficarem descendo e pulando. Para nós foi um prejuízo danado o fechamento para a reforma. Agora que melhorou começam a destruir tudo?", questiona.
No quarteirão da Rua Antônio de Albuquerque com Rua Alagoas, os riscos dos pichadores começam a poluir o metal dos bancos instalados nos espaços de convivência da praça. Uma banca de jornais já foi riscada com tinta cor-de-rosa. Dois telefones públicos também foram rabiscados e recobertos por adesivos esportivos. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o horário da coleta de lixo será alterado no entorno da praça para que as lojas não deixem seus sacos espalhados na porta dos estabelecimentos ou sobre os canteiros. A administração municipal não comentou sobre o problema da pichação e de as pedras não resistirem ao tráfego dos skates.